Cianomir

Nota do autor: O texto abaixo é uma obra de ficção e as opiniões dos personagens não são as mesmas do autor.

A história se passa em um mundo semelhante a Terra em termos de geografia e, dentro do possível, em termos de história, mas em que a magia funciona com algumas restrições. Como conseqüência, existem criaturas mágicas com todas as formas, algumas das quais parecem saídas dos pesadelos humanos.

Denominei tal cenário de Mundo Natural pois é a natureza que manda, não o homem, mas creio que um entendimento completo do ambiente não é necessário para entender a principal mensagem do conto abaixo.

Cianomir

Relatório de Pompous Maximilians, governador da rica província do Egito, enviado à academia imperial de Roma.

O que é um monstro? Como se define um?

Muitos, especialmente aqueles que se dizem cristãos diriam que é simples. Toda criatura que comete atos monstruosos, que fere ou aleija criaturas de uma espécie pensante apenas por prazer é um monstro.

Mas e quando a violência é motivada por outras causas? Quando é para deixar uma mensagem, por vingança, motivos econômicos ou qualquer das outras razões da guerra?

Existe violência justificável?

De acordo com os cristãos o mundo se divide em bons e maus a ser julgados por seus atos, eu digo que, como em muitas outras coisas, esta religião é simplista em sua filosofia com sua clara divisão entre bem e mal.

Alguém disse que se você matar um homem você é um assassino, se matar milhares e chamar isto de ato de guerra é um herói. Isto também se aplica a monstros?

Para ilustrar meu ponto, segue um relatório enviado por Valerus Ilustratus, centurião da XXII centúria. Os assim chamados caçadores de monstros.

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À Pompous Maximilians, governador da província do Egito.

Neste dia 15 de fevereiro do ano de 1200 desde a fundação de Roma, eu, Valerus Ilustratus, centurião responsável pela XXII Centúria do Augusto Império Romano escrevo este relatório para reivindicar inteira responsabilidade pela minha falha.

Nossa centúria é chamada de caça – monstros e temos orgulho disto. Entre meus homens há homens-gato do Egito, Elfos da Itália, Anões da Germânia e, logicamente, bons legionários romanos humanos.

Tenho orgulho de dizer que a maioria de meus homens tem habilidades mágicas. Somos a melhor centúria do império e o imperador reconhece este fato ao nos agraciar com o melhor equipamento mágico disponível. Nossos escudos são os melhores escudos longos com resistência aumentada por cristais mágicos, nossas armas são magicamente mais afiadas e só aceitamos os melhores soldados do império.

Então, por que falhamos?

Os fatos devem falar por si.

Deixamos Tebas no dia vinte de dezembro do ano passado, pouco depois da Saturnalia.

Nossas ordens eram simples: Ir até a cidade de Heron, nas margens do grande lago do norte da África para descobrir por que nenhum navio, caravana ou mensageiro retornou desta cidade nos últimos três meses. Descubra a fonte do problema e a elimine.

Havíamos cruzado o perigoso mar Mediterrâneo vindo de nossa base em Roma somente para o propósito desta missão.

Devo acrescentar que meus homens fizeram os devidos sacrifícios para Júpiter e Marte naquele mês e que participamos das festividades em honra a Saturno (incluindo as de natureza sexual) apesar do deus da agricultura ter pouca estima entre nós, soldados.

Assim, deixamos Tebas nos sentindo bem e com todas as obrigações religiosas devidamente cumpridas. De fato, os deuses nos sorriram na primeira parte da viagem, a medida que seguíamos a estrada imperial próximo a costa o tempo se manteve claro e com uma brisa fresca vinda do Mediterrâneo refrescando nossa marcha. Nos mantivemos próximos à praia até chegarmos as colinas que delimitam a fronteira oeste do Egito. Acompanhamos as colinas por cerca de dez estadios nos distanciando do mar e entrando mais para dentro do deserto até chegarmos na passagem que permite cruzar as colinas com relativa facilidade.

Enviamos sinais de luz para a guarnição no forte que existe no topo de uma das colinas que circunda a passagem e não obtivemos resposta. Assim, enviei batedores das raças de elfos e homens – gato para ver o que havia acontecido.

Como já era o fim da tarde ordenei que os legionários montassem acampamento enquanto esperávamos os batedores. Ele foi montado da forma padrão, com a diferença de que devido ao pequeno número de árvores nas proximidades escavamos apenas as trincheiras ao redor do campo, sem paliçada. Isto me preocupou e ordenei aos homens que utilizassem a terra da trincheira para fazer um pequeno muro ao redor do campo.

Meus homens são bons e terminaram o serviço antes do retorno dos batedores.

