A batalha de Candor

Ano 560. O Rei Caius, do reino de Triwa, caminhava em frente a seu exército com sua túnica vermelha descendo até o dorso do cavalo, segurando as rédeas com uma mão e a espada com a outra. O cavalo branco seguia obediente, em linha reta, em direção às planícies de Candor.

10.000 mil soldados foram convocados para a batalha. Caius lutaria contra o reino de Hander. Seu líder, King Dodô, era um ditador cruel e tirano. Impôs esse nome pela admiração ao pássaro de mesmo nome, o qual estava em extinção e um dos últimos sobreviventes estava em seu palácio.

Desde crianças, os dois Reis eram inimigos. Aconteceu em uma tarde do dia Suno, o sexto da semana. Os dois eram irmãos, filhos do Rei Exeter e estavam brincando no jardim real do castelo de Funcadir, cidade natal deles.

- O papai falou que quando eu crescer, eu vou ser o Rei. – disse Caius.

- Mas eu também quero ser Rei. – exclamou Joseph, nome verdadeiro de Dodô.

- Eu que vou ser! Eu sou muito melhor que você, e sou o primogênito.

- Eu que sou melhor que você!

- Não é! – e deu um soco no irmão.

Naquele momento, o ódio se instalou no coração pequeno e frágil do pobre Joseph e ele se endureceu, fazendo com que desde aquele dia ele olhasse o irmão como um obstáculo em seu caminho de se tornar Rei. O tempo passou, e no dia da morte de Exeter, o desastre aconteceu.

Caius e Joseph foram chamados para a sala do trono, onde reunidos ali estavam os dez conselheiros e a rainha, todos vestidos de preto em luto.

- Caius e Joseph, meus filhos. – começou a rainha. – Sei que este é um momento de grande tristeza para todo o reino, especialmente para vocês. No entanto, para bem do desenvolvimento do reino e em nome de seu falecido pai, é necessário que seja estabelecido um novo Rei. E, reunidos aqui, eu e os conselheiros decidimos nomear um de vocês para assumir o cargo. Aproxime-se... Caius.

O jovem, com 22 anos, ajoelhou-se e aceitou o cargo de bom grado. Joseph sabia que isso aconteceria e, como havia planejado, se retirou abruptamente. Todos foram pegos de surpresa, e, em um ato instintivo, Caius correu atrás dele. Porém, era tarde demais, quando o alcançou, ele estava fora do castelo, cavalgando velozmente em direção ao portão, e em questão de segundos saiu da cidade, para o espanto de todos.

Aquela atitude mudaria a história de todo o continente. O dia se tornou mais triste quando a pobre rainha soube da fuga de seu filho. Recolheu-se ao quarto e jejuou por três dias.

Os dias passaram e Caius governava de forma justa e levava o reino ao desenvolvimento e era muito popular entre seu povo. O Rei mantinha relações diplomáticas com todos os reinos do continente, exceto com o reino de Hander, considerado bárbaro. Passados cinco anos desde sua coroação, Caius recebeu um mensageiro do reino bárbaro, que vinha com uma carta:

Caro Rei Caius,

Testifico por meio desta, o meu desejo em relação ao vosso reino. Eu, recém-coroado Imperador de Hander, declaro guerra contra o reino de Triwa e prometo queimá-lo até o último edifício como vingança em relação aos atos cometidos por Vossa Majestade no passado. Conquistarei reino por reino se for preciso, mas eu prevalecerei e tu cairás. Tenha em mente que seus atos terão uma conseqüência. Grave, e cruel para seu povo. Renda-se agora e apenas tu morrerás. Recuse e traga dor e morte ao seu povo.

Ass. King Dodô, Joseph, Imperador do reino de Hander.

O mensageiro leu a mensagem em voz alta e, para aumentar o infortúnio, quando disse o nome do filho fugitivo, a rainha exclamou um grito e sofreu de uma parada cardíaca. A morte da rainha fez com que, dessa vez, Caius ficasse com raiva, e mandou uma mensagem recusando.

E foi isso que deu início a unificação do continente de Prador. Caius já tinha planos em mente antes, e esse foi o motivo que alegou para iniciar sua campanha militar. Reuniu o exército e partiu conquistando reino por reino ao Norte, enquanto recebia notícias do Sul que diziam que Joseph também conquistava. Em 560, os dois reinos eram os únicos que sobraram no continente. E estavam em rota de colisão. E agora iriam ter sua primeira batalha, que seria o início de uma guerra sangrenta.

