Mundo Natural

Carta Introdutória.

O que esta descrito nas páginas seguintes sob a forma de um conto é um “cenário” ou “mundo” que pode ser utilizado para jogos de RPG e/ou para ambientar romances e peças de ficção.

Suas características principais são:

- Cidades isoladas em meio a áreas selvagens extremamente perigosas.

- Magia poderosa e existente desde o principio do mundo, mas um pouco limitada em suas formas de uso.

- Um variado número de espécies inteligentes, inclusive as tradicionais especies da fantasia medieval.

- Tecnologia equivalente a da Terra moderna.

- Mistura de magia com tecnologia na confecção de artefatos.

O mundo esta apresentado sob a forma de conto introdutório. Gostaria de receber criticas e/ou sugestões.

PS: Sou doutor em físico - química, mas admito que as informações físicas contidas no inicio do texto estão meio fracas e podem estar erradas. Peço ao leitor que entenda que não se trata de texto científico e que no "mundo de fantasia" aqui descrito as regras são diferentes.

Eduardo Perini Muniz

Mundo Natural

Seminário Apresentado pela criatura conhecida como O Protetor na estranha instituição denominada Academia.

Bom dia prezados elfos, anões, humanos, dragões, pixies, trols, e outros menos numerosos.

Eu estava de passagem e o conselho diretor desta augusta instituição me chamou para apresentar a vocês um resumo introdutório da história e funcionamento do mundo em que vivemos.

Devo começar me desculpando pois várias vezes vou reafirmar o óbvio, e, certamente, muito do que eu disser já será conhecido por vocês.

Não existe explicação pela metade. Ou eu explico tudo em detalhes ou eu perco o fio da meada.

Vamos começar falando um pouco de física. E não me olhem com esta cara feia, este mundo obedece a regras bem definidas e sem entende-las não é possível entender como o mundo evoluiu.

Em nosso universo existem, basicamente, cinco forças, associadas a cinco formas de energia com, praticamente, o mesmo nome:

- Nuclear Forte.

- Nuclear Fraca.

- Eletromagnética.

- Gravitacional.

- Mágica.

Eu não vou falar sobre as forças nucleares. Elas são muito importantes para explicar como é possível a existência, mas não possuem influencia clara e direta na maioria dos fenômenos de nosso dia a dia. O que a gente vê todo dia está relacionado, principalmente, as energias eletromagnética e gravitacional.

A maioria das criaturas utiliza a energia eletromagnética obtida dos alimentos para se locomover, pensar... Aquilo que chamam de energia química e aquilo que chamam de energia térmica são, na maioria dos casos, energia eletromagnética disfarçada. Para vocês terem uma idéia, um corpo não penetra no outro por causa da repulsão eletromagnética entre eles. A maioria do que vemos, desde o movimento dos nossos músculos até o aquecimento do café no fogo tem muito a ver com a energia eletromagnética.

De certa forma possuímos algum controle sobre a energia liberada pelo processamento dos alimentos que consumimos. As plantas têm um certo controle sobre a energia eletromagnética que vem sobre a forma de luz do sol. No fim das contas, é esta energia solar que mantém a vida terrestre. Apenas umas poucas formas de vida se alimentam do calor que vem do centro da Terra (outra forma de energia eletromagnética).

A energia gravitacional é interessante. Principalmente por que aquele gnomo chamado Aeinsteine mostrou que se você esta dentro de uma caixa fechada no espaço e alguém puxa a caixa com uma dada aceleração “a” você pensa que está em um campo gravitacional com aceleração gravitacional “a”. Em outras palavras: gravidade e aceleração se misturam.

Os efeitos práticos desta descoberta serão estudados mais adiante.

- Eu sei, isto é chato. Mas agüentem um pouco mais que chegamos lá.

O mais importante para vocês, estudantes da Academia, é entender a energia mágica.

Vamos falar sobre esta energia. Em primeiro lugar, ela esta sempre presente. Como a energia eletromagnética ela vem do sol, mas também de outras fontes como alguns cristais. Esta energia pode ser controlada por qualquer ser que possua um cérebro com as estruturas apropriadas e, diferente da energia eletromagnética, muitos seres têm controle sobre esta energia tanto dentro quanto fora de seus corpos.