Ao retornar os batedores reportaram que, como eu esperava, o forte havia sido atacado e os homens devorados por um grande grupo de bestas. O massacre havia sido recente e algumas das criaturas ainda estavam na região. As criaturas que eles tinham visto eram lagartos gigantes comuns nas florestas do norte da África. Estes lagartos terríveis andam semi – eretos, apoiados sobre as patas traseiras e utilizando a longa cauda para o equilíbrio. São monstros com o tamanho aproximado de um cavalo e capazes de grandes pulos. Já havia lutado com tais criaturas, conhecia sua inteligência e capacidade de saltar sobre os homens usando as grandes garras nas patas dianteiras e traseiras para rasgar a carne. Eles são chamados de veloci raptores devido a sua grande velocidade.

Como dito, estas criaturas são comuns na area, mas usualmente evitam atacar pessoas pois são inteligentes o suficiente para entender que seres humanos se vingam. Eles certamente não seriam os responsáveis pela falta de comunicações com Heron.

Deduzi que eles haviam sido forçados a deixar as florestas e procurar comida desesperadamente nas colinas por causa da criatura ou criaturas que eram o verdadeiro problema. Infelizmente, os veloci raptores estavam certamente famintos e desesperados o bastante para atacar nossa tropa esta noite. Se eles seguissem seu padrão usual eles primeiro testariam as defesas do campo, se eles encontrassem uma brecha eles entrariam. Qualquer tipo de armadilha mais usual seria inútil devido à inteligência das criaturas, mas havia muitas formas de engana-las.

Eu sempre ordeno a meus homens a escavação de fossas sanitárias um pouco fora do campo, isto é, um grupo de buracos com o tamanho correto para as pessoas satisfazerem suas necessidades físicas. Usualmente os homens visitam estes lugares em trios, com dois vigiando enquanto um terceiro usa o local, desta forma é raro alguma coisa conseguir agarrar um soldado isolado em minha centúria.

Ordenei aos anões que cavassem um buraco para si perto da fossa sanitária, e faze-lo de forma a que os raptores não fossem capazes de detecta-lo. O cheiro de fezes nas proximidades seria o suficiente para este propósito.

Armamos tendas maiores que o usual e esperamos dentro delas em formação de tartaruga, enquanto elfos arqueiros e magos foram posicionados em torres de terra batida, reforçadas com pequenas lanças e posicionadas em pontos estratégicos.

Nossos carros com comida foram colocados no centro do campo, expusemos um ou dois pedaços de carne ao ar para aumentar o efeito desta isca, mas para chegar lá os raptores iriam ter que atravessar as tendas.

Organizamos grupos de homens gato para uma última pequena surpresa e esperamos.

E esperamos ...

Não é agradável esperar espremido em uma tenda sem poder conversar e nervoso. Pior pois não podíamos acender qualquer fogo ou os raptores veriam nossa silhueta contra as paredes das tendas.

Era aproximadamente o meio da noite quando os raptores cercaram as tendas e pularam dentro delas. Nós já sabíamos de sua presença desde que entraram no campo, devido a pequenos ruídos e a alguns “pássaros” que eram, na verdade, nossos companheiros escondidos nas torres.

Assim, quando os raptores saltaram eles encontraram escudos encantados e lanças bem posicionadas nas mãos de guerreiros experientes. Eu empalei um raptor com meu pilo (lança pesada), larguei a arma, que agora estava presa no corpo da besta, e peguei a espada curta. A tenda já havia caído, mas para fora como ela havia sido planejada para cair e as criaturas que desejavam nos caçar se viram cercados por homens em impenetráveis formações tipo tartaruga. Pior ainda, quando movemos nossas formações para cercar as criaturas eles se viram atingidos por arqueiros e magos até então camuflados nas torres enquanto os anões saíram de debaixo da terra para cortar sua retirada e grupos de homens gato saíram de seus esconderijos em nossas tendas e entraram na briga com o prazer característico desta raça, cortando raptores em pedaços mais rápido do que o olho pode ver.

Raptores são rápidos mas, se houvéssemos usado mágica para aumentar nossas habilidades antes da luta eles teriam sentido e a surpresa estaria perdida, no entanto, tínhamos armas mágicas e, alguns de nós usaram mágica com tanta freqüência para melhorar os próprios corpos que estes já estão um pouco melhorados o tempo todo. Os raptores não tiveram chance.

A batalha foi rápida e ainda houve tempo para dormir bem aquela noite, no dia seguinte comemos carne de raptor no café da manhã (um pouco dura, tem que saber cozinhar). Não perdemos um homem e os feridos se recuperaram rapidamente com magia. Mas eu tinha a sensação de que a batalha era um teste e que estávamos sendo observados.

No dia seguinte, após os batedores enviarem o sinal de que estava tudo seguro, atravessamos a passagem. Não foi surpresa descobrir que a vegetação do outro lado estava queimada em várias partes, alguma coisa havia forçado os raptores em nossa direção e eu desconfiava de um certo dragão vermelho chamado Cianomir. Se eu pudesse advinhar ...

A medida que caminhavamos, percebemos que as terras férteis entre a floresta e Heron haviam sido “limpas”. As plantações foram destruídas, gado morto e somente Plutão sabe aonde foram parar as pessoas.

Sem nenhum abrigo ao redor e nenhuma opção melhor continuamos a marchar para a cidade. Era um dia claro e quente, mas nos mantínhamos atentos e em armadura completa. Já estávamos vendo as muralhas da cidade a distância quando nós perdemos.

Foram necessários somente dois ataques.

Vimos o dragão vindo, primeiro como um ponto vermelho no céu, rapidamente tornando-se maior, logo era um borrão vermelho vindo mais rápido do que podíamos acompanhar e ganhando velocidade.

Lançamos flechas e feitiços contra a criatura, mas não vimos nenhum efeito. Somente quando ele estava bem em cima de nós é que pude ver que Cianomir havia se coberto com uma armadura, nada sólido que pudesse atrapalhar o vôo e sim uma espécie de rede contendo pedras mágicas em seus nós, poderia apostar que cada uma daquelas pequenas pedras leva um encanto de proteção.

Haviamos nos espalhado em pequenos grupos, como é procedimento padrão para estes casos, prontos para cercar e confundir o dragão quando ele pousasse e tentasse queimar nossas armaduras mágicas com seu fogo. Mas ele não pousou, quando se aproximou eu pude ver que Cianomir carregava um pano vermelho claro preso entre suas quatro patas (a barriga de Cianomir é vermelho claro também), infelizmente a cor e os padrões no pano foram bem escolhidos de forma que quando nós o vimos já estávamos perdidos. Pois o mostro esticou suas patas traseiras, fazendo uma chuva de bolas de argila que estavam sobre o pano cair em nós, cada bola contendo uma boa quantidade de uma substância muito ácida.

Estávamos em uma formação dispersa, mas não o suficiente.

Havia muitas bolas de argila e mesmo aquelas que atingiram apenas o chão abriram formando poças de um liquido transparente que liberavam um gás venenoso. Mesmo assim, poucos de nós morreram no primeiro ataque e mais haveriam sobrevivido se eu tivesse tempo de ordenar que os homens se espalhassem mais. Mas o dragão não nos deu nenhum tempo. Ele voltou, desta vez usando seu hálito de fogo, e nos pegou despreparados e tontos devido ao gás. Nossas armaduras estavam danificadas devido ao ácido e muitas das pedras mágicas nas armaduras, aquelas que deveriam nos proteger contra fogo e calor, estavam inativas. Assim, o fogo que usualmente não teria produzido quase nenhum dano nos pegou desprotegidos.

Perdi metade de meus homens neste segundo ataque. Não sei como o dragão fez isto, mas foi o mais longo jato de fogo que já vi e eu já lutei contra dragões muito maiores.

Tive sorte de escapar, eu havia aumentado minha velocidade com magia quando vi que estávamos perto da cidade (chame isto de instinto) e ordenei a meu grupo de homens que abandonasse a formação e se espalhasse assim que vi as bolas de argila caindo. Infelizmente, minhas palavras não foram longe devido ao incrível ruído feito pela absurda velocidade do dragão.

Após o segundo ataque o dragão continuou voando e desapareceu na distância.

Se ele retornasse e pousasse, não creio que qualquer um de nós sobreviveria.

Cuidamos dos feridos o melhor que podíamos e marchamos rápido para a proteção da cidade. Para minha surpresa, não só a cidade não havia sido destruída como ainda fomos bem recebidos pelas sentinelas nos portões e entramos na cidade como heróis e não como uma centúria que havia perdido metade de seus homens.

O prefeito da cidade nos recebeu nos portões e, em meio a um belo discurso de boas vindas, confiscou nossos carros de suprimentos (o dragão deve te-los deixado intactos de propósito) e nos enviou para reforçar sua guarnição enfraquecida.

Assim que descansamos um pouco no quartel da cidade, descobrimos que esta não havia sido atacada diretamente. Os navios foram queimados no porto e os soldados enviados para fora da cidade não retornaram, mas a única coisa que o dragão fez contra a cidade foi largar uma criatura em seu meio de tempos em tempos. Da última vez foi um triceratrops grande, ferido e totalmente insano. Uma criatura tão grande quanto o próprio dragão mas que de alguma forma ele conseguiu levantar e lançar bem no meio da cidade.

O pior era a fome da população, já que os suprimentos da cidade estavam no fim.

Não tínhamos muito a fazer no momento, meu objetivo primário era enviar noticias a Roma e deixei isto bem claro para o prefeito, mas tinha que esperar o melhor momento. A vantagem estava com o dragão pois ele conhecia seu inimigo. Nós não.

Eu já havia enfrentado dragões antes e eles são criaturas bem espertas, mas em combate eles usualmente deixam seus instintos dominar e, no fim das contas, isto os torna só um pouco melhores que raptores.

Minha Centúria matou o irmão de Cianomir, Grandayur, dez anos atrás. Este dragão tentou tomar uma parte do Egito como seu território depois de perder uma luta contra Cianomir pelo controle da ilha do dragão. Muitas histórias são contadas sobre esta luta entre irmão e estou começando a acreditar que elas são verdadeiras.

Na luta contra Grandayur perdemos apenas dez homens e o dragão morreu, em um rápido ataque de Cianomir perdemos metade da centúria.

E Grandayur era o maior irmão mais velho de Cianomir.

No dia seguinte à nossa derrota, Cianomir pousou a alguma distância da cidade e mostrou uma grande bandeira sinalizando o desejo de negociar e que ele ficou balançando de um lado para o outro, em imitação irônica de nossos procedimentos nestes casos.

O prefeito se escondeu em baixo das cobertas (ou um lugar semelhante, não me importo), mas eu fui conversar com o dragão.

A medida que me aproximava do dragão não pude evitar compara-lo com seu irmão mais velho. Cianomir não é grande para um grande dragão, mas isto não quer dizer que ele seja pequeno em qualquer escala humana. Ele me esperava sentado sobre suas patas traseiras e a cauda, em uma posição que seria engraçada se não pelo fato de que sua cabeça estava a cerca de quatro vezes a minha altura. Era claro, no entanto, que ele é pelo menos o comprimento de dois homens menor do que seu irmão mais velho era e não tão massivo também. Cianomir tem uma grande cabeça, mas menos chifres que seu irmão e seu corpo não é tão largo também. Suas escamas são de um vermelho mais escuro e o corpo parece mais elongado do que largo, o que pode explicar a velocidade de seu vôo.

A medida que me aproximei, no entanto, um único olhar para aqueles olhos esquisitos mostrou que eu estava lidando com o dragão mais perigoso do império.

Cianomir não tem olhos de cobra, suas pupilas mudam de forma com a necessidade e naquele dia brilhante e ensolarado sua íris negra se parecia bastante humana. A inteligência que se pode sentir neste monstro é incrível, principalmente se considerarmos que ele é jovem para um dragão.

E ele estava usando armas!!!

Luvas metálicas cobriam suas patas, havia lâminas presas nestas luvas que seriam capazes de cortar um homem ao meio com um movivento do pulso da fera. Ele não estava usando aquela armadura estranha, mas isto indicava que ele desejava estar livre para usar magia e até mesmo um fraco mago corporal como eu podia sentir uma forte aura mágica ao redor da besta. O significado era claro: me ameace e Heron vai queimar.

Eu me aproximei a pé para encontra-lo. Assim que eu estava a uma distância razoável o dragão disse:

- Está quente hoje, vou entender se você preferir ficar na sombra. E apontou para uma árvore próxima.

- Obrigado, vou aceitar o convite. E fui para lá.

Cianomir mudou de posição, então, mudando para uma posição quadrúpede e descendo sua cabeça até quase o meu nível. Ele esperou até eu achar um bom lugar a sombra e sentar sobre uma pedra convenientemente colocada lá e então começou a conversa:

- Você tem idéia do por que de eu ter me dado a todo este trabalho?

- Não, não tenho idéia de por que você destruiu a economia local e matou meus homens. Respondi.

- Não? Realmente não?! E a tentative de invasão romana à ilha do dragão? E meu povo que vocês mataram? Ele enfatizou estas exclamações batendo no chão com sua pata dianteira, o que resultou em um alto barulho metálico.

- Então foi isto? Uma invasão cinco anos atrás? Falei baixo para testar sua audição.

- Não, isto justificaria destruir um ou dois de seus barcos. Mas vocês também enviaram mercenários para me matar depois disot. Ele falou em uma voz alta e raivosa.

- E você enviou espiões e assassinos ao palácio do governador. Qual é o problema com isto? Falei em um volume normal.

- Qual o problema? Ao enviar mercenários vocês me forçaram a perder tempo com jogos de espionagem, a pagar espiões e assassinos e, pior, até agir diretamente em casos extremos. Eu tenho coisas muito mais importantes a fazer do que me preocupar com política humana. Seus jogos me deixam cansado e com raiva. Ele falou isto com uma expressão quase humana de desgosto.

- Então quais são seus termos? Está claro que você tem o controle da situação aqui (por enquanto, pensei).

- Você tem o controle da situação aqui ! Você tem o controle da situação aqui ! Ele cantou com ironia e senti sangue indo a minha face, não me lembro de ter ficado com tanta raiva antes, mas mantive o controle.

- Sim, eu tenho controle, de mais do que você imagina. Ele respondeu a si próprio com uma voz trovejante.

- E eu poderia destruir Heron. Ele continuou, mais baixo.

- Mas por que me dar ao trabalho? Esta cidade não vale isto. Ele disse ainda mais baixo.

- Então por que você se deu ao trabalho de fazer todo este estrago? Eu perguntei.

- Por que vocês tentaram invadir minhas terras, mandaram assassinos me matar e, mais importante, Ieras, governador da Sicília, matou uma dragoa chamada Azule. Ela era minha parceira e ele sabia disto.

- Então sua parceira foi morta longe daqui e você arruína uma província? Eu disse.

- Por que não? Agora Ieras vai cair em desgraça com o imperador por causa da situação que ele criou. E estou mandando uma mensagem clara de que Azule será vingada por meios mais diretos um dia.

- E então acaba aqui? Você “escreveu” sua mensagem, falou comigo e agora está partindo?

- Não, também quero detalhes da morte de meu irmão.

- Por que? Você vai vinga-lo também?

- Claro que não, eu sei que você ajudou a derrota-lo e lhe agradeço por isto. Um idiota a menos na família.

- E por que eu contaria detalhes e lhe salvaria de uma morte similar?

- Por que você evitaria perder homens fazendo isto. Tem um longo caminho de volta até o Egito.

- OK, ele tentou nos pegar com rochas e fogo; nossos escudos protegeram a maioria de nós. Atingimos ele com feitiços e ele caiu. Aí usamos flechas mágicas e terminamos com lanças. Satisfeito?

- Não, mas é o suficiente. Você é um oponente valoroso e lhe dou passagem livre. Vou retornar à ilha do dragão. Ele terminou a entrevista se sentando de novo e imitando o gesto de um imperador dispensando um camponês. Eu não fui estúpido o suficiente para me ofender.

E esta é a história de minha derrota.

Acreditei na honra do dragão e estava certo. Voltamos ao Egito sem problemas, ouvi que o comercio com Heron se restabeleceu e agora, restrito a esta fortaleza, espero seu julgamento meu senhor.

Foi meu erro e somente meu. Subestimei o inimigo. Em meus sonhos toda noite eu vejo o ataque de novo, eu vejo meus homens atingidos por ácido e queimados por fogo e eu vejo meus erros ...

Devido a estes fatos eu, Pompous Maximilians fui deixado em uma situação difícil. Diferente de Valerius Ilustratus eu não acho que ele poderia ter feito algo para prevenir a derrota. Mas eu não poderia assumir oficialmente que a XXII Centúria, os caçadores de monstros estavam muito abaixo do nível de determinado um dragão. O povo deve acreditar que nosso exército pode derrotar qualquer coisa.

Então dei os parabéns a Valerius Ilustratus por suas “habilidades diplomáticas”como se ele houvesse convencido o dragão a deixar Heron e reduzi sua pena de morte para o confisco de suas terras e dinheiro.

Conversei com o imperador ontem e decidimos usar estas terras e dinheiro para compensar as famílias daqueles homens que morreram nesta missão, assim esperamos aplacar a consciência de Valerius Ilustratus e ainda garantir que ele não vá falhar de novo. Ele tem família e vai precisar ser bem sucedido para conseguir dinheiro para alimenta-los.

Aconselhei o imperador a depor Ieras do governo da Sicília e envia-lo para um tempo de descanso em terras próximas àquelas em que Cianomir governa. Chame isto de boas férias merecidas.

Mas a questão persiste.

Cianomir matou, destruiu e usou ácido contra soldados que não haviam lhe feito nenhum mal e não pense que foi por que nós “matamos sua amada” ou algo igualmente estúpido.

Ele é um monstro ou somente um governador defendendo suas terras? Foi pessoal ou um ato de guerra? E, no fim das contas, será que há alguma diferença?

Eduardo Perini Muniz
Enviado por Eduardo Perini Muniz em 08/12/2006
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