Quem você vai chamar? (Carta 1 - Michaelson)
Querido Jimmy,
Como vai você, meu filho? Como vão os estudos? Está se protegendo das terríveis correntes de ar dessa escola? Não teve mais nenhuma crise? Seja sincero: você está fazendo seu desjejum como se deve?
Em primeiro lugar, desculpe por ser eu e não seu pai a lhe responder, mas ele anda particularmente ocupado nos últimos dias. Em segundo lugar, desculpe-me por demorar tanto. Acontece que, sozinha, eu jamais seria capaz de contar apropriadamente a história que você me pediu. Pedi ajuda a todos os que estiveram envolvidos nos acontecimentos e eles gentilmente me escreveram suas versões do ocorrido, para que eu encaminhasse a você. Tomei a liberdade de datilografar apenas os trechos que achei mais significativos de cada carta, para evitar repetições desnecessárias, e de acrescentar algumas notas que consegui extrair de seu pai. Você não gostaria de tentar decifrar os manuscritos de algumas dessas cartas, acredite.
Escolhi como primeira carta a de Mr. Michaelson. Ninguém melhor que ele sabe como tudo começou.
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*Relato de Edward Michaelson, superintendente da Scotland Yard*
Isso aconteceu há mais de dez anos, James. Você ainda nem sonhava em nascer, e a entrada para o Departamento de Operações Especiais Classes B ainda ficava escondida no quarto de despejo da Scotland Yard.
Não foi uma manhã de trabalho particularmente promissora. Não tínhamos nenhum caso em mãos no momento. Isso é quase inconcebível hoje, mas era comum na época. Só estávamos no escritório Zack e eu, enquanto os outros se ocupavam com compromissos diversos. Ele estava profundamente concentrado em armar um castelo de cartas, eu carimbava os registros vencidos de não-humanos, que deveriam ser renovados.
Quando cheguei a uma das fichas, não pude evitar um gemido.
_O que foi, meu velho? _Zack perguntou. Aparentemente, já estava cansado das cartas.
_Lorde Ruthven _eu respondi, no meu tom mais sombrio. _Está na hora de renovar o registro dele.
Zack teve mais ou menos a mesma reação que eu. O caso Ruthven foi um dos primeiros em que ele trabalhou conosco. Houve quase que de tudo: seqüestro, extorsão, assassinato, estupro, dominação mental, casamento coagido, vampirização não autorizada, desacato à autoridade e resistência à prisão. Praticamente todos os vampiros que tínhamos capturado haviam sido condenados à decapitação por bem menos do que isso, mas o julgamento de lorde Ruthven nos trouxe uma surpresa muito desagradável: graças a sua posição de nobre, ele foi condenado simplesmente a não deixar Londres e precisar da autorização de um fiador para tudo, inclusive alimentação.
Não me entenda mal, James. Você sabe que não sou a favor da pena de morte. Mesmo assim, senti um vazio muito grande por aqueles que foram executados antes porque cometeram o terrível crime de saciar a própria fome.
A verdade é que desde que Angela se casou e deixou o departamento, fiquei com muito tempo para pensar sobre cada prisão que realizei. Aquilo estava me deixando cada vez mais melancólico e insatisfeito. Ou, ao menos, era o que Zack vivia me repetindo. O escritório vazio só piorava as coisas.
Esse parecia ser um dia como os outros, apenas um pouco pior, quando bateram à porta. Pensei que fosse Serguei, o nosso contato com a Scotland Yard regular, mas me enganei. Quando ouvi Zack dizer “Senhor Issa?”, levantei os olhos e vi ninguém menos que meu pai.
Nós estávamos cada vez mais parecidos, principalmente porque ele já havia parado de envelhecer. Seu ar de cansaço imediatamente me alarmou. Ele só me procurava em serviço para dar notícias muito boas ou muito más, e não parecia que seriam do primeiro tipo.
