A Vila Oculta da Fumaça - Cap. 01 - A Caixa Proibida

Flutuando nas águas calmas do rio Takan, os passageiros de um pequeno barco se preparam para retornarem depois de uma tarde de pescaria. A bordo da embarcação estão o senhor Omura Tsunaga, 55 anos, e seu filho Ymura Tsunaga, de dez anos completos.

---- Para um pescador iniciante até que você se deu muito bem --- diz Omura, que começava a remar carregando no barco um cesto repleto de peixes.

---- Obrigado pai --- responde o garoto.

---- Praticando a paciência e as técnicas que lhe ensinei, você não demorará muito para ter seu próprio barco. Sua mãe ficaria muito orgulhosa.

As palavras do pai inundaram a mente de Ymura de lembranças. Já faz cerca de cinco anos que sua mãe falecera, e ele morava agora com o pai e o irmão mais novo. Foram anos difíceis de ausência materna, mas nada como o tempo para cicatrizar as feridas da alma. Hoje a normalidade voltou à casa dos Tsunaga, e o que permaneceu foi a saudade e as boas lembranças.

---- Não fique assim --- falou o senhor Omura, vendo o olhar perdido do filho ---- Tenho certeza que ela está muito feliz e ora por nós --- concluiu sorridente.

---- Sim, pai, eu sei --- falou Ymura, com lágrimas nos olhos, mas devolvendo o sorriso alegre.

Os dois não demoraram a chegar ao pequeno cais nas margens do rio. Desembarcaram a preciosa carga e partiram por uma pequena estradinha de terra, ao lado de outros pescadores que também levavam seus cestos de peixe amarrados nas costas, em direção à vila de Kemuri, atravessando os Campos de Fumaça e finalmente chegando até a muralha que a cerca e protege.

Embora hoje seja um lugar tranqüilo e com certo aspecto bucólico, a vila de Kemuri tem em seu passado momentos tormentosos, repletos de dor e sofrimento. Há trinta anos ela se chamava Kemurigakure, a Vila Oculta da Fumaça, e estava inteiramente mergulhada no contexto da Terceira Grande Guerra Ninja, o conflito que colocou frente a frente as principais nações do mundo. A referência à fumaça é devido ao seu principal evento natural. A vila foi construída às margens de um antigo vulcão adormecido, e seu território é cercado de pequenas lagoas de água aquecida, que sempre exalam vapor.

Ymura e seu pai passam pelo portão principal, sob os olhos vigilantes dos homens da guarda. Como a vila é composta basicamente de pescadores, comerciantes e agricultores, o Senhor Feudal do País do Fogo resolveu instalar aqui uma companhia permanente do seu exército, que com o passar do tempo passou a treinar os próprios habitantes na defesa de seu território.

Próximo ao centro de Kemuri fica o mercado central, onde a maioria dos comerciantes possui seus negócios. Aqui se vende e se compra de tudo, de alimentos a máquinas para a agricultura. É para cá que três vezes por semana Ymura e seu pai se desloca para vender os peixes que pescam juntos.

---- Aqui está Ruoga-san --- falou Omura colocando o enorme cesto em cima de um balcão ---- A pescaria hoje foi boa.

---- É, parece que sim --- respondeu um homem na casa dos cinqüenta anos, trajando roupa branca e avental ---- Vamos checar o peso do material --- o homem levou o cesto até uma balança.

---- Pai, depois dos afazeres, será que posso brincar com os amigos na praça?

---- Se não tiver mais nada para fazer, sim. Mas não demore muito, você me ajudará no jantar. Vou preparar um prato novo que aprendi com um dos peixes que pescamos.

---- Tudo bem --- Ymura deu um sorriso ---- Vou voltar logo. Me deu água na boca só de pensar no jantar.

---- Muito bem, Omura-san, seu cesto deu exatos oito quilos. Aqui está seu dinheiro. Na próxima vez vê se aumenta a quantidade, pois a demanda está crescendo. A partir da próxima semana entregarei encomendas para fora da vila.

---- É mesmo? Que ótimo. Vou me esforçar para aumentar os resultados da pesca. Ou melhor, vamos nos esforçar, não é Ymura --- o senhor Omura afaga os cabelos do filho.

---- Então esse é seu filho? --- perguntou Ruoga.

---- Sim, e se chama Ymura Tsunaga. Herdeiro do melhor barco de pesca de toda a vila de Kemuri. Quando eu não puder mais, ele dará continuidade à tradição dos pescadores da família Tsunaga.

Ao ouvir as palavras do pai, Ymura abaixa a cabeça, pensativo. Uma conhecida sensação apertava seu pequeno coração.

---- Parece que ele não está muito entusiasmado com a idéia --- comentou o senhor Ruoga, sorridente.

---- Isso não é nada demais --- falou Omura ---- É só timidez, não é Ymura?

---- S..sim, pai.......sim.

No final daquela tarde, Ymura, acompanhado de sua irmã mais nova, Kayta, e dos amigos Auke e Kioko, se dirigiu até a parte velha da vila, mais conhecida como Ruínas. Nesta área só existem casas velhas ou destruídas que foram esquecidas há muito tempo depois da guerra e nunca foram restauradas. Esse local abrange pelo menos três quarteirões. Ymura gosta de vir aqui em busca de tranqüilidade para brincar a vontade, apesar dos riscos de se encontrar bêbados e assaltantes.

---- Não sei por que você sempre tem que trazer sua irmã a tira colo --- disse Kioko.

---- É verdade --- apóia Auke ---- Meninas não deveriam andar com meninos, pois não gostamos das mesmas coisas.

---- Meu pai tem que fazer entregas na vila e eu sou o único que pode cuidar dela. Mas não se preocupem, ela sempre andou com agente e sempre guardou segredo. Não é Kayta?

---- Claro que sim --- responde a menina ---- Só os idiotas do Kioko e do Auke é que não confiam em mim.

---- Por falar em segredos. Hoje vamos brincar com a caixa? --- pergunta Auke.

---- Claro que sim, seu idiota --- responde Kioko ---- Diferente de ontem, hoje não vou perder de você no tiro ao alvo.

---- Isso é o que vamos ver. Vamos!

Assim, as quatro crianças adentram ainda mais as ruínas antigas até chegarem num casarão de dois andares, sustentado milagrosamente por algumas paredes ainda de pé. Eles sobem as escadas até o segundo piso, examinam o lado de fora para ver se não vem ninguém, já entrando no clima da brincadeira, e retiram um pequeno baú de dentro de um armário caindo aos pedaços. Kayta fica eufórica.

---- Hoje eu quero arremessar também. Você prometeu Ymura.

---- Está bem, mas tenha cuidado, esse negócio é afiado --- falou o irmão.

Ymura abre a caixa sob o olhar atento dos companheiros e da irmã. O conteúdo é composto por algo proibido na vila.

Armas.......mas não simples armas........armas ninja.

MiloSantos
Enviado por MiloSantos em 11/06/2011
Código do texto: T3027438
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.