Suas propriedades são:

- Incentivar o crescimento e a mutação de todas as criaturas vivas.

- Transformar qualquer energia em qualquer outra forma de energia, incluindo ela própria.

Devido a primeira propriedade da magia, este mundo tem tantas criaturas vivas. Muitos sábios afirmam que em um mundo sem magia haveria vida, mas ela seria mais limitada e se uma forma de vida inteligente se desenvolvesse ela acabaria com as outras.

A segunda propriedade da magia torna possível a existência de magos, isto é, criaturas capazes de transformar alguma forma de energia em magia e vice-versa. Eu sei que muitos de vocês fazem isto instintivamente, mas aprendendo sobre o funcionamento das coisas podemos superar os limites do instinto, usando a razão para aumentar nossas capacidades.

Para controlar a magia a criatura deve possuir órgãos específicos para isto, chamaremos a estes de órgãos mágicos. Muitas criaturas neste mundo, incluindo até algumas espécies de plantas, como o senhor ali ao lado, possuem estes órgãos. Neles está uma pequena quantidade de magia, que permite “entrar em sintonia” e controlar a magia ao redor. As criaturas que possuem estes órgãos são chamadas criaturas mágicas.

Alguns predadores são capazes de absorver a magia de uma criatura e acrescentar esta magia a si próprios. Da mesma forma que utilizamos a energia guardada em nossos alimentos para nos manter.

Não, não comecem a pensar em devorar seus colegas de classe, isto aumentaria muito pouco sua magia e faria com que vocês fossem usados como alvo no estande de tiro.

Como vocês já devem ter percebido, os seres vivos têm um problema na hora de controlar a magia. Para controlar algo é necessário sentir a sua existência. Magia é invisível para os olhos, ouvidos, narizes,... Mas as criaturas capazes de fazer magia podem perceber a sua existência através dos órgãos mágicos. A sensibilidade e a eficiência destes órgãos são diferentes para cada criatura.

As criaturas mágicas não enxergam a magia como ela realmente é, quando alguma criatura controla a magia ela “sente” em que tipos de energia a magia pode ser transformada. Nenhuma criatura percebe a possibilidade de transformar magia em forças nucleares ou vice-versa. Teoricamente é possível, mas nenhum mago foi capaz de fazer isto ainda. Cada criatura tem mais facilidade de fazer um certo tipo de transformação e todas as criaturas percebem o calor como sendo distinto da energia eletromagnética e o seu corpo como diferente do mundo externo. Assim, a magia no dia a dia se faz através da manipulação de:

- Corpo.

- Eletromagnetismo.

- Calor.

- Energia Cinética.

Corpo

Por magia do corpo entende-se o uso de magia para alterar o corpo do mago e/ou de outras formas vivas. Como magia incentiva o crescimento e a mutação, ela pode ser utilizada para curar, aumentar a força e/ou a agilidade, criar deformações, retardar o envelhecimento,...

Eletromagnetismo.

Os magos percebem como eletromagnetismo somente as correntes elétricas, os imãs e algumas formas de radiação. Quem controla esta energia pode criar luz visível, raios elétricos, imantar um pedaço de metal, ... Esta é a forma mais difícil de magia, uma vez que é necessário muito esforço para gerar até mesmo pequenas correntes elétricas, mas não há limite para este poder. Existem boatos de que alguns magos mais experientes nesta área podem até produzir formas de radiação como infravermelho (calor) e ultravioleta.

Calor

Aqui não é necessária muita explicação, a habilidade de controlar o calor, aquecendo ou esfriando as coisas é uma das mais comuns. Muitas criaturas usam este tipo de controle para tostar ou congelar seus inimigos. Sabe-se de criaturas que sobrevivem em temperaturas muito altas ou muito baixas utilizando isto.

Em teoria, um mago especializado em calor pode aprender a lidar com eletromagnetismo, e vice-versa. Ninguém conseguiu ainda.

Energia Cinética.

Quem possui esta habilidade pode flutuar no ar, parar um projétil em pleno vôo, lançar objetos contra seus inimigos,... Este poder é o segundo mais comum e é muito útil no dia a dia.

Aqui incluímos também a gravitação, pois, como Aeinsteine mostrou, impedir um corpo de cair é a mesma coisa que impedir o corpo de acelerar.