Depois de algumas amenidades e notícias de minha mãe, ele me explicou:
_Eddie, nós estamos passando por um momento muito complicado. Um perigo de proporções cósmicas está para despertar e precisa de nossa interferência para entrar em mais um ciclo de sono. A palavra “Cthulhu” diz algo a você? Não? Melhor assim. Enfim, por coincidência ou não, recebemos ontem uma triste notícia: um dos moços de sua geração foi morto na Floresta Negra por um demônio. Nenhum de nós pode ser destacado para investigar agora, mas ouvimos falar que revenants estão sendo vistos na região, o que é um problema urgente a ser resolvido. Houve um conselho e seu avô indicou você como o mais qualificado para assumir o caso.
Fiquei em silêncio absorvendo a notícia. Como neto de anjos, e não filho, não havia nada que me obrigasse a me envolver em uma luta perigosa com um demônio que já havia matado um de meus iguais. Entretanto, meu avô sabia – e meu pai também – que alguém que tem sangue de anjo não pode dar as costas a um dever. Como superintendente das Operações Especiais Classe B da Scotland Yard, eu já havia enfrentado abominações que, sem serem demoníacas, nada ficavam a dever a esses perigosos inimigos. Eu era qualificado para a tarefa, o que não significa que eu gostava disso.
_Terei alguma ajuda, pai? _perguntei, meio como dúvida, meio como apelo. Eu estava dolorosamente consciente de que quatro dos meus cinco subordinados não estavam em condições de me ajudar no momento e um deles forçosamente deveria ficar de plantão no departamento. Ou seja: estava só. Completamente só.
_O Céu deu carta branca para que você monte um grupo de apoio do tamanho que quiser, mas... _ele disse, quase num sussurro _eu sabia que você está com uma séria baixa de pessoal aqui e que precisaria de toda ajuda possível no menor tempo imaginável. Precisava nada menos de um milagre. Sendo assim, procurei um milagre que Deus colocou na Terra há algum tempo.
Ele tirou um cartão do bolso do casaco e me entregou. Era um cartão simples, com um nome e um endereço: “Edward Oakwood – Delphos Terrace, Londres”. Num canto, uma data e um horário estavam anotados a lápis.
_Oakwood...? _perguntei. _Não tinha algo a ver com pilhas...?
_Sim, ele é o mesmo Oakwood que desbancou a Daniell & Sons do negócio de pilhas e que determinou como meta domar a eletricidade, essa história toda. O que poucos sabem é que, além de empresário e cientista respeitado, ele compra e vende informações. Ele é tão onisciente quanto um ser humano é capaz de ser, e isso já é dizer alguma coisa. Se alguém pode reunir uma equipe de elite para ajudá-lo em tempo hábil, esse alguém é Oakwood. Fui consultá-lo ontem e ele me entregou esse cartão marcando a consulta de retorno para hoje à noitinha.
Fiquei olhando aquele cartão e tentando lembrar onde mais eu tinha ouvido o nome Oakwood antes. Sem conseguir, dei de ombros e agradeci meu pai, pedindo por mais detalhes da missão que me confiava.
_Ontem à tarde, um dos anjos da morte reportou o desligamento de Richter Michaelson, que estava em visita à Floresta Negra, na Alemanha. Aqui nesse mapa, você pode ver o ponto exato. Ele ainda não está em condições de dizer o que houve, mas parece ter sido uma morte violenta. O mesmo anjo diz ter visto revenants no local onde recolheu Richter, além de ter pressentido um demônio nas redondezas. É tudo o que sabemos. Vá para lá o mais rápido possível após a consulta com Oakwood. Se for ao banco, perceberá que tomamos providências para que suas despesas de viagem sejam cobertas.
Meu pai se preparou para sair. Antes de se despedir definitivamente, deu-me um beijo na testa e disse, sério:
_Tome muito cuidado. Eu mesmo estou pronto a mexer com forças muito acima de minhas capacidades e seria um impacto muito grande para sua mãe perder nós dois ao mesmo tempo. Tome cuidado com Oakwood, também. A mente dele é a coisa mais estranha que jamais encontrei. Fui incapaz de dizer o quanto de bondade e maldade se esconde em sua alma. Parece ser um bom homem, mas convém ficar atento. Até a volta.
(...)