O campo de batalha era as planícies de Candor. Ao Norte, estava acampado o exército de Caius. Ao Sul, o exército de Joseph. A Oeste, a vila de Santre. A Leste, a vila de Jetre. As duas vilas faziam parte do reino de Hander.

O exército de Caius era composto de infantaria pesada, cavalaria leve e arqueiros de arco longo. A infantaria estava à frente, a cavalaria atrás e os arqueiros por último. Possuíam 10.000 mil soldados. King Dodô tinha um exército maior, com 15.000 soldados, composta de infantaria leve, cavalaria pesada e besteiros.

Caius e Joseph cavalgaram em direção um ao outro. O encontro entre os líderes era um costume local, onde nenhum poderia ser morto, e discutiam se iriam ou não batalhar.

- Rei Caius, dou-lhe a chance de render-se novamente, apenas entregando seu corpo a mim.

- Ao contrário, Imperador Dodô, eu dou-lhe essa chance.

- Muito bem, então, não perderei mais tempo. Estou ansioso em ver sua derrota.

E se retirou.

Caius foi logo em seguida e discursou, em meio ao soldados, como incentivo:

- Guerreiros! Irmãos-de-armas! Soldados! Hoje vocês têm a chance de tirar da face da terra um monstro. Ele, King Dodô, causará dor e sofrimento se ganhar essa batalha. Portanto, lutem hoje e morram defendendo suas mulheres e seus filhos! Lutem por mim, lutem pelas suas famílias, lutem por Triwa!

A multidão berrou. O general Victorious posicionou ao lado do Rei:

- Aguardo suas ordens, senhor!

- Mande os arqueiros atirarem.

E o general foi.

- Preparar! Apontar! Fogo!

As flecham cortaram o ar zumbindo e caíram na cavalaria pesada inimiga. Os arqueiros de arco longo eram famosos pelas suas flechas de longo alcance capazes de perfurar escudos e armaduras.

O exército inimigo respondeu com outra saraivada. No entanto, os besteiros handerenses não eram o seu melhor. Com seus escudos, os triwanos se defenderam, sofrendo poucas baixas.

- Envie a cavalaria e lidere-a. – ordenou o Rei Caius.

- Sim, senhor. Cavalaria, atacar!

Uma das táticas de Caius era o seguinte: a cavalaria leve atacava o inimigo, quebrando sua formação. Com isso, recuava e a infantaria logo tomava seu lugar e esmagava as forças inimigas.

King Dodô conhecia bem essa tática e sabia como evitá-la. Antes da batalha, havia ordenado que cada soldado da infantaria cortasse um pedaço de madeira de 2 metros de altura. Na batalha, os pedaços estavam posicionados no chão, à frente dos soldados. Quando a cavalaria chegasse, as estacas esmagariam os cavalos.

O general handerense tomou frente. Ele teria que mandar erguer as estacas no momento certo. Se mandasse muito antes, os cavaleiros perceberiam e parariam. Se mandassem muito tarde, sofreriam muitas perdas.

- Esperem.

Os cavalos estavam a 500 metros.

- Esperem.

300 metros.

- Esperem.

100 metros.

- Esperem.

10 metros.

- Agora.

As duas linhas de soldados da infantaria leve handerense levantaram as estacas. Os cavaleiros foram pegos de surpresa. O sangue de cavalo e cavaleiro jorrou no campo de batalha. Victorious sobreviveu milagrosamente e recuou com os poucos sobreviventes. Os handerenses os insultavam com xingamentos ofensivos. O primeiro ataque foi rechaçado.

Droga, pensou Caius. Havia cometido um erro ao esquecer que seu irmão sabia a tática. Agora, pensaria com mais calma.

- Victorious, chame dois mensageiros.

- Sim, senhor.

Os mensageiros chegaram.

- Vocês podem salvar-nos. Vão às vilas de Santre e Jetre e convençam os aldeões a pegarem em armas e nos ajudar. Digam a eles que King Dodô os oprimirá, será cruel e me mostrem como um salvador. Agora vão, porque o resultado dessa guerra depende de vocês.

Os mensageiros partiram.

- General, acompanhe-me.

O Rei cavalgou em meio aos soldados.