Um detalhe é que não importa o que deu origem ao movimento do corpo, aqueles que possuem o controle sobre a energia cinética podem aumentar ou reduzir a velocidade de qualquer coisa.

Limitações:

Toda criatura viva neste mundo (e alguns mortos) tem o controle absoluto sobre a magia próxima a seu corpo. Mesmo criaturas não mágicas possuem este controle. Não é possível, queimar diretamente a pele de um oponente ou vaporizar seu sangue. Um mago deve ser criativo, aquecendo o ar perto da pele do oponente, ou lançando uma pedra na sua cabeça, por exemplo.

Aqui acaba o primeiro dia deste seminário. Vocês não achavam que eu ia ficar aqui falando o dia inteiro, não?

Bem vindos ao segundo dia do grande seminário sobre “como este mundo funciona” (grande pausa dramática).

História do Mundo

Magia incentiva o crescimento e a mutação. O problema é que ela incentiva demais a mutação. Seres vivos que possuem ou controlam muita magia vão ter filhos deformados, ou inviáveis. Calma, isto não quer dizer que magos não possam ter filhos relativamente saudáveis, mas vai demorar mais do que o usual.

Eu sei que os magos mais poderosos entre vocês vão usar magia no seu próprio corpo para aumentar seu tempo de vida. Eu sei que até mesmo aqueles que não dominam magia do corpo vão acabar aprendendo a fazer este truque devido ao controle que todo mundo tem sobre a magia perto do seu corpo. Vocês não vão viver tanto quanto aqueles que dominam magia do corpo, mas vão viver mais que outros de sua raça.

Não deixem isto subir a sua cabeça, pois enquanto um humano não mágico vai ter cerca de três ou quatro filhos durante sua vida de cerca de setenta anos e um destes pode ser um mago, um mago poderoso terá muita sorte se conseguir três filhos em seus trezentos anos de vida e é quase impossível que um deles tenha poder mágico.

Assim, muitas espécies são, na realidade, compostas por dois tipos distintos de criaturas. As mágicas e as não mágicas. Criaturas mágicas tendem a viver mais e a sobreviver a ataques de predadores, mas estas criaturas terão menos filhos. Criaturas não mágicas irão se reproduzir mais rápido, mas, em geral, terão vidas mais curtas.

Vou dar um exemplo:

Suponha que me uma manada de alces um deles tenha o poder de utilizar magia para fortalecer os seus músculos. Com o tempo este alce irá possuir uma musculatura muito melhor que a dos outros, ele certamente ira conquistar mais fêmeas. Mas, este alce vai produzir filhotes muito mais devagar que um alce não mágico. Uma boa parte das fêmeas fertilizadas por ele irá abortar naturalmente os filhotes deformados e daqueles que sobreviverem poucos vão ser completamente viáveis. No entanto, como ele vai possuir mais fêmeas e viver mais o alce mágico vai acabar produzindo o mesmo número de filhotes que os outros alces. O que acontece é que enquanto um alce normal vai ter um tempo de vida médio de, digamos, dez anos e produzir 10 filhotes que sobrevivam aos predadores, o alce mágico vai produzir os mesmos 10 filhotes em seus 15 anos de vida.

Entenderam?

Agora vamos tratar das conseqüências de outra propriedade da magia:

A magia também estimula o crescimento.

Nosso mundo é altamente mágico assim, apesar de no inicio haverem apenas algumas poucas formas de vida, logo o alto índice de mutação fez com que um número imenso de espécies surgisse.

Uma população de predadores deve ser menos numerosa que aquela das suas presas, e um predador mágico que possua uma longa vida pode se dar ao luxo de se reproduzir devagar. Assim, este mundo foi logo ocupado por monstros gigantes e poderosos, entre eles os dinossauros, mas quanto mais mágico o predador mais raro ele é e maior seu território.

Inteligência é uma coisa interessante, ela só se desenvolve se há realmente muita necessidade. Neste mundo a magia favorece a existência de criaturas inteligentes e em um lugar tão perigoso certamente há grande necessidade. A evolução aconteceu rápida e uma raça de dinossauros de médio porte (para a época) adquiriu inteligência e começou uma civilização. Estes dinossauros logo conquistaram grandes territórios e se espalharam pelo mundo. Eles são os antepassados dos dragões deste mundo.

