Estranho mundo de gigantes.
Sophia abre os olhos, que mundo estranho! Colunas brancas cercam seu refúgio, o corpo está coberto por algo quente, a cabeça repousa em algo macio, quase adormece novamente, mas a curiosidade é maior e lhe mantém acordada. Lembra-se de ter visto gigantes antes de dormir, olha ao redor.
Dois olhos enormes observando ao lado, estende a mão e faz contato. O estranho ser verde e azul emite um ruído muito estranho e agudo, ela gosta. Sente um poder sobre aquela criatura, ele fala quando ela deseja que ele fale, ela o pressiona com os dedos frágeis ao redor da barriga e ele emite esse som engraçado, ela ri.
Olhando para cima ela repara numa estranha constelação, objetos estranhos estão voando sobre ela, voam em círculos, param por vezes, emitem um som melódico, quase hipnotizante. Ela observa. Não consegue nomear essas cores, um daqueles objetos tem uma cor parecida com essa coisa quente que lhe cobre o corpo, não sabe dizer, mas é bonito. Perde-se observando os objetos voadores... até que estes acabam parando de girar.
Irrita-se, aperta seu companheiro verde e azul e ouve seu ruído agudo, ela sente fome. Bota-o na boca, ele protesta com sons irritantes, ela o larga, o gosto não é bom. Como conseguirá satisfação? Escuta ruídos por perto, algum dos gigantes anda ao redor, pois bem, começa a chorar, chora alto, grita e esperneia. Dito e feito, minutos depois um ser enorme com cabelos negros se aproxima, ele mostra-lhe os dentes, isso seria uma ameaça? Ela escuta o ser estranho balbuciando palavras que ela não entende, continua a chorar. Nesse momento é surpreendida, ele a esta levando para longe de seu refúgio! Ele a pega no colo balança, ela se irrita mais ainda.
- Tenho fome!
Ao abrir os olhos depois de tanto choro, observa algo estranho que lhe é oferecido. É redondo, com uma ponta rosada que é posta em sua boca. Como reação natural ela começa a sugar e sente esse líquido morno e saboroso em sua boca, finalmente conseguiu se fazer entender nesse mundo de estranhos, farta-se. O balanço do abraço do gigante vai lhe acalmando, os olhos fecham-se, hora de repousar. Nana neném.
"Imagine um olho não governado pelas leis fabricadas da perspectiva, um olho livre dos preconceitos da lógica da composição, um olho que não responde aos nomes que a tudo se dá, mas que deve conhecer cada objeto encontrado na vida através da aventura da percepção. Quantas cores há num gramado para o bebê que engatinha, ainda não consciente do "verde"? Quantos arco-íris pode a luz criar para um olho desprovido de tutela? Que consciência das variações do espectro de ondas pode ter tal olho? Imagine um mundo animado por objetos incompreensíveis e brilhando com uma variedade infinita de movimentos e gradações de cor. Imagine um mundo antes de "no princípio era o verbo"."
Stan Brakhage (parágrafo inicial de Metáforas da Visão)