O TÍMIDO

Em um coletivo...

– Ei, garota... me desculpe mas... seu nome é Júnia?

A moça, depois de recobrar os sentidos devido ao susto pela abordagem, delicadamente falou:

– Não, senhor. O meu nome não é Júnia.

– Por favor, me perdoe, eu não tive a intenção de te assustar.

– Tudo bem, senhor , não me assustei - mentiu a jovem.

Passados alguns minutos...

– Senhorita, você tem certeza de não chamar-se Júnia?

–Tenho absoluta certeza de não chamar-me Júnia, moço.

O silêncio só foi quebrado pelo ronco do motor do ônibus deixando a rodoviária.

O homem continuava a olhá-la disfarçadamente. Quando a moça estava quase cochilando...

– Moça, tente lembrar se você realmente não se chama Júnia.

Já indignada...

– Sr., eu posso te garantir que na minha cédula de identidade, na minha certidão de nascimento, ou mesmo o meu cadastro de pessoa física (CPF), tais documentos não me relacionam em hipótese alguma com essa tal de... qual é o nome, moço?

– Júnia! – respondeu, rápido.

– Isso, Júnia!... O meu nome não tem nenhuma ligação com essa tal de Júnia.

O homem, decepcionado, calou-se enquanto passava o seu óculos fundo de garrafa na camiseta para limpá-lo.

Disfarçadamente, a moça lançou-lhe um olhar de soslaio, a fim de saber o que o homem estava matutando e nem mesmo fez questão de mudar-se de lugar.

Tempo depois...

– Moça, pela última vez, me desculpe, mas, você tem certeza de que não é a Júnia?

– Tá bom, tá bom, moço. Eu sou a Júnia, mas, o que o Sr. deseja? – Falou, querendo saber onde aquelas interrogações iriam levar, enquanto encarava o homem que naquele instante corou.

– Não desejo nada, senhorita. Só pensei que conhecia a Júnia – respondeu, enquanto pedia ao motorista para descer no próximo ponto.

Desceu sem ao menos dar um tchau para a suposta Júnia, que talvez fosse, Leilde, Lenice, Naeli, Lenildes, Júlia... não despediu-se da moça, que sem compreender, ficou confusa com aquela insistência e a imaginar, SE ÀQUELA ALTURA DOS ACONTECIMENTOS, O SEU NOME REALMENTE NÃO SERIA JÚNIA.

Este trabalho está registrado na Biblioteca Nacional-RJ

carlos Carregoza
Enviado por carlos Carregoza em 28/11/2006
Código do texto: T303757