Bom, no auge da era dos grandes monstros, um meteoro acertou o planeta. O impacto fez com que os continentes mudassem, adquirindo uma forma parecida com a atual.

Alem dos meses sem sol, dos abalos sísmicos e outras catástrofes o meteoro também estava impregnado de magia o que aumentou ainda mais a quantidade já existente. De repente as criaturas mágicas se descobriram mais fortes, e começaram a ter vidas ainda mais longas, mas a reprodução destas criaturas tornou-se quase impossível. Todos os dinossauros não mágicos morreram devido às catástrofes e os outros passaram a se reproduzir muito devagar. Durante alguns milênios o mundo se tornou um lugar mais seguro para as criaturas pequenas.

Para completar o desastre, alguns mamíferos pequenos se proliferaram aproveitando a ausência de predadores. Muitos destes mamíferos comiam ovos o que complicou em muito a vida dos dinossauros sobreviventes.

Os dragões, que não eram tão mágicos, tinham inteligência suficiente para saber o que estava acontecendo e se adaptar, além de ser eram capazes de criar bons abrigos para os seus ovos sofreram um pouco menos que os demais dinossauros. Mas ainda assim faltava caça, e a taxa de reprodução caiu. Os dragões voltaram a se espalhar pelo mundo, mas os mamíferos tiveram sua chance e a aproveitaram.

Humanos, elfos, anões, halflings, gnomos, ... surgiram.

A história dos chamados “povos civilizados” começou.

Não temos registros claros dos primeiros encontros entre humanos e elfos. No entanto, supõe-se que estes encontros não foram muito pacíficos e há quem diga que a primeira cidade elfica possuía escravos humanos que, depois, se rebelaram.

O fato é que, apesar dos problemas, algumas comunidades mistas se estabeleceram. A cooperação era muito benéfica para ambas as raças uma vez que os elfos são ágeis e seu ambiente natural é o topo das árvores enquanto os homens são mais fortes e se desenvolvem bem nas savanas. Lanceiros humanos apoiados por arqueiros elfos formam um excelente grupo de caça e/ou de guerra e não demorou para descobrirem que uma comunidade com dois líderes, um comandando os elfos e o outro os humanos era possível.

Claro, como vocês sabem poucas sociedades tão cooperativas realmente surgiram. O que acontece freqüentemente é que tão logo os humanos tomam uma área descampada, ou com pouca vegetação, a população humana cresce rapidamente e passa a negociar com os elfos da floresta e os anões das montanhas. Muitos governantes humanos consideram elfos e anões como recursos naturais de seus domínios.

No inicio, as coisas se organizaram mais ou menos assim:

Em troca do excedente de pão e carne produzido pelos humanos, os elfos forneciam remédios, cogumelos, vinho e tudo que pode ser obtido das florestas. Os anões sempre detestaram a agricultura e a pecuária e logo aprenderam que era muito prático trocar os minérios e rochas que eles escavavam ao fazer suas moradas por comida humana. Na realidade, depois que os humanos descobriram a cevada, passou a ser difícil encontrar um agrupamento anão longe de uma cidade humana.

Houveram guerras entre as três espécies, mas atacar os humanos em seus campos, os anões em suas montanhas ou os elfos em suas florestas é tão complicado para as outras raças que, simplesmente, não vale a pena. E o comercio entre estas espécies também é muito natural. Existe algo de semelhante no modo de pensar de elfos, humanos e anões: o prestígio social nas comunidades destas espécies não é baseado somente em força física. Carisma, conhecimento e outras qualidades menos “físicas” também são reconhecidas.

Aparentemente, não é assim com os orks, homens lagarto e outras espécies consideradas “bestiais”. Nestas espécies, o líder é sempre o mais forte.

Enfim, a forma de pensar dos homens, elfos, anões e outros permite que eles sejam capazes de entender naturalmente o conceito de comércio. Um homem e um elfo podem se respeitar mesmo que um seja mais forte e o outro mais ágil, eles podem conversar e negociar um valor justo de troca para mercadorias. Um ork tem uma tendência natural a tomar aquilo que ele pode e se você tentar trocar algo com ele, isto será considerado uma fraqueza e o orc vai pensar que pode tomar o que você oferece.

Claro, existem exceções, mas esta é a psicologia básica destas espécies.

