O Mágico de O2.

Foi uma respiração que dei, aos 6 anos de idade. Senti uma sensação indescritível... Logo percebi: aquele oxigênio que estava saindo de dentro de mim, já havia passado pelos pulmões de meus antepassados... De meu pai, meu avô e no pai de meu avô!

Reconheceria este oxigênio em qualquer parte do universo! Era um O2 viajado! Conheceu cada palmo da biosfera... Esteve na China, na Índia, Espanha e Canadá.

Esta molécula; a da tal sensação, se desligou em dois átomos. Cada um se relacionou com outros gases... todos de hidrogênio! Daí, viraram água e viveram momentos em que, enquanto um estava por entre chuvas, o outro corria grandes rios. Ora em caixas de cisterna tendo o outro engarrafado nas prateleiras de supermercado. Estive diante de nunca viver aquela sensação, novamente! (e nem sabia!)

Para minha sorte, um holandês que visitava o Chile, havia ingerido aquela água que continha dentre muitas outras moléculas, um átomo muito especial e urinou no banheiro de um avião, em um voo para Cuba que, chegando lá, o aeroplano alijou a carga onde esta, toma o rumo do mar...

A outra molécula ficou muito tempo em um aquário com peixinhos dourados e acredito que, por conta de sua grandeza, nas trocas d'águas, nunca estava disponível porque estava dentro do castelo do peixe dourado... mas um dia o peixinho dourado morreu e o aquário ficou em um canto. A água evaporou. E aquele átomo foi para o céu sem nenhum apego de "seu" castelo...mas este, sem o outro átomo, preferia permanecer como água...

Enquanto isso, o outro átomo, agora nas correntes marítimas junto a Baía de Sydney, segue para a Patagônia...

Um nimbus stratus estava a postos para uma grande chuva em Tierra del Fuego. A nuvem espessa alcançava as Ilhas Malvinas. Torridamente, choveu. E no mar do Pacífico Sul, duas moléculas de água reconheciam-se pelas partes do oxigênio... eram os átomos que haviam feito parte da história de meus antepassados...

Estas duas moléculas permaneceram conectadas. Levemente conectadas. Conectadas por uma energia fabulosa.

Entre ondas e pressões diferentes, no decorrer dos dias, estas duas moléculas, depois de um período na superfície do mar (desta vez no Mediterrâneo), novamente, estão flutuando (no ar, mas ainda como água). Porém, querendo participar dos ciclos ventilatórios e respiratórios. Mas, agora, o que fazer, já que ambos os átomos estavam ligados a outros hidrogênios? E, com a experiência, descobrem que cada par de hidrogênio ficaria muito bem, ao se desligarem dos protagonistas desta história...

No dia 25 de junho de 2011, estava sentado em um banco de praça. Bem próxímo da escola onde estudei durante a infância, respirei profundamente e sob uma luz de final de tarde, de um início de inverno, revivi a emoção de um ar nos pulmões que meu pai já respirou, meu avô respirou e seu pai também o fez...

Glauco Sessa
Enviado por Glauco Sessa em 24/07/2011
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