Sangue de Dragão - Cap. 64
--- Decisão ---
Em meio a uma imensa nuvem de poeira, que se dissipava lentamente ao sabor do vento, o poderoso dragão Alzimuth jazia agora soterrado sob gigantescos pedaços de rocha bruta que despencaram montanha abaixo, atingindo o leito de um pequeno rio e a mata a sua volta. Apenas sua cabeça e uma das pernas estavam livres. Mesmo diante de toda sua força, não conseguia se desvencilhar da prisão de pedra. Sentia sua respiração enfraquecer. Sua antiga existência poderia estar chegando ao fim.
A alguns metros dali, o corpo físico do mago Farmenis, que agora servia de repositório da essência do dragão Balgast, começava a se erguer lentamente com muitas escoriações. Ele olha para cima, confirmando o rastro de destruição provocado pela avalanche de pedra, e começa a andar em direção a Alzimuth, que fica espantado com a resistência do humano.
---- Maldito.........urami......como? --- o velho dragão se esforça para falar.
---- Irmão ancestral. General de antigas batalhas, uma pena que nosso reencontro tenha gerado esse resultado. Eu não o queria. Entendo sua confusão diante de minha pessoa, mas agora farei com que a venda que está diante dos seus olhos caia.
Balgast se aproxima de Alzimuth e o toca na face ensangüentada. O resultado faz o segundo general arregalar os olhos reptilianos. Uma enxurrada de antigas lembranças inunda sua mente. Lembranças de uma era onde só existiam os deuses e suas primeiras criações, os Dragões; da vinda das raças inferiores e de sua multiplicação como uma praga; da união da raça sob um único líder, Zagaroth, o Sombrio, e da Grande Guerra Draconiana, que definiu o destino dos orgulhosos dragões, relegados ao esquecimento e a humilhação.
---- B...Balgast! --- disse Alzimuth ---- É mesmo você primeiro general?
---- Sim, irmão, sou eu.
---- Mas porque num corpo urami?
---- Fui aprisionado enquanto estava enfraquecido. O maldito ritual criado por Giltarma é realmente muito poderoso --- respondeu Balgast.
---- Uma pena reconhecê-lo somente às portas da morte, Primeiro.
---- Ainda há uma chance para você, Alzimuth.
---- Do que está falando? --- perguntou Alzimuth.
---- Os urami não são os únicos que conhecem o Ritual. Se quiser sobreviver, terá que se submeter a ele.
Enquanto isso em Taram.
---- O Lorde Borgus e o mestre Farmenis eram bons amigos --- disse Orogi ---- Sempre os via conversando.
---- Sim, eu sei --- falou Sarina ---- Mas algo muito sério deve ter acontecido para o mestre Farmenis ir embora desta forma.
---- Vocês ainda são crianças. Não entendem os diversos interesses que percorrem os corredores da Ordem da Magia --- falou seriamente Fucalt.
---- Precisamos descobrir para onde o mestre Farmenis foi --- disse Orogi ---- Temos que falar com alguém na ordem.
---- Não! --- retrucou Sarina ---- Não deve voltar lá.
---- Por que?
---- O sangue de dragão estão proibidos de saírem da Ordem por determinação do Lorde Borgus. Eles estão sendo severamente vigiados. Não só eles como também os magos controladores.
---- Mas porque isso? --- perguntou Orogi.
---- Não sei ao certo. O que dizem é que é porque o mestre Farmenis era o chefe dos magos controladores.
---- Faz sentido --- falou Fucalt ---- Se esse tal Farmenis liderava os controladores, é óbvio que Lorde Borgus juntamente com o conselho tomasse uma medida mais dura contra eles. Com certeza imaginam que os controladores possam estar planejando algum golpe contra o conselho.
---- A ordem não é mais um lugar seguro para você Orogi. Se voltar agora, será preso como os outros. Volte com o mestre Fucalt para esse lugar que encontrou --- disse Sarina.
---- E você vai ficar bem? --- pergunta Orogi. Não conseguia esconder a preocupação com a amiga.
---- Não se preocupe comigo. A ordem tem sido um bom lugar para mim. Em breve me formarei em magia de cura. Pretendo fazer algo bom, ajudando as pessoas. Mas agora tenho que ir, os outros devem estar me procurando.
---- Será que voltaremos a nos ver? --- pergunta Orogi.
---- Espero que sim......mas só o tempo poder dizer. Até lá, se cuida, ok?
---- Pode deixar --- Orogi respondeu com um leve sorriso.
Orogi e Fucalt ficaram mais um tempo na capital do reino, mas logo estavam de volta à estrada. Depois de tudo que Orogi tinha passado, Fucalt tinha se afeiçoado a ele. Estava preocupado com o que o garoto estava pensando.
---- O que pretende fazer agora? --- perguntou finalmente.
---- Não sei --- respondeu Orogi. Estava com expressão de tristeza ---- Meu mestre foi embora e não posso mais voltar para casa. Estou só, não me resta nada --- lágrimas desciam sua face.
---- Você não está só. Eu estou aqui. Volte comigo para Grennmória.
---- Para que?
---- O mundo é um lugar difícil. É necessário preparação para enfrentá-lo. Se quiser encontrar seu mestre, precisa ficar mais forte para encarar os desafios dessa busca.
---- Como assim?
---- Venha comigo. Me permita ser seu mestre a partir de agora e treiná-lo como um guerreiro nos moldes de Grennmória. Você aceita?
A proposta de Fucalt tinha pego Orogi de surpresa. Mas faria qualquer coisa para reaver o único laço familiar que conheceu.
---- Sim, mestre. Eu aceito ir com você.
Fucalt deu um sorriso de alegria.