- Eu mesmo lutarei junto com meus homens. Agora, se formos derrotados e eu morrer e os reforços não vierem, dê a ordem para recuar. Envie esta carta para os conselheiros. Eu lhe declarei o próximo Rei. Você tem competência para me substituir.

- Sim, senhor. Obrigado pela honra.

Do outro lado, Dodô se alegrou.

- General, envie a infantaria. Após atacarem o inimigo, lidere a cavalaria.

As linhas handerenses marcharam. A moral triwana já estava abalada pelo primeiro ataque, e agora, sabiam que estavam em menor número e a derrota parecia certa.

Caius chegou a frente de suas tropas.

- Soldados, lutemos agora pelas nossas famílias, pois eu mesmo morrerei antes que esse tirano invada minha cidade. Antes que ele mate a mulher ou o filho de qualquer soldado aqui. Pois eu lutarei pelo que acredito. Temos que lutar pelo que acreditamos. E eu luto pela liberdade. Eu luto pela honra. Eu luto pelo meu país. Por Triwa!

O Rei desmontou e se colocou ao lado de seus soldados. A infantaria inimiga chegara. O forte dos triwanos era sua infantaria pesada e ela veio a calhar naquela situação. Os handerenses foram segurados. A cavalaria já marchava para ajudá-los.

- Arqueiros, mirem na cavalaria. Preparar, apontar, fogo.

O campo de batalha era sangrento e violento. A infantaria triwana segurava a infantaria handerense enquanto os arqueiros de arco longo atiravam contra a cavalaria.

Onde estão os reforços? Vamos ser destruídos sem eles, pensou Caius. A cavalaria inimiga chegou arrasando. Muitos triwanos caíram. Os handerenses pressionavam e pouco a pouco, os triwanos recuavam.

- Prepare meu cavalo. – ordenou King Dodô. – Rápido, quero ter a chance de matar meu irmão com minhas próprias mãos.

Caius lutava com bravura e coragem, e matava loucamente. No entanto, recuava gradualmente. A cavalaria estava quebrando a formação. Foi então que ele viu seu irmão.

- Caius é meu! – King Dodô gritava.

Os dois se chocaram. Caius desviou de um ataque e avançou, mas Joseph defendeu. Os dois eram exímios espadachins e a luta entre eles parecia que não ia ter fim. Eles lutaram por vários minutos. No entanto, Caius o feriu. King Dodô recuou e pararam de lutar.

É hora de dar a ordem de recuar, pensou Caius.

Caius correu e encontrou o general.

- General, temos que...- ele parou quando olhou para um milagre.

A oeste foi possível ver um grupo de 3.000 camponeses armados gritando e correndo. A leste, 4.000 vinham socorrê-los. O exército handerense se alegrou, pois como sabiam que as vilas eram do reino de Hander, haviam recebido reforços. Mas se assustaram quando os camponeses os atacaram.

Caius sorriu e liderou o ataque pelo norte. As forças handerenses estavam cercadas. O massacre foi horrendo. As tropas de Dodô caiam rapidamente. O próprio Rei percebeu a derrota e ordenou a retirada. Ele conseguiu escapar com apenas cem homens. Ao fim da batalha, os triwanos tiveram grandes perdas. Aproximadamente 6.000 morreram. Porém, do outro lado, as perdas foram maiores: 13.000 soldados caíram. Os camponeses perderam apenas 1.000 deles.

Dois dias depois, Caius enviou uma mensagem de trégua. King Dodô aceitou, pois não tinha mais exército. Caius retornou a Funcadir e foi recebido com glória. Tributou muitos quilos de ouro para as vilas, que agora eram do reino de Triwa. A batalha de Candor foi a primeira entre os reinos de Triwa e Hander. No entanto, não foi a última. A guerra retornaria anos depois. E muitos ainda morreriam.

O Rei Caius homenageou todos os soldados que morreram na batalha, e deu ouro aos que sobreviveram. O general Victorious se tornou general e conselheiro. A popularidade do Rei aumentou. Enquanto isso, em várias cidades e vilas de Hander surgiram pensamentos de rebelião. A batalha de Candor libertou duas vilas. Elas queriam ser libertadas também.

A guerra já havia começado. Mais batalhas aconteceriam. Soldados morreiram. E um reino venceria. Porque os dois reinos não poderiam viver em paz.

Fernando Lancaster
Enviado por Fernando Lancaster em 03/07/2011
Código do texto: T3073500
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