O Primeiro Encontro
Quando o homem abriu os olhos por primeira vez, encontrou diante de si um espetáculo maravilhoso e incompreensível. O mundo recém formado brilhava, suas cores vivas e convidativas, que chamavam a se adentrar na beleza de todas as coisas. O homem, vacilante, deu seus primeiros passos em direção a um grupo de árvores, que ficava no topo de uma colina. "Bem-vindo", dizia um cartaz pendurado nas copas das árvores. No chão, um letreiro avisava "use com cuidado", com várias setas apontando em todas as direções. Quando o homem alcançou o topo da colina e viu o que havia mais adiante, seu coração quase para de assombro. Ao norte se via uma extensão de mar azul turquesa, com praias brancas e ondas mansas que terminavam em espuma. Ao virar-se à esquerda, o homem viu uma extensão brilhante de areia dourada, que parecia não ter fim. Já à direita ele viu grandes montanhas, algumas que pareciam perto, verdes e de cimas redondas, e atrás picos cortantes, cimas nevadas e montanhas envoltas em nuvens cinzentas, que davam à vista um ar de irrealidade. E o homem, com seus recém estreados olhos, não se cansava de admirar o seu lar, não se cansava de tocar as árvores de folhas verdes, o chão de terra macia, e rolava pela grama com uma alegria de criança. Ao volver a vista para o lugar de onde tinha vindo, o homem deparou-se com algo que não tinha notado quando por vez primeira abriu os olhos. Em pé, com olhos curiosos e pés vacilantes como os seus próprios, havia uma criatura parecida com ele (tinha mãos como as suas, braços, pernas como as suas próprias), mas ao mesmo tempo diferente: suas formas eram mais redondeadas, macias e atraentes, seu cabelo brilhante caia pelas suas costas em ondas suaves, seu peito era avultado, firme, e toda ela era bela. O homem se perguntou porque não tinha reparado nela, e porque ela não tinha falado nada. Desceu correndo da colina magnífica, e enquanto chegava perto sentiu dentro do peito um aperto que não estava ali antes, e sentiu o estômago se embrulhar, e a língua se enrolou na sua boca. "O que tu és?" quis perguntar, mas as palavras não saiam da sua boca, que ainda não tinha o hábito da fala. Mas a criatura simplesmente o olhou, se avizinhou, e com sua mão tocou as pálpebras do homem, desceu em uma carícia suave pelas suas bochechas, tocou seus lábios vermelhos e sua barba incipiente. E nesse contato se falaram tudo, e ao se olharem nos olhos entenderam que eram iguais, que eram um para o outro e um do outro, e sentiram dentro de si completar-se alguma coisa, e souberam que enquanto vivessem nunca mais estariam separados. Tomaram-se então pelas mãos, e juntos, contemplaram a maravilha do mundo alegre que os rodeava. Começaram assim sua peregrinagem pelo mundo novo, experimentando todas as coisas com curiosidade infantil, ouvindo, vendo, tocando, saboreando, cheirando. E perceberam que a beleza de tudo o que os rodeava se completava com o seu encontro. Foi o seu primeiro encontro que deixou as coisas infinitamente mais belas.