Passei o tempo todo da viagem de táxi até Delphos Terrace me perguntando qual seria o mistério de Edward Oakwood. Enquanto esperava o horário da consulta, continuei carimbando as fichas vencidas e foi quando descobri onde o tinha visto antes: Oakwood era registrado como “sobrenatural”. Mas o que realmente me espantou foi sua classificação: “Tipo: humano. Anormalidade: inteligência”.
Estávamos vivendo tempos em que, aparentemente, se achava um gênio a cada esquina. Alguns mais geniais e polivalentes que outros, mas o que não faltavam eram pessoas que sabiam fazer um pouco de tudo e pareciam saber o significado de todas as palavras difíceis da língua inglesa. Todo mundo parecia ter seu invento particular movido ou não a vapor – eu mesmo contava com um minitelégrafo, cuja antena fora feita por mim mesmo. Ele funcionava com uma pilha Oakwood, agora que eu parava para pensar.
Em um mundo que parecia tão cheio de grandes cérebros, era estranho se deparar com uma inteligência considerada sobrenatural. Meu pai não havia conseguido mapear a mente dele e sentir suas inclinações, mas... O estranho é que ele continuasse sendo considerado humano, apesar de tudo. Sim, eu estava muito curioso.
O taxista levou o veículo até os arredores de Londres e parou diante de um portão, que dava acesso a um bosque, com as palavras “Delphos Woods” entalhadas nele. Ele se desculpou, mas era proibido que veículos a gasogênio seguissem pelo caminho até Delphos Terrace. Recebeu seu pagamento e foi embora, sendo que pude sentir seu alívio ao fazer isso.
Fiquei parado sem saber o que fazer, até reparar em uma campainha de corrente, como se vê nas casas da cidade. Puxei a corrente e esperei. Um homem surgiu na janela da casa do porteiro e perguntou por meu nome e meu horário marcado.
Após esclarecê-lo, o portão se abriu sozinho. O porteiro disse que Delphos Terrace ficava ao fim do caminho que cruzava o bosque e ofereceu-me duas opções: usar um cavalo animal ou mecânico. O cavalo mecânico em questão era do tipo duas rodas e não tinha gasogênio ou cano de escapamento, o que era estranho. Não sei se você chegou a ver os primeiros modelos elétricos construídos por seu pai, James: era um deles.
Declinei os dois oferecimentos e disse que iria a pé. Pensei que o homem fosse insistir, mas ele apenas deu de ombros. Senti que ele já tinha visto coisas estranhas o bastante em seu posto para não questionar os clientes de seu chefe. Ainda assim, fui cauteloso e, só após a primeira curva do caminho me embrenhei entre as árvores e liberei as asas. Quando nasci, as cidades cheiravam a suor e dejetos de cavalos. Naquela época, cheiravam a fuligem e óleo queimado. Era difícil encontrar ar tão puro quanto o daquele bosque onde eu estava, o que tornava voar um verdadeiro prazer.
Cheguei ao fim do caminho mais rápido que qualquer transporte. Fiquei abismado com o tamanho de Delphos Terrace, ao ver a mansão pela primeira vez. Fui conduzido por um mordomo até uma jovem que aparentava ser mais nova que eu.
_Boa noite, senhor Michaelson _ela cumprimentou, graciosa. _Sou Holly Oakwood. Meu marido o espera. Queira ter a bondade.
Ela indicou uma porta, que dava acesso a uma biblioteca de dimensões indecentemente grandes. Sentei-me à frente de uma escrivaninha e esperei, sem conseguir evitar pousar os olhos nos muitos aparelhos da sala. A maioria era familiar e, ao mesmo tempo, estranha. Por fim, ouvi um ruído de alguém se aproximando. De trás de uma das prateleiras, surgiu um rapazinho loiro que, quando muito, teria dezesseis ou dezessete anos de idade. Tinha um cabelo rebelde e usava óculos de lentes muito grossas, o que tornava sua aparência particularmente exótica. Quando me viu, deu um sorriso simpático, mas ligeiramente irônico – naquela época, eu não sabia que era sua expressão habitual – e me estendeu a mão.
