Kratos e Galatéia.
Crônicas de Orion. Idade Primitiva.
Quando o amor se torna algo que morre e nasce a cada amanhecer...
Ele se encontrava sentado no penhasco, olhando o horizonte e perdido em seus pensamentos. Estava tão imerso em si mesmo, que não se dava conta do espetáculo que a natureza proporcionava para os seres ao seu redor.
O poente matizava o céu de vermelho e laranja, Febo parecia que iria beijar ao oceano de tão próximo que se encontrava de suas águas.
O silêncio do entardecer só era quebrado pelas gaivotas que cortava os ares em busca de abrigo para passarem o anoitecer.
A brisa suave acariciava levemente o ser, refrescando e acariciando-o, como se estivesse enamorada por ele.
Sentindo a ligeira carícia, relaxa e volta a fitar a sua frente em sua eterna busca, evoca o ser querido que lhe fora arrancado por Plutão.
Ela se encontrava perdida para sempre, no Umbral, enquanto que ele estava fadado a ser eternamente amaldiçoado.
Encontrava-se cansado, faminto e solitário...
Vivia recordando a sua bela ninfa a bailar entre as rosas e arbustos, enquanto que suas irmãs ficavam a tagarelar e a entrelaçar os cabelos de Prosérpina. Todas tão infantis e ao mesmo tempo tão mulheres nesse momento.
Recordo-me de Pandora e de sua insensatez ao abrir a caixa e liberar a todas as desgraças e malefícios sob a terra, no entanto, esse fato nem me abalou, pois o meu coração já se encontrava em frangalhos, corroído pela dor, pelo ciúme e pelo despeito.
Para mim a esperança há muito se perderá entre o caos a qual me encontrava. Já implorara a todos os Deuses perdão pela minha arrogância e altivez, porém todos estavam surdos e mudos para minha dor e maldição.
Cego pela dor, vejo mais uma vez a lua subir pelo zênite, vejo que há minha hora está chegando e que já não posso me perder nas minhas caras e tão queridas lembranças.
O tempo urge, o meu está pelo fio.
Levanto-me do solo, procuro refúgio na cálida água do oceano, que banha a terra tão amada.
Abro os braços e salto no vazio, entre os penhascos em rumo às profundezas que me chama, como a amante saudosa e luxuriante.
Nesse voo cego, sinto a vida passar pela minha retina e escapar do meu corpo, nos meros segundos que ainda resta da queda livre.
Vejo os penhascos que submergem do oceano tal quais adagas a minha espera, para varar e corromper ao meu corpo, mas já não tenho mais temor, há tantos séculos que morro desse modo, que as dores do óbito não são maiores do que a dor de se está vivo preso a terra olhando e buscando a ti eternamente.
Evoco pela última vez o sabor dos teus lábios e da tua pele macia. Os seus gemidos ainda ecoam em meus ouvidos, os teus sussurros estão gravados em meu coração.
E o teu corpo alvo que muitas vezes fiz o meu ser de adoração, se faz presente nos derradeiros momentos.
Ainda sinto o gosto do teu orgasmo em minha boca, o aperto de tua vagina comprimindo o meu pênis a cada penetração que fora dada e o prazer da tua liberação quando o teu orgasmo se faz presente.
Vejo e sinto a tua entrega, pois ela foi de corpo e alma. Ainda a tenho impregnado em minha pele, mesmo depois de tantos séculos.
Entretanto, só há recordações, pois a mulher que gemia e prometia um jardim de prazeres se perdeu nas chamas de Plutão.
Restando apenas doces recordações que acabaram por apunhalar o meu ser a cada momento.
Onde a doce Galatéia se encontrará?
Envolta e acolhida em uma alcova de labaredas perdida para sempre do seu amado centauro.
Nos momentos finais, meu coração para, o estupor da morte me acolhe, os gumes cortantes retalham e rasgam o meu corpo; finalmente cessam as minhas lembranças.
Entretanto, amanhã reiniciará o meu tormento, volto para os penhascos, para a minha solitária jornada e memórias.
Para no apogeu de Diana, eu me lançar de encontro à morte.
Triste sina a minha, tudo por amor a uma ninfa, morrer diariamente até que os deuses me perdoem por ter amado a Galáteia.
A filha de Poseidon com Ceres, prometida a Tritão, que ousou ir de encontro aos Deuses e pereceu sob as labaredas de Plutão.
Kratos Carpe dien, O Centauro.