E por que eu estou falando somente de humanos, anões, elfos e orks? Por que estas são as espécies inteligentes mais numerosas. Podemos ter pequenas vilas de gnomos ou halflings aqui e ali, e não posso negar que algumas destas criaturas interferiram e muito na história, mas as leis, a cultura e a forma como o poder é distribuído em uma região dependem, principalmente, do que as raças mais numerosas fazem.

Na realidade, como não quero ficar falando aqui por um mês, vou tentar me restringir às grandes civilizações humanas e sua relação com as outras espécies. Sei que tomar as coisas do ponto de vista dos humanos pode ofender alguns aqui da platéia, mas faz parte da minha natureza conhecer os humanos melhor e é com a história deles que me identifico.

Mas não hoje. Cheega ... amanhã eu continuo.

Terceira palestra. História humana.

Bem vindos de volta.

Ontem eu falei rapidamente do principio das espécies e das civilizações. Hoje vamos falar um pouco sobre a história destas civilizações.

Assim, vamos a um rápido resumo da história sob o ponto de vista humano. Vou também me restringir o máximo possível à história do Mediterrâneo, Oriente Médio e norte da África, pois é necessário explicar como viemos a ter a tecnologia atual e esta região é importante nisto.

Entre os humanos, tudo começou com três civilizações, minha amada Atlântida, o Egito e a Suméria. Os elfos falam, e eu acredito, que a primeira cidade foi feita por eles em algum lugar aqui do norte da África e que Egito e Atlântida foram fundados por escravos humanos que escaparam desta cidade.

De qualquer jeito, Atlântida é o nome de uma cidade, embora não fosse a única cidade desta civilização, já o que chamamos de civilização egípcia nasceu das cidades de Abdos e Menfis, enquanto que Uruk, Ur, Nippur e outras eram cidades que podemos chamar de sumérias. Devo lembrar que todas estas cidades sempre foram muito independentes, algumas chegaram a ser dominadas por magos poderosos, como aconteceu com Ur durante a construção do maldito Zigurate de Babel, mas em geral os líderes eram simplesmente pessoas habilidosas capazes de convencer a maioria da população a obedecer às suas ordens. Magos poderosos sempre possuíram grande influencia na sociedade humana, mas o fato de que qualquer um pode ter um mago poderoso como filho e a existência de muitos magos menos poderosos sempre manteve as coisas equilibradas.

Voltando ao desenvolvimento da civilização: não demorou muito para anões das regiões montanhosas do Egito e da Mesopotâmia começarem a trocar objetos por comida. Quando os anões descobriram os metais eles encontraram uma grande solução para um antigo problema de sua espécie: anões são ótimos artesãos, mas eles gostam de viver em cavernas o que limita sua habilidade para a agricultura. Com os humanos fornecendo comida em troca de metais, os assentamentos anões cresceram e suas primeiras cidades surgiram.

Não vou detalhar a história que se seguiu. Houve a queda de Atlândida e o surgimento das civilizações da América. Nem quinhentos anos depois da primeira cidade na mesopotâmia já havia cidades na Índia (Mohenjo-Daro e Harapa), havia cidades na China (Zhengzou e Anyang), ...

Houveram várias civilizações, Os Orks Assirios, Os humanos cruéis Hititas, os estranhos humanos Judeus, os elfos de Creta, os humanos gregos, ...

Um único imperador da Antigüidade me chama a atenção. Dario da Pérsia. Ele resolveu o problema do isolamento das cidades em meio a regiões infestadas de monstros colocando postos militares igualmente espaçados ao longo das ruas imperiais. Ele também foi o primeiro imperador humano a criar regras protegendo elfos e anões em terras humanas e um dos primeiros a entender que é mais sábio negociar com elfos e anões do que caçar elfos nas florestas e anões nas montanhas.

Ok, vou resistir a tentação de contar os grandes feitos da Antigüidade. Vamos somente dizer que devemos muito a varias destas civilizações, especialmente aos gregos que foram os primeiros a criar explicações não-religiosas para a ciência e a magia.

Droga, eu não posso deixar de falar sobre Alexandre. Ele utilizou as idéias de Dario e as aperfeiçoou criando um império no qual os líderes elfos e anões eram respeitados. Ele foi o primeiro a contar com tropas regulares destas duas raças em seus exércitos. Ele também fundou Alexandria.

