"Depois da morte"
Andava pelas ruas desvairadamente, não percebia que se distanciava cada vez mais do seu mundo. Marcas daquela vida ainda viva, espalhadas pelo chão.
A cada passo dado, um pensamento divagado. A cada suspiro emitido por sua tão cansada respiração, deixa nítido a então existência de uma profunda dor, uma dor ainda latente, insípida e ainda dentro daquele cadáver em vida envolvido.
Um olhar para traz, talvez numa tentativa de redimir-se, fora dado momentaneamente.
Involuntário gesto. Casual momento. Caminhada pensada e pesada. Ela invadia as ruas por onde passava, deixando apenas o rastro ainda obscuro de suas passadas.
Seus pensamentos, cansados da seqüência não ordenada, permitiram-se o abandono. Então, sentindo-se sozinha, distante de pensamentos e realidades, aprofundou-se em seu caminhar “latente, pesado, imorredouro”.
Enveredou-se em vales tão obscuros, caminhos estreitos e úmidos. Tão distante da luz e do ar, próximos demais das profundezas do perdido. O perdido mundo ao qual havia se entregado.
Logo adiante, observando as úmidas árvores escuras e sombrias, descansou seu peso sobre seu corpo ainda inerte. Olhou para os lados, mirou-se em um espelho de águas escuras, não conseguindo observar seu semblante. Concluiu que pouco restava daquela mulher.
Aquela a qual abandonará os desejos, as loucuras e as mais incessantes alegrias. Um ser ainda tocado pelo amor e pela paixão.
Ali, prostrada naquele vale sombrio, fez emergir as mais doces recordações, dando-se o direito de reviver, mesmo que por pouco tempo, aqueles prazerosos momentos de vida.
De súbito, sentiu-se novamente disposta a prosseguir seu caminhar. Acelerou ainda mais os passos, não deteve seu olhar, não deixou-se seduzir pela beleza que avistava ao longe.
Estreitos eram as trilhas daquele vale que a deixavam conduzir como máquina, bastando seguir, maquinalmente, os caminhos indicados por alguém, por um alguém que não era visível, mas que tinha sua presença sentida.
De repente, parou. Olhou para frente sem poder sentir , voltou-se para trás, sentiu a saudade, sentiu um arrepio, teve tempo e pensou.
Rompendo forças invisíveis aos seus olhos, correu em direção contrária, transpassando muros imaginários, ervas daninhas que lhe agarravam pelas pernas, mãos que lhe seguravam , venceu uma a uma, e finalmente parou.
Teve medo de olhar para trás, permitiu-se parar, respirar e chorar. Lavou-se com suas lágrimas e naquele mesmo lago escuro e sombrio deixou cair gotas de suas doces lágrimas.
Como de ímpeto, as águas escuras transformaram-se em límpida e potável água. Levantou-se, admirou seus lindos cabelos, beijou sua face encostando seus lábios na água, que paralisada lhe retribuiu o beijo.
Envolveu-se naquele momento, purificou-se daquela água e continuou a voltar.
Sim, voltar das trevas, do submundo, do vale perdido. Ela, que ali estivera por longas horas, correndo de algo que não via, mas que conhecia. Fugindo de sentimentos e pensamentos que teimavam existir. Rendeu-se, aceitou pacificamente àqueles sentimentos e lutou para que pudesse retornar em tempo.
A volta, caminhava lentamente, ainda observando a paisagem amena e vigorosa. Observou pássaros, borboletas, árvores frondosas e no céu, sim!, um Céu, aquela trilha havia a levado para um céu...
Céu azul , com tapete azul e montanhas azuis. Um Céu com portas, com estradas, com pessoas, com pássaros, um céu interminavelmente infinito. Um Céu habitável, que a acolhia de uma longa caminhada.
Observou sua imagem, novamente, nas águas límpidas do mesmo lago, que parecia então a segui-la. Mas teve a impressão de que ele apenas a guiava. Guiava para enfim recolher-se ao céu.
Do outro lado, num lado distante daquele outro, em que tão saudosa encontrava-se “ela”, havia um outro, um outro humano, desconsolado e triste.
Aparentando cansaço e enorme tristeza, observava sob um ponto de madeira, o fluir daquelas águas, as águas que desciam de um lago , além daquela região.
Ele, tentando levantar sua cabeça, observou que nas águas haviam refletidos imagens.
Surpreso, assustado e feliz, assistiu nas águas daquele lago, momentos que vivera ao lado de sua amada, que fora para os braços do eterno.
Viu-a de todas as formas: triste, assustada, banhando-se com as águas do lago, viu-a correndo, cantando, sorrindo e enfim conseguiu senti-la.
Ela sorriu, fechou seus olhos e dormiu um sono profundo.
