O Corvo e o Druida

O Corvo e o Druida

Em um tempo distante dos dias de hoje havia um druida muito velho e solitário chamado Davkas, rígido em suas práticas diárias e em seu culto à natureza, um homem sábio que se dedicava à cura de diversas pessoas de diferentes povoados que cercavam sua choupana.

Davkas era filho de um druida ainda mais famoso que ele, ficou famoso por ser o “médico” celta das legiões romanas que conquistaram os gauleses.

Mas o prestígio trouxe a soberbia ao coração do velho Davkas e uma tarde onde fumava cachimbo e fazia nada em sua varanda, surge um menino com um corvo doente nas mãos e lhe diz:

- Sábio druida, você poderia curar este pássaro que achei caído no caminho?

Olhou com desdém ao menino, hesitou por um instante e se questionou se responderia ou não, por fim disse:

- Sim eu poderia, mas isso não quer dizer que eu o farei.

- Mas se o senhor pode, porque não o faz? Ele não é parte da natureza sagrada que vocês druidas cuidam?

- Quem você pensa que é para dizer que coisas são ou não são cuidadas pelos druidas, suma daqui com esta ave moribunda, se está morrendo é porque a natureza sabe o que faz.

O menino sem argumentos, porém triste, saiu da presença do velho amargo sem dizer coisa alguma.

Deixou o corvo na beira da estrada e seguiu, um mercador passou e achou a ave ali se mexendo, pegou e levou ao velho Davkas.

- Sábio Davkas, você poderia curar esta ave que achei no caminho.

- Mais um! Não vê que estou aqui a meditar sobre questões mais profundas da existência, certamente este corvo está empesteado e vai mesmo morrer, você deveria por onde o achou antes que contraia algo mortal como ele contraiu, o homem saiu correndo e arremessou a pobre ave no caminho onde a encontrou.

Mais ao final do dia, uma senhora vestindo um manto negro chegou à sua porta, se arrastando:

- Me ajude velho druida, estou muito ferida, sou uma feiticeira muito poderosa e posso lhe recompensar realizando seus sonhos mais secretos se me ajudares.

Prontamente levantou-se e conduziu a senhora para dentro de sua casa, a deitou em sua cama e foi olhando o braço dela que sangrava com vigor.

- De onde a senhora disse mesmo que era? Conheço quase todas as feiticeiras da região.

- Eu não disse de onde era Davkas.

- Como você sabe meu nome? Onde você se feriu? É um demônio disfarçado?

- Quantas perguntas velho druida! Sou o que disse que era. Uma feiticeira.

Depois de fazer o curativo e dar-lhe o devido cuidado, ele a deixou dormir, foi uma noite longa onde a senhora teve muitas dores, mas com os esforços do eremita ela conseguiu sobreviver.

Na manhã seguinte foi acordada pelo druida que lhe ofereceu chá e pão.

Enquanto comiam, a velha disse ao druida:

- Qual seu maior sonho Davkas?

- Queria voltar a ser jovem, um menino novamente...

Antes de terminar de dizer, viu-se modificado, como um vento que passasse o cegando com sua força, estava no campo aberto perto da vila e não era mais um velho e sim um menino.

Seu primeiro ímpeto foi correr, correu o mais que pode para a vila, chegando lá se enturmou com outros meninos e foi brincar, jogou jogos, correu, pulou se escondeu, até roubou maçãs de uma casa com os outros meninos, mas descendo da árvore, sentiu uma fisgada na perna seguida de uma imensa e absurda dor.

Seu pé estava quebrado, um garoto o escorou e chegaram à vila, onde a mãe do menino, disse:

- Vamos levá-lo ao velho Davkas.

- Mas eu sou o velho Davkas.

Todos riram achando se tratar de uma piada, mas relutante se calou não entendeu nada, que magia dos infernos seria aquela da velha de negro?

Indo pelo caminho a mãe se lembrou que tinha algo a no fogo em sua casa e precisava voltar antes que toda a choupana pegasse fogo:

- Filho leve o seu amigo, eu vou até em casa já volto.

- Sim mãe, eu levo o pobre corvo ao Sr. Davkas.

- Mas eu não sou um corvo! - disse ele.

Mas sua voz não saía, apenas um gralhar de sua boca que agora era um negro bico, não estava mais escorado, mas sim nas mãos do menino que dizia.

- Calma amigo estamos quase chegando. Pare de se bater.

Viu o casebre do druida e ele sentado na varanda a fumar um cachimbo, Davkas pensou, devo estar louco, sou eu ali. Que inferno é este que estou vivendo.

- Sábio druida, você poderia curar este pássaro que achei caído no caminho?

O velho olhou com desdém ao menino, hesitou por um instante e se questionou se responderia ou não, por fim disse:

- Sim eu poderia, mas isso não quer dizer que eu o farei.

- Mas se o senhor pode, porque não o faz? Ele não é parte da natureza sagrada que vocês druidas cuidam?

- Quem você pensa que é para dizer que coisas são ou não são cuidas pelos druidas, suma daqui com esta ave moribunda, se está morrendo é porque a natureza sabe o que faz.

Assim Davkas convertido em ave foi deixado na neve gelada e o frio foi tomando conta de seu corpo, a respiração foi diminuindo, o coração batendo lento e a dor do frio o dominando por completo, até que sentiu suas córneas congelando e os últimos suspiros seriam lançados, quando pulou com um susto imenso, estava nas mãos quentes de um homem enorme e rude, ele o enrolou em lã de carneiro e o aqueceu dentro de sua roupa, ele achou nisso conforto e energia para viver, foi levado novamente ao velho Davkas, à essa altura o corvo Davkas sabia tudo que ocorreria e lamentava sua desdita pelas mãos da feiticeira de negro.

Quando o velho Davkas disse sobre o corvo estar com peste, o mercador simplesmente arremessou o corvo longe na neve, mais ferido e com mais dores.

Lamentou-se por tudo que havia feito, como poderia ele saber aquilo que a ave tinha sentido por sua ignorância?

Novamente à beira da morte surge no frio a feiticeira, o pega do chão e lhe que pergunta:

- Agora você entende o que eu passei não é?

- Sim entendo.

- Está pronto para morrer aqui na neve?

- Não faça isso comigo.

- Mas não fiz nada, foi você mesmo que o fez, quando me deixou morrer na neve, eu sou o corvo.

Dizendo isso pegou o pescoço frágil da ave com o gesto de torcê-lo para matar, mas ao apertar o pescoço ele tossiu e despertou, estava novamente em sua casa, de frente à feiticeira que comia um pedaço de pão e tomava seu chá.

Levantou-se aterrorizado e nada disse, em três dias a velha bruxa nada disse a Davkas, nem ele falou mais nada, depois disso a senhora agradeceu eu foi embora, Davkas disse, “adeus senhora morte”

- Adeus não, eu volto em breve.

Deu um gralhar de corvo e saiu voando pela neve.

Fim

lordbyron
Enviado por lordbyron em 21/06/2011
Código do texto: T3048032
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