SfallowGates : Da Origem à Criação | CAPÍTULO I

“Por um instante, vitória!”

Em um vilarejo próximo a Okaiuris...

“--Keny, corre aqui para ver uma coisa!”

“--hm!... O que é?”

Dois jovens de estatura mediana caminhavam a pé pelo Vale de Treunal cruzando a trilha de volta ao vilarejo, quando um deles chamou atenção para algo.

“--Está vendo?”

“--Rapaz! Tu fazes idéia do que seja isso, Dinist?”

“--Seja lá o que for, é bem grande!” - afirma Dinist, tocando com a ponta dos dedos um dos buracos no chão de terra em forma de uma grande pegada. Aparentava ser de um orc pelo tamanho, mas logo se descartou essa possibilidade. Os orcs não tinham unhas tão afiadas que pudessem perfurar as rochas com tamanha pressão.

“--Temos de voltar rápido para o vilarejo. Nem nós e nem o vilarejo estão a salvo de seja lá o que for isso! Temos de avisar à guarda do reino.”

“--Vamos rápido!” - diz Keny, pondo-se novamente de pé e tomando o rumo para Okaiuris, que já avistava há pelo menos 500 turvas e, em passos ligeiros, retornavam para o reino.

Keny e Dinist tinham basicamente a mesma estatura mediana. Keny tinha a pele branca, os olhos e cabelos castanhos curtos e lisos, quase sempre um pouco despenteados. Tinha o corpo não muito magro, de músculos um pouco definidos devido à vida aventureira. Vestia uma calça de couro na cor marrom-escuro e sua blusa branca tinha uma tonalidade desbotada para o amarelo bem claro. Carregava consigo uma mochila com alguns adereços quer recolhera na missão incumbida a eles pelo Sr. Turval, seu professor na escola mística. Dinist, por sua vez, era poucos centininos mais alto que Keny. Sua pele era bem mais escura e seus cabelos eram crespos e muito curtos. Ele vestia uma calça semelhante à de seu amigo, sendo que na cor preta, e uma blusa verde-escura. Carregava o mesmo tipo de mochila que Keny, com os mesmo adereços. Eram realmente amigos e parecia que nenhum deles carregava mais bagagem que o outro. Eram cúmplices.

“--Kim!!! Veja!”

“--Você achou, Luana?!”

“--Eu acho que sim. Essas são semelhantes às que a Sra. Clarinlle nos mostrou, não acha?”

“--É verdade! Vamos colher alguns molhos e levá-los à escola. Luana, você me ajuda?”

Luana e Kimberly colhem alguns molhos de flores para o estudo da escola numa alegria contagiante. Duas belas garotas e ambas de cabelo bem loiro. Luana, a exemplo de sua amiga, também era muito bonita e tinha os olhos castanho-claros que lembravam o mel. Um corpo belo se revelava devido à roupa que usava para ir ao bosque com amiga colher as tais flores. Ambas usavam o mesmo tipo de saia, que se estendia até suas canelas, na cor vermelha, terminando em um corte retilíneo. Cobrindo o belo torso das moças havia um corpete com decote nos seios que os deixava fartos e exuberantes. As duas amigas usavam a mesma cor de roupas, o azul-celeste. As vestimentas pareciam ser uniformes para aquela eventual tarefa. Carregavam, também, duas mochilas cada uma.

“--Keny! Olha ali!” – alerta-o Dinist.

“--Caramba! São as meninas. Kim! Luana!” – chama-as Keny.

“--Hm! Quem...? Keny!? Dinist!? O que você dois estão fazendo aqui? Pensei que estariam a caminho de Styrpe.” – interpela-os Kimberly.

“--Sim, Kim! Era para estarmos, mas um assunto grave nos fez retornar e é por isso que estamos aqui.”

“--Isso mesmo. Meninas, vocês precisam retornar com a gente para o reino imediatamente. Não sabemos o que está acontecendo...”

“--Ou está para acontecer, não é, Dinist!?” responde Keny, interrompendo o amigo. “--Encontramos um monte de pegadas enormes que conseguiram sobrepujar as dos orcs de Ancharion. Elas se espalhavam em diversas direções e acreditamos ser algo urgente para informar à guarda do reino. Não podemos deixar vocês duas aqui com seja-lá-o-que-for que fez aqueles buracos enormes nas rochas da trilha.”

Keny e Dinist tentam de diversas formas e com muita pressa convencer Kimberly e Luana a acompanhá-los de volta à cidade de Okaiuris. Elas custam a acreditar. Tempos atrás, Keny tentou uma aproximação com Kimberly. Ele se diz apaixonado por ela desde que estudavam juntos na escolinha dos Irmãos Pillar. Kimberly descartou de imediato, pois não via nele um homem como sonhara. Ela era perdidamente apaixonada por cavaleiros montados em enormes cavalos, que arriscavam suas vidas pelas das pessoas, embora sua timidez a afastasse de seus ídolos.

