O Dia Em Que Deus chorou...

Ele sentou-se a beira dela muito quietamente deram-se as mãos e o olhar de ambos seguiram na mesma direcção... as lágrimas falavam por si, as palavras eram desnecessárias, sofriam tanto os pequeninos que até elas as palavras deitaram a correr, para não testemunharem tamanho holocausto.

Viam O Vale seu lar de outrora perdendo-se nas brumas, portas fechadas, caminhos partidos, o malabarista perdendo a magia, ela sem ele ele ela perdidos no limbo da morte... tudo destruído e no lugar somente o abismo dos cacos de sonhos em gritos jamais compreendidos...

Viam o tempo entregando-se a velhice sem melodia... e a vida desistindo da justiceira espada, o circo quedou a lona e a bandeira, o gato de bota amarela, Doka a borboleta.

Todos num adeus mudo sem volta.

A montanha e o lago, a bailarina sem pernas que tanto dançava congelou – se no abandono,no templo do Mestre não ouvia-se mais preces... mas apenas os passos das trevas

As lágrimas rolavam e os pequeninos estremeciam de frio naquela solidão de dor, pois os dois estavam transformando-se em ecos de fantasmas d’um passado que estava partindo para não mais voltar.

...E

Choravam sem som, sem cor, sem luz, olhando juntos para a mesma direcção.

Uma formiguinha atarefada ia passando e quando viu tal cena, sentou-se ao chão esquecida da folha que carregava e pôs-se a chorar também, lá veio a primeira estrela e ao vê-los assim em tamanho desalento quedou-se a chorar.

A madrugada ia longe... e quando menos esperou-se aconteceu! Chorava a terra, o mar e o céu ao derredor dos pequeninos.

Eloha, não suportando tantas lágrimas no que era para ter sido sua perfeita criação , perguntou:

- Porque meus filhos... porque? Dei-lhes o que mais tenho da valor... a vida e o amor, por que estais vós os dois assim?

A menina olhou dentro dos olhos do menino.

O menino dentro dos olhos da menina.

Apertaram-se mais ainda as mãos , em silêncio e ainda em lágrimas cada um ao mesmo tempo estendeu a mãozinha livre e aberta em direcção ao Aba.

Quando Ele , viu o que estava na palma da mão de cada um, comovido os abraçou e junto com os pequeninos chorou.

Assim... aconteceu.

Os pequeninos que estavam deixando de existir, abraçados com Deus...chorando,contemplaram o dia que jamais nasceu do fim do mundo.

Quando roubam-lhes a última chance de sonhar...

o ponto final bate o martelo.

Loubah Sofia - Alma Feita De Ti

Loubah Sofia
Enviado por Loubah Sofia em 31/05/2011
Reeditado em 06/04/2014
Código do texto: T3004574
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