Foi na época da dissolução do império de Alexandre, por volta de 320 Ac no calendário cristão que um grupo de pensadores vindos de Alexandria e Biblos tentou estabelecer uma academia na cidade de Cartago. Eles foram rejeitados devido a seu pouco apego às religiões e subiram o rio Douga até este lago aqui. Chegando no grande lago eles encontraram esta ilha na qual havia um pequeno agrupamento de anões e foram bem recebidos.

Alguém, talvez mesmo o “rei” anão que mandava aqui propôs que eles trocassem conhecimentos. Não se sabe como as coisas se desenvolveram, mas um século depois, quando eu passei por aqui junto com os colonos que formaram a cidade de Nova Alexandria ao sul do lago, já encontrei a Academia formada e funcionando com a idéia de que qualquer um que quisesse estudar ali deveria trazer ou um livro valioso ou um novo conhecimento. Mais tarde a instituição passou a aceitar dinheiro e a treinar magos poderosos em troca do conhecimento que estes magos trariam para o lugar depois de formados.

Mas vamos parar de falar na Antigüidade.

O fato é que uma cidade altamente influenciada pela cultura grega surgiu na Itália. Roma era cercada por uma civilização elfica altamente avançada, os Etruscos e estes foram os primeiros a ser dominados pelo poder emergente. Mas os romanos não eram estúpidos, eles estabeleceram que quaisquer crimes cometidos contra elfos ou anões dentro das cidades romanas seriam punidos por um tribunal constituído por membros da espécie da vítima.

Eles enviaram estudantes para a Academia e estes estudantes, olhando anotações feitas por dragões que haviam sobrevivido ao meteoro, descobriram que feitiços podiam ser guardados em cristais. Estes estudantes transformaram este conhecimento em uma nova técnica que permitia criar escudos e espadas mais difíceis de quebrar (chamados de mágicos). Levaram esta técnica para Roma e, bem, em poucos séculos os romanos dominavam toda a região do mediterrâneo.

O interessante é que foi na época da expansão de Roma que um grupo de refugiados, elfos, anões, humanos, e alguns halflings e gnomos fizeram um acordo com o dragão da “Ilha do Dragão”, aqui no lago da Academia, e se estabeleceram lá. Os romanos nunca dominaram esta ilha.

A Academia prosperou durante o período romano, especialmente depois da destruição de Cartago.

Bom, vamos acelerar esta narrativa.

O cristianismo surgiu, os romanos foram destruídos devido a grandes invasões de Orks, dinossauros e humanos “bárbaros”, mas a maioria das cidades elficas e povoados anões sobreviveu bem. Algumas poucas cidades romanas também sobreviveram, embora muito alteradas pelos ataques e miscigenação.

Veio o período chamado de idade média, no qual entre outras coisas, os primeiros grandes monstros voltaram a Europa. Por sorte a técnica de trabalhar feitiços em cristais e acrescentar estes cristais a armaduras estava bem desenvolvida, mas, mesmo assim, muitas cidades desapareceram.

Por esta época aconteceu a expansão da religião islâmica e várias cidades do norte da Africa e da Ásia se converteram. Mas isto não foi muito longe devido ao isolamento e independência das cidades da época.

As invasões dos orks mongóis também foram contidas, principalmente, pelos monstros que abundavam na eurásia.

Alem da volta dos grandes monstros, os mares também estavam ficando mais perigosos e a navegação quase impossível. A civilização européia teria desaparecido se não fosse alguns teóricos criarem um novo tipo de magia.

Até o final da idade média a magia era feita, principalmente, através de fórmulas decoradas. Os chamados feitiços. Alguns sábios da Europa, norte da África e China tinham teorias razoavelmente boas que permitiam criar novos feitiços de vez em quando, mas somente uns poucos conseguiam isto e depois de muitos anos de estudo.

De repente, um grupo de sábios italianos, dos quais o mais famoso foi o humano Galileu, descobre uma teoria simples que permite unificar o estudo da magia com aquele da engenharia e também entender como criar, facilmente, novos feitiços. Isto revolucionou a magia européia. Ainda por cima, foi por esta época que a pólvora chegou a Europa e que a primeira máquina de impressão foi descoberta. Bem que dizem que a necessidade faz o sapo pular. A combinação destas novidades permitiu que a população européia (incluindo não humanos e seus reinos) crescesse e que os primeiros navios capazes de sobreviver às criaturas do oceano aberto fossem desenvolvidos.

Com a simplificação e melhoria das fórmulas pelo humano Newton, que também escreveu tudo em fórmulas matemáticas simples, tanto a magia quanto a ciência deram um grande salto qualitativo.

Assim, o mundo entrou no vigésimo século da era cristã com os navios europeus navegando por todas as partes, novas colônias sendo estabelecidas na América e rotas comerciais ligando o mundo todo.

O sucesso das colônias européias na América foi limitado, com o estabelecimento de umas poucas cidades-estado na área costeira e estas logo se tornaram independentes das cidades que lhes deram origem. Tudo bem que um grupo de espanhóis conseguiu destruir o império dos necromantes Astecas, mas isto ocorreu principalmente por que as tribos vizinhas estavam apenas esperando uma oportunidade para fazer o serviço.

Houve também um pouco de encrenca dentro da própria Europa, com aquele mago louco chamado Hitler tentando dominar um grande número de cidades, ainda bem que ele foi detido logo.

Por fim tivemos aquele problema sério e ainda não resolvido aqui no Egito.

Bom, não tem jeito eu vou ter que falar em necromancia.

Eu disse que magia incentiva a mutação e o crescimento de todas as formas de vida. Talvez fosse melhor falar que magia estimula todos os tecidos orgânicos. É possível viver só de magia e algumas formas de vida fazem isto. O problema é quando por algum motivo um corpo morto é possuído por uma grande quantidade de magia, talvez até uma criatura feita de magia. O resultado é um corpo altamente danificado que precisa de mais e mais magia para se manter funcionando. A magia ambiente consegue manter a criatura por algum tempo, mas para continuar se movendo por mais que alguns dias a criatura tem que roubar a magia de algum outro ser.

O que acontece com a vitima, com a criatura que teve sua magia roubada por um morto-vivo depende da criatura que teve toda, ou parte de sua magia roubada e de como o morto-vivo roubou a magia. Em geral a vitima simplesmente morre, em casos raros ela retorna como outro morto-vivo.

E é possível controlar morto-vivos? Muito pouco.

Os Astecas simplesmente sacrificavam a vitima a seus deuses e usavam o corpo como um autômato entupindo ele de jóias mágicas, no fim das contas o que eles tinham eram golens de carne. Mais eficientes que alguns dos golens comuns pois retinham um pouco do uso do cérebro pré-existente (ainda não sei como eles faziam para o cérebro não apodrecer). Mas nossos construtos modernos são mais fortes e mais inteligentes que isso e feitos completamente de metal, sem sacrifícios humanos.

Hitler era doido, ele tentou coisas completamente absurdas e sobre as quais prefiro não falar. No fim das contas ele só conseguiu algo por causa de seus eficientes golens mecânicos.

E nosso vizinho? A criatura chamada Faraoh? Este é mais sério.

Faraoh é uma criatura amaldiçoada, um sacerdote egípcio que se envolveu em experimentos em que se injetava grandes quantidades de magia em corpos mortos. Ele queria reviver sua amada mas falhou completamente. No fim trancaram ele e a coisa que ele produziu em sua tumba e os homens-gato foram incumbidos da tarefa de impedir que alguém entrasse lá.

Infelizmente, os homens-gato não se converteram ao islamismo e foram caçados até quase a extinção pelos mulçumanos egípcios, isto permitiu que caçadores de tesouro entrassem na tumba e ... Bom, Faraoh aparentemente tem algum controle sobre o que restou de suas vitimas, o norte do Egito esta um caos.

Mas vamos voltar a outros assuntos mais agradáveis.

A cerca de três séculos atrás eu estava preocupado com o grande número de ataques de Orks aqui no norte da África. Para que eles possuíssem força suficiente para atravessar o deserto eles deviam estar ficando realmente numerosos. Qual não foi minha surpresa quando descobri que a razão era que os europeus estavam tomando escravos negros para trabalhar em suas colônias pelo mundo afora? Ao reduzir o número de pessoas no sul da África os europeus estavam dando aos Orks espaço livre para crescer e pior, eles estavam até entregando armas aos Orks em troca de escravos. Mesmo sabendo que se os Orks sentissem qualquer fraqueza nos comerciantes eles não pensavam duas vezes antes de atacar e ficar com as armas e os escravos (fazer comércio com os Orks é perigoso). Bom, de qualquer jeito, algumas rebeliões de escravos em cidades bem escolhidas resolveram o problema, mas os Orks tiveram sua chance e se tornaram este eterno incomodo a todos nós.