Keny não tinha as feições de um cavaleiro e nem era forte como eles. Ele, contudo, tinha coragem. Mas um cavaleiro? Não. Isso não. Um cavaleiro ele jamais se tornaria. Kimberly acreditava que Keny deveria ter combinado de pregar uma peça nela e na sua amiga para, mais uma vez, tentar impressioná-la.

“--Não podemos marcar passo aqui!” – alerta-os Dinist.

“--Ei! Ouçam...” - Keny interrompe Dinist com uma das mãos, tampando-lhe a boca e, com a outra, faz um gesto de quem pede silêncio.

Passos. Muitos passos são ouvidos pelos quatro jovens.

“--Vejam!” - Luana aponta para o lado oposto ao do que seus dois amigos vieram, mostrando um bando de criaturas com aparentemente mais de três turvas de altura vindo em sua direção.

“--Pessoal! Venham rápido! Vamos nos esconder aqui.” - avisa Dinist, procurando e achando um barranco logo à frente deles, onde as meninas colhiam flores.

“--Rápido!” - diz Keny.

“--Grungt, grungt, grungt!!” - gritavam as criaturas, correndo e balançando as armas que carregavam como que numa investida de ataque. Parecia que não parariam enquanto não exterminassem com tudo o que estivesse no caminho delas. E era Okaiuris que estava, naquele momento, no caminho deles.

“--São centenas, milhões talvez.” - contava Dinist.

“--Pelos deuses...! Eles estão indo para a cidade. Temos de avisar a cidade de alguma maneira.” - dizia Keny, sem possibilidade nenhuma de fazer algo. E, como se não bastasse, a garota que ele amava estava ali ao seu lado e ele nada podia ou era capaz de fazer.

As bizarras criaturas avançavam em extrema velocidade na direção da cidade. E já era possível avistar explosões.

“--A cidade vai ser dizimada.” – com lágrimas escorrendo de seus olhos, Dinist dizia, olhando para Keny, que abaixava a cabeça, impotente diante de tal catástrofe.

“--Meus pais, meus irmãos...!” - Keny por um momento lembrou-se deles e, sem pensar, saiu do abrigo em que se escondera e tentou correr na direção da capital do reino, mas foi segurado por Luana que, chorando, dizia que seus pais também estavam na cidade. Eles se abraçaram e assistiram àquela impiedosa cena.

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“--Senhor Magistrado!!!” - invadindo a sala do palácio de Okaiuris, capital do reino de Ancharion, o oficial da guarda exaspera-se.

“--O que foi, Donovan!?”

“--Senhor, estamos sendo atacados.”

“--O quê?! Atacados!? Mande todos os homens a seus postos e soe os alarmes!” - dizia o magistrado, logo se levantando de seu trono e tomando em posse sua espada em sinal de batalha, deixando às pressas a sala do palácio.

“--Magistrado, não temos nenhuma chance. São milhões.”

“--Temos que conter o ataque, pelo menos até levarmos todas as mulheres e crianças para um lugar seguro. Acionem as escolas e mandem uma mensagem ao Conselho. Maldito Khor!” - Gritava o magistrado, referindo-se ao rei Khor do reino vizinho de Mafler, inimigo de todas as regiões.

Khor almejava conquistar o controle de Ancharion e usar suas ligações com o reino de Sfallow para benefícios diabólicos.

“--Atenção!!! Abram os portões!!!!” - gritavam atônitos os guardas, chamando atenção para que a tropas de Ancharion passassem.

Com os portões abertos, as tropas anchariontes partiram para o confronto direto contra os inimigos, enquanto outra parte das tropas ficou responsável por garantir a sobrevivência do povo que não lutava nas frentes de batalha, levando mulheres e crianças a um lugar seguro.

“--Magistrado! Os homens já estão a postos.” - informa o oficial Donovan.

“--Não teremos chances contra eles, Donovan. Se quiseres salvar sua pele, que o faça agora e eu não lhe darei o título de desertor. Junte-se à sua família!” - ordena o magistrado.

“--Senhor magistrado, essa é uma ordem que eu não irei cumprir. Mais do que o meu dever, é a proteção de nosso lar que está ameaçada. Irei lutar mesmo contra a sua vontade. Não tente me impedir!” – avisa-o Donovan.

“--E quem disse que eu irei impedi-lo? Vou com você.” - diz o magistrado, erguendo sua espada com a mão direita e, com a outra, segurando firme nas rédeas de seu cavalo.

“--Prepare o grupo!”

“--Sim, magistrado!”

“--Suna Poderes el mi. Perast le Conduct fuego delas nurtre. PORTY LOS FUGES ASTORTE!!!!” - O magistrado, com sua espada erguida na direção do céu, recita em tom crescente palavras desconhecidas. Tais palavras, após serem ditas, ecoam no espaço e uma explosão sônica é desencadeada. Anéis semi-transparentