CAÇADOR DE DRAGÕES (Cap.1-1)
CAPITULO I
INTRODUÇÃO
Uma abastada aldeia no meio de uma relva serene que contrasta ao vento, balançando-se suavemente, dançando no ritmo da brisa que sopra, foi domínio de feras perigosas outrora. Quem hoje a descobre tem compensado o esforço de talvez muitos quilômetros de viagem pela paz e o canto dos pássaros campestres que voam no céu claro em dias de sol.De todas as cores e espécies, entrelaçam-se no ar. Enquanto cantam, dançam unindo-se a toda a maravilha colorida e intensa que é a aldeia de Portladonn.
As casas da aldeia são em sua maioria de pedra. Os telhados feitos de toras de madeira amarrados com cipós dominavam o gosto dos aldeões que iam muito longe buscar a matéria-prima que compunha seus casebres. As florestas da região ficam a quilômetros de Portladonn, e apenas uma é utilizada para este fim, pois nenhum homem se arriscava a adentrar outras florestas que não a Floresta Pacífica. Tem este nome até hoje porque nunca ouve derramamento de sequer uma gota de sangue neste lugar. Em contraste, as demais florestas eram repletas de histórias amedrontadoras e misteriosas sobre criaturas sanguináreas e violentas. Histórias passadas de pai para filho, mas nunca confirmadas.
Existe um motivo para as histórias assombrosas que permeiam as famílias de Portladonn, pois para tudo há uma origem, uma raiz. A fonte destas histórias é outra história, porém esta é real.
Na época em que sequer existia aldeia, Portladonn era simplesmente uma campina. Nestes tempos os dragões abundavam a Terra e dominavam diversas regiões, causando medo e pânico em todo o mundo. As pessoas não saíam de suas casas, pois tinham medo de ser apanhadas durante um vôo de uma destas criaturas. Um mergulho rasante seria fatal para a presa. Esta era ficou conhecida como Era dos Dragões.
Diante desta situação caótica, observando pasmos à proliferação dos dragões na face da Terra, um grupo de homens corajosos uniu-se a fim de pôr um basta na onda de ataques e mortes que vinham ocorrendo incessantemente. Obviamente lutar com as mãos nuas contra um dragão não seria a idéia mais inteligente. Por outro lado, inteligência é a maior arma do ser humano, capaz de construir outras armas ainda mais devastadoras do que qualquer criatura que já tenha pisado em solo ou voado em céu deste nosso planeta.
Unidos, decidiram os homens utilizar de meios como catapultas e explosivos para atacar as feras. Dirigiam-se ao local pré-determinado, preparavam as catapultas com as devidas pedras a serem lançadas já a postos, a disfarçavam com folhas e troncos de madeira e aguardavam o momento oportuno para o ataque. Seria uma jorro de pedregulhos fulminante, algo em torno de cinco pedras pesando toneladas sendo arremessadas ao mesmo tempo e deveriam todas acertar a cabeça do dragão. Caso algo desse errado, o que ocorria por várias vezes: pernas para que te quero!
Os dragões dificilmente iriam de encontro aos guerreiros, pois para que a investida ocorresse com sucesso era necessário que os mesmos mantivessem-se disfarçados, caso contrário seriam vistos e digeridos, provavelmente antes que conseguissem cortar os cipós que prendiam o braço da catapulta. O meio encontrado era atrair estes gigantescos animais para perto das armas mais poderosas a fim de que fossem atingidos. Escolheram entre os guerreiros alguns para exercer esta nobre função. Estes bravos homens ficaram conhecidos como Caçadores de Dragões. Uma nomenclatura louvável para quem iria à caça das feras gigantes e teria de sobreviver às suas investidas.
Esta arriscada profissão requeria mais do que os próprios punhos e fôlego para que não houvesse morte do Caçador.
Discutiram em reunião sobre as armas que iriam utilizar e resolveram pelo uso de bestas e explosivos de pólvora negra ordinária. Outras opções possíveis seriam espadas, machados ou tacapes e lanças, mas a couraça dura como diamante dos dragões não permitiriam o uso destas ferramentas, além de serem armas para combate corpo a corpo enquanto a besta e os explosivos poderiam ser usados à distância.
Decididas as armas e estando estas em mãos partiram os guerreiros para uma guerra sem provável retorno. Era um experimento e todos sabiam disso, mas o que não sabiam era se voltariam vivos, se o plano funcionaria ou não. Nem ao menos poderiam dizer se as pedras enormes surtiriam efeito se acertassem um dragão ou se de fato alvejariam algum. Contavam com a sua fé apenas e muita disposição física e espiritual.
Os homens que formaram o grupo de combate possuíam em seu seio pessoas de diversas zonas. Desde a cidade do frio norte chamada Alburgh, devido ao seu fundador Hugo Alburgh até a cidade do extremo sul conhecida por Sarina, em homenagem à filha do imperador Dante que dominava o local com mãos de ferro e foi o idealizador desta cruzada. Havia ainda homens do deserto de Moabe, Cidade dos Milagres e da região montanhosa de Paoo-Mé.
O plano de combate consistia em duas fases: a atração do dragão e o ataque surpresa. Na primeira fase os Caçadores iriam em busca da fera e ao localizá-la deveriam chamar sua atenção através dos explosivos; mais pelo estrondo do que pelo impacto que causavam.Em seguida deveriam com muita destreza atirar as flechas da besta em um dos olhos do dragão. Os olhos eram a única parte vulnerável. A dor e agonia fariam com que o atirador fosse caçado incansavelmente e, tenha certeza, ele jamais seria esquecido até que fosse devorado. Após, o Caçador deveria retornar à base, onde estariam os outros homens com as catapultas armadas prontas para a fase final: lançar as cinco pedras sobre o dragão que estaria seguindo a isca.
Havia um plano e pessoas dispostas a participar deste plano.Restava ainda saber o fim desta jornada.