E aqui estamos no mundo moderno, computadores, carros, mortos vivos no Egito, golens bem avançados, rádio, internet, satélites, Orks com armas de fogo, monstros por todos os lados, ...

Só para terminar, vocês devem saber que não foram somente os homens gato que sofreram com a intolerância religiosa. Havia uma cidade aqui ao redor da Academia, esta cidade se formou justamente devido a presença deste centro de saber e seus estudantes, mas quando a maior parte da população e alguns alunos haviam se convertido a religião cristã a maioria dos professores ainda seguia seus deuses pagãos. Afinal, nossos professores vivem muito e velhos hábitos não morrem fácil. Após um período de estranhamento um “bispo” cristão decretou que os “bruxos pagãos deviam se converter ou morrer”. Bom, os professores da Academia, alguns dos quais cristãos desde o inicio do cristianismo, foram obrigados a se defender e acabaram destruindo toda a cidade ao redor.

É interessante notar que logo após este incidente a Academia passou a ministrar o “Curso para Mercenários” um curso que tem por objetivo formar mercenários de elite sem nenhuma afiliação religiosa. O número de vezes que estes mercenários escolhidos “aleatoriamente” foram vistos lutando contra fanáticos religiosos me faz pensar se a escolha dos estudantes é tão aleatória quanto se diz.

Bom, é isso aí. Aqui temos um resumo da história e até uma pequena aula de necromancia. A única coisa que eu ainda não expliquei direito é o uso dos cristais.

Quarta Palestra – Uso de cristais em tempos modernos.

Aqui estamos nós no século vinte e um da era cristã. Temos carros, aviões, ... Mas a tecnologia mais útil e mais utilizada ainda são os cristais mágicos desenvolvidos pelos romanos.

Basicamente, os romanos sabiam criar cristais que transformariam magia em energia cinética quando a espada em que eles estavam fosse pressionada em certo lugar pela mão do usuário, eles sabiam criar cristais que transformariam a energia cinética de qualquer flecha que se aproximasse em magia, reduzindo a velocidade da flecha e eles sabiam criar cristais capazes de transformar calor em magia ou magia em calor, controlando a temperatura ao redor do usuário. Mas, na realidade, eles não sabiam o que estavam fazendo, só que funcionava.

Na idade média as técnicas de uso de cristais foram melhoradas e no renascimento tudo mudou.

Quando descobriram que a magia na realidade funciona pela transformação de uma forma de energia em outra a ciência descobriu que cristais podem ser “programados” para fazer certas transformações.

Os cristais têm limites. Em primeiro lugar, eles se “desprogramam” com o tempo. Isto é, se você quiser que seu cristal continue funcionando bem você deve lembrar que após um certo número de vezes em que você o utilize você deve pagar um mago para fortalecer o feitiço. Em segundo lugar, cada cristal pode conter apenas um comando. Alguma coisa tipo, quando a temperatura chegar a cem graus Celsius comece a transformar calor em magia. Não é possível ter um cristal para reduzir a temperatura e parar objetos que se aproximem muito rápido. Um cristal para cada coisa.

Alguma pergunta?

Ah, quem sou eu? Me chamam de protetor. Na realidade, protetor dos humanos. Vamos só dizer que eu fui humano um dia em minha amada Atlântida. Eu sou um exemplo “vivo” do que a magia neste mundo é capaz. Eu sei que agora que vocês ouviram um resumo da teoria vocês devem estar pensando: Só isso? Bom, tentem descobrir, em seus estudos, como é que uma criatura imortal como eu é possível. Considerem um pequeno desafio.

Única pista: Não sou humano ou morto vivo.

Bom, eu descrevi o mundo, agora vivam nele.

Eduardo Perini Muniz
Enviado por Eduardo Perini Muniz em 08/12/2006
Código do texto: T313060