A Vila Oculta da Fumaça - Cap. 02 - Confissão Perigosa
A kunai atravessa o ar e atinge a tábua, mas bem distante do alvo pintado em seu centro. O péssimo arremesso é acompanhado de muitas risadas. Ymura, sua irmã menor e mais dois amigos brincavam num terreno baldio dentro das ruínas, a área esquecida da vila de Kemuri.
---- Eu sabia que você não era de nada --- disse Auke ---- Essa foi sua última chance e não conseguiu nenhuma no alvo.
---- Essa droga deve estar com defeito --- reclamou Kioko.
---- Você é que não sabe arremessar --- falou Kayta sorridente.
---- É verdade. Deixa eu tentar --- disse Ymura. Ele pegou outra kunai e fez mira, demorando um pouco se concentrando. Logo em seguida arremessou com força e a arma acertou em cheio o alvo, bem no meio.
---- aaaêêêêê! Muito bem irmão! --- comemorou Kayta.
---- Sorte de principiante --- disse Auke.
---- Sorte nada --- falou Ymura ---- Eu venho treinando --- os três olharam para ele.
---- Você vem aqui sozinho? --- perguntou Kioko ---- E sem agente?
---- Não se preocupe. Aqui é bem tranqüilo, você sabe. Além domais, é preciso treinar para se alcançar os objetivos não é.
---- Que objetivo irmão? --- perguntou Kayta. Ymura demorou um pouco pra responder, analisando se deveria falar mesmo, mas logo em seguida desabafou.
---- Meus objetivos são aperfeiçoar minhas habilidades e me tornar um Ninja.
Kayta, Kioko e Auke arregalaram os olhos. Aquela revelação pegou todos de surpresa, pois aquilo soava como loucura. Todos sabiam que na vila de Kemuri não existiam ninjas. Eram consideradas pessoas perigosas e não confiáveis. Os únicos ninjas que eles viam perambular pelas redondezas vinham da Vila da Folha, Konoha.
---- Está louco! --- disse Auke ---- Sabe que em nossa vila é proibido ter ninjas!
---- É verdade. Acho que devemos parar de brincar com essas armas ninja, pois está influenciando você Ymura --- falou Kioko.
---- É mesmo irmão --- disse Kayta ---- Isso não é certo.
---- Quem disse que não é certo! --- retrucou Ymura ---- Todos dizem que ninjas não são confiáveis, mas vemos toda hora ninjas de Konoha por aqui em nossa vila. Kemuri já foi uma vila onde muitos ninjas a defendiam. Por que agora não se pode mais? Toda vila precisa de guerreiros fortes para defendê-la.
---- Mas nós já temos os soldados. Eles nos protegem dia e noite há muitos anos --- disse Auke.
---- Mas não acho certo. Nós é que deveríamos proteger nossa própria vila!
---- Não acho não! --- falou Kioko ---- E é bem melhor assim.
---- Vocês não acreditam que podemos defender Kemuri? --- perguntou Ymura.
---- Ouvi dizer que os ninjas vivem brigando e se machucando --- falou Kayta ---- Eu não quero que se machuque irmão.
---- Exatamente! --- falou Auke ---- Está aí um motivo para deixar essa história de ninja pra lá. Prefiro deixar as coisas como estão, tranqüilas. Vamos, temos que ir, pois já está ficando tarde. Amanhã tenho pescaria, coisa que você não deveria esquecer Ymura.
---- Vamos para casa irmão --- disse Kayta ---- Prometo não dizer nada ao pai sobre o que você disse. Você é um pescador e não um ninja.
De repente a conversa das crianças foi interrompida por um barulho vindo de fora. Alguém se aproximava da casa abandonada. Os garotos se esconderam e espiaram para ver quem chegava.
Eram dois soldados. Eles olhavam diretamente para o segundo andar da casa.
---- Foi daqui que ouvi as vozes --- disse um.
---- Tem certeza? --- perguntou o outro. Ambos estavam armados com espadas.
---- Claro que sim. Minha audição nunca me enganou.
---- Não adianta se esconderem! --- gritou o soldado ---- É melhor vocês saírem logo daí ou vamos ter que entrar e usar a força, ouviram! Vocês têm dez segundos para sair!
Os garotos tremiam de medo, menos Ymura, que agarrava uma pedra na mão enquanto dava instruções aos outros.
---- Auke, guarde a caixa. Eu vou distraí-los e depois agente corre.
---- Como você vai fazer isso? --- perguntou Kioko.
---- Não sei, vou tentar alguma coisa. Ao meu sinal, corram o mais rápido que puderem, ouviram --- disse Ymura, baixinho.
---- Sim --- responderam os três.
Ymura se afastou correndo em direção a uma parte do andar que não tinha parede. De lá deu seu jeito de distrair os soldados, arremessando uma pedra e depois outra na direção deles. Os projéteis atingiram em cheio as pernas do alvo, fazendo-os pular de dor.
---- Agora! --- gritou Ymura. Todos correram para fora da casa enquanto os soldados ainda esfregavam o machucado dolorido. Mas um deles viu os meninos e a menina correrem.
---- Ali! Olhe! Vamos pegar aqueles pestinhas!
Não deu outra. Apesar de saírem em disparada, Ymura e os outros foram apanhados e levados arrastados.