_Boa noite, Sr. Michaelson. Sou Edward Oakwood. Sim, tenho dezoito anos, não, não sou mais inteligente que a média, apenas tenho um cérebro incomum. Dizem muitas besteiras a meu respeito. Sente-se e não dê atenção à minha mão. Vou aproveitar o tempo de nossa conversa para escrever algumas cartas.
Fiquei um pouco atrapalhado para respondê-lo, então, limitei-me a sentar e dizer que não sabia por onde começar. Eu não sabia se fazia uma breve introdução sobre como anjos e demônios duelavam no espaço imaterial desde a aurora da Humanidade, ou se falava sobre mim mesmo, um neto de anjos e superintendente da Scotland Yard, trabalhando no setor responsável pela contenção de ameaças sobrenaturais em Londres. Ou talvez fosse melhor ir direto ao assunto...? Oakwood resolveu meu problema.
_Meu caro, sei exatamente quem você é. Sei que é neto de um anjo da guarda, subordinado de Miguel, como sei que decidiu largar a vida normal que poderia ter para despertar seus poderes e proteger a Humanidade. Também sei o que o traz aqui. Minha profissão é saber.
Imediatamente, ele resumiu a situação, tal como meu pai a descrevera. Eu não sabia até que ponto Oakwood a tinha ouvido na consulta feita
por meu genitor, de modo que fiquei sem saber a real extensão de suas capacidades de obter informações. Quando ele terminou a breve exposição, confirmei sua fala, com algum alívio por ter sido tirado do embaraço:
– É tudo como diz, senhor. Entenda, se fosse apenas o demônio, não seria tão ruim, mas eu soube que ele é do tipo que pode criar revenants. É trabalho demais para uma pessoa só! Não posso desfalcar ainda mais meu setor na Yard. Então... Quem eu poderia chamar? A quem recorrer para me ajudar em algo tão arriscado?
_Você veio ao lugar certo – Oakwood sorriu. – Eu soube hoje de manhã que você me procuraria, então, coloquei meu telégrafo sem fio para trabalhar. Montei para você um grupo de apoio composto de alguns especialistas. Antes de protestar, como parece pronto a fazer, deixe que eu apresente a ideia.
Oakwood retirou alguns papeis de uma pasta ao lado dele e me mostrou. Eram algumas fotos e laudas datilografadas. A primeira foto que peguei foi a de um homem moreno e robusto, muito bem vestido.
_Ele é Henry Baskerville _ Oakwood esclareceu _ filho do meio de Sir Charles Baskerville. São de uma família muito antiga e tradicional do Devonshire, perseguidos desde o século XVII por um demônio que possui corpos de cachorros. Mr. Baskerville sobreviveu a vários ataques do Cão dos Baskervilles e não é exagero dizer que metade do que já foi escrito sobre demônios em termos racionais foi feito por ele.
“A seguir, temos um dos pupilos prediletos do Dr. Hesselius, que é a maior autoridade em eventos sobrenaturais da Europa _nesse ponto, Oakwood me entregou uma fotografia de um jovem com um traje de formando, segurando um diploma. Era um rosto grave e decidido. _Ele indicou o Dr. Abraham Van Helsing, dizendo se tratar do ‘maior conhecedor do comportamento e fisiologia dos mortos-vivos entre os humanos, além de possuir uma têmpera de aço’. Francamente, ainda não decidi se isso é uma recomendação ou um aviso.
“Eu serei o terceiro integrante, naturalmente. Não tenho o mesmo currículo que nossos amigos anteriores em termos de ameaças demoníacas, mas sou razoavelmente conhecido por minhas teorias a respeito da alma humana. O que me levou à construção disso.”
O rapaz levantou-se e trouxe até mim um aparelho curioso. Parecia uma mochila metálica com vários medidores e válvulas, mas tinha algo semelhante a um rifle ligado a ela por um cabo. O conjunto era bem pesado, mas não mais do que o equipamento que os soldados britânicos levavam para a guerra.
– E o que é isso? – perguntei, tentando decifrar o que indicava o dial que havia próximo ao punho do “rifle”. Oakwood tinha uma expressão ligeiramente maníaca quando deu sua explicação. Juro, James. Você conhece essa expressão, tenho certeza.