Andava pelas ruas desvairadamente, não percebia que se distanciava cada vez mais do seu mundo. Marcas daquela vida ainda viva, espalhadas pelo chão.
A cada passo dado, um pensamento divagado. A cada suspiro emitido por sua tão cansada respiração, deixa nítido a então existência de uma profunda dor, uma dor ainda latente, insípida e ainda dentro daquele cadáver em vida envolvido.
Um olhar para traz, talvez numa tentativa de redimir-se, fora dado momentaneamente.
Involuntário gesto. Casual momento. Caminhada pensada e pesada. Ela invadia as ruas por onde passava, deixando apenas o rastro ainda obscuro de suas passadas.
Seus pensamentos, cansados da seqüência não ordenada, permitiram-se o abandono. Então, sentindo-se sozinha, distante de pensamentos e realidades, aprofundou-se em seu caminhar “latente, pesado, imorredouro”.
Enveredou-se em vales tão obscuros, caminhos estreitos e úmidos. Tão distante da luz e do ar, próximos demais das profundezas do perdido. O perdido mundo ao qual havia se entregado.
Logo adiante, observando as úmidas árvores escuras e sombrias, descansou seu peso sobre seu corpo ainda inerte. Olhou para os lados, mirou-se em um espelho de águas escuras, não conseguindo observar seu semblante. Concluiu que pouco restava daquela mulher.
Aquela a qual abandonará os desejos, as loucuras e as mais incessantes alegrias. Um ser ainda tocado pelo amor e pela paixão.
Ali, prostrada naquele vale sombrio, fez emergir as mais doces recordações, dando-se o direito de reviver, mesmo que por pouco tempo, aqueles prazerosos momentos de vida.
De súbito, sentiu-se novamente disposta a prosseguir seu caminhar. Acelerou ainda mais os passos, não deteve seu olhar, não deixou-se seduzir pela beleza que avistava ao longe.
Estreitos eram as trilhas daquele vale que a deixavam conduzir como máquina, bastando seguir, maquinalmente, os caminhos indicados por alguém, por um alguém que não era visível, mas que tinha sua presença sentida.
De repente, parou. Olhou para frente sem poder sentir , voltou-se para trás, sentiu a saudade, sentiu um arrepio, teve tempo e pensou.
Rompendo forças invisíveis aos seus olhos, correu em direção contrária, transpassando muros imaginários, ervas daninhas que lhe agarravam pelas pernas, mãos que lhe seguravam , venceu uma a uma, e finalmente parou.
Teve medo de olhar para trás, permitiu-se parar, respirar e chorar. Lavou-se com suas lágrimas e naquele mesmo lago escuro e sombrio deixou cair gotas de suas doces lágrimas.
Como de ímpeto, as águas escuras transformaram-se em límpida e potável água. Levantou-se, admirou seus lindos cabelos, beijou sua face encostando seus lábios na água, que paralisada lhe retribuiu o beijo.
Envolveu-se naquele momento, purificou-se daquela água e continuou a voltar.
Sim, voltar das trevas, do submundo, do vale perdido. Ela, que ali estivera por longas horas, correndo de algo que não via, mas que conhecia. Fugindo de sentimentos e pensamentos que teimavam existir. Rendeu-se, aceitou pacificamente àqueles sentimentos e lutou para que pudesse retornar em tempo.
A volta, caminhava lentamente, ainda observando a paisagem amena e vigorosa. Observou pássaros, borboletas, árvores frondosas e no céu, sim!, um Céu, aquela trilha havia a levado para um céu...
Céu azul , com tapete azul e montanhas azuis. Um Céu com portas, com estradas, com pessoas, com pássaros, um céu interminavelmente infinito. Um Céu habitável, que a acolhia de uma longa caminhada.
Observou sua imagem, novamente, nas águas límpidas do mesmo lago, que parecia então a segui-la. Mas teve a impressão de que ele apenas a guiava. Guiava para enfim recolher-se ao céu.
Do outro lado, num lado distante daquele outro, em que tão saudosa encontrava-se “ela”, havia um outro, um outro humano, desconsolado e triste.
Aparentando cansaço e enorme tristeza, observava sob um ponto de madeira, o fluir daquelas águas, as águas que desciam de um lago , além daquela região.
Ele, tentando levantar sua cabeça, observou que nas águas haviam refletidos imagens.
Surpreso, assustado e feliz, assistiu nas águas daquele lago, momentos que vivera ao lado de sua amada, que fora para os braços do eterno.
Viu-a de todas as formas: triste, assustada, banhando-se com as águas do lago, viu-a correndo, cantando, sorrindo e enfim conseguiu senti-la.
Ela sorriu, fechou seus olhos e dormiu um sono profundo.