Lindos Sonhos Dourados
Aquela foi a minha primeira vez, a minha primeira visita ao País das Maravilhas. Não sei ao certo se era como imaginava, apenas sei que era inimaginavelmente formidável. Sua maior particularidade e a mais perfeita delas: o lugar e tudo o que ela continha era meu. Apenas os meus olhos eram capazes de contemplar tal beleza.
As estradas eram feitas de tijolos amarelos e as placas apontavam as direções de lugar nenhum. As árvores, de tão altas, chegavam a tocar o céu, mas a mais velha delas alertou-me de que o caminho para as nuvens me levaria a enfrentar uma dimensão infinitamente maior, e a lagarta ainda não havia me dado os cogumelos.
Era preciso ter cautela ao caminhar com os sapatinhos de cristal, observar as ruas para não acabar atropelada por uma abóbora, ou tropeçar e cair em uma toca de coelho.
Se ficasse com fome, não era aconselhável apanhar o fruto vermelho cujo veneno me faria perder a beleza. Tão pouco era seguro que me aproximasse da casa feita de doces, pois apesar de saborosa por fora, escondia o podre em seu interior. Caso a fome me incomodasse, o melhor a fazer era roubar os rabanetes ou parar para tomar uma xícara de chá, afinal, todos os feijões eram mágicos, não se podia comer os ovos de ouro, e as ostrinhas haviam-se ido uma a uma.
Se quisesse me divertir, havia várias alternativas, porém devia atentar-me às controvérsias. Se fosse andar na prancha do navio, devia certificar-me de que o pó mágico era suficiente, pois o “tique taque” do crocodilo podia me pegar, e talvez o tapete mágico não estivesse por perto. Para jogar críquete, era necessário saber perder. A Ilha dos prazeres era fascinante, mas não podia ficar muito tempo. Um grilo me avisou sobre as minhas orelhas e a cauda que crescia à medida que minha inteligência se esvaia naquele lugar. Ao caminhar para colher flores, não conversava com estranhos, nem seguia pela floresta, e se não quisesse perder a cabeça, jamais tocaria as rosas cor de carmim. Eu também podia cantar com as flores ou as sereias, mas sempre com cuidado, para que o mar não roubasse a minha voz.
Lá era primavera, e a fauna e flora eram tão encantadoras, que me faziam capaz de enxergar as cores do vento. Em meio a toda aquela beleza, eu me juntava aos meninos perdidos para ouvir histórias de um gato de botas e aprender ouvindo a gaivota, enquanto trançava os cabelos para descer da torre.
Queria um vestido rosa ou azul, mas quase caí em sono profundo ao chegar perto da roca de costura. Felizmente, antes que eu furasse meu dedo, um mago sábio interrompeu-me avisando que era melhor que me instruísse antes de qualquer coisa fazer.
Entrei em um palácio, onde a mobília me perguntou por onde passei. Disse mais do que deveria, e meu nariz cresceu, porém, a fada madrinha perdoou-me, devolveu o tamanho real ao meu nariz, fazendo-me prometer que à meia noite estaria em casa.
Para o meu lamentável descontentamento, havia chegado a hora de partir. Embora o relógio estivesse atrasado dois dias, o coelho continuava a me apressar, os anões também já iam para casa e o gênio realizara todos os meus desejos, exceto o maior deles: ter de volta o meu Rei Artur, afinal, pouco me importava os cavaleiros da tabula redonda. Mas, infelizmente já era tarde. Calcei e bati os sapatinhos de rubi, e enquanto me despedia da minha Terra do Nunca, os cavalos viravam ratinhos, a lagarta recitava seu último verso, e a lua sorria par mim, como fazia o gato de Alice.