– É um gerador de descargas elétricas reversas. Ele produz algo semelhante a um raio atmosférico. Ainda estou buscando sua verdadeira natureza. O importante é que essas descargas, em baixas freqüências, causam tanto dano quanto qualquer outro raio. Em freqüências suficientemente elevadas, começam a interagir com almas, o bastante para paralisá-las e até mesmo conduzi-las. Sua fonte de energia é uma rocha amarela que pode ser encontrada em nossas colônias africanas. A energia contida nela é tão grande que pode causar doenças em quem a manipula. Felizmente, nada que um pouco de chumbo não resolva. Deixe-me demonstrar a potência da arma.
Então, ele pegou o atirador e mirou em uma cadeira no canto da sala. Um raio avermelhado e intenso deixou o cano e destruiu o objeto. Depois de um girar de botões, o moço atirou novamente e o raio se limitou a atravessar as coisas.
– Vê? – Oakwood me disse, tranquilamente. – A arma perfeita para nossa empreitada. Por via das dúvidas, na época, construí mais três dessa belezinha. É por isso que nosso grupo, além de você, terá mais quatro integrantes. Espero que esteja satisfeito.
– Perfeitamente _concordei, por pura falta de argumentos em contrário. _E o quarto integrante? Quem será?
– Ele ainda não confirmou presença. Irá se encontrar conosco em uma estação em Paris. Nesse ínterim, inclusive, posso ser obrigado a convidar outra pessoa. Não quero criar em você falsas expectativas e frustrá-las, depois. Partimos amanhã, se não for inconveniente.
– De maneira alguma.
Nesse ponto, eu não sabia o que pensar. Quatro especialistas em criaturas sobrenaturais armados com raios da morte continuavam a parecer um grupo pequeno e frágil ao extremo. Por outro lado, meu pai tinha muito respeito por Oakwood, e isso não era algo de se jogar fora. Não me restava alternativa além de pagar para ver.
Mais literalmente do que eu gostaria, na verdade.
Tentei mais uma vez perguntar sobre os custos da empreitada, mas o moço pegou meu braço e se ofereceu para me conduzir à saída, sem me dar ensejo a perguntas. No caminho, subitamente, Oakwood levantou os braços sem razão aparente e, em uma fração de segundo, uma bola de rúgbi ficou presa entre suas mãos. Ouvi uma praga ser dita pela metade e foi quando vi que Delphos Terrace não era um lugar onde você parasse de se surpreender.
No topo de uma escadaria estava Oakwood. Mas ele também continuava do meu lado, sereno como sempre. A ilusão foi momentânea e logo percebi que o Oakwood do alto das escadas era mais forte e não usava óculos. O que estava a meu lado atirou a bola de rúgbi de volta ao dono e comentou, sorrindo:
_Vai ter que fazer melhor, Dan. De preferência, não na frente dos clientes _ele se virou para mim. _Perdoe meu irmão gêmeo. Ele faz isso o tempo todo.
_Um dia você vai se distrair, Ed _seu irmão gritou de volta, enquanto saía de meu campo de visão. _Ninguém é perfeito. E eu estarei lá nesse dia.
_Não se engane por suas tentativas de me pregar peças, _Oakwood me disse, em voz baixa, enquanto alcançávamos a porta do saguão _Daniel é o chefe da equipe de engenheiros da mansão. E um excelente atleta. Fui eu que idealizei as armas de raios, mas foi ele que as construiu.
_Tão inteligente quanto você, imagino.
_Quanto à inteligência, arrisco dizer que sim. Mas se você fala das anomalias cerebrais que me dão uma memória perfeita e a habilidade de pensar em várias coisas ao mesmo tempo, essas ele não tem. Graças ao Pai Celestial.
Mais uma vez, Oakwood me impediu de fazer perguntas, abrindo a porta e me mostrando o caminho de saída.
_Foi um imenso prazer, Mr. Michaelson _ele disse. _Encontro você amanhã, na estação.
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Paro aqui de usar a carta de Mr. Michaelson porque ela é por demais extensa e detalhada. Se quiser, no futuro, pode ler à vontade. A próxima carta é de Mr. Henry Baskerville, que fez o melhor retrato de seus companheiros de caçada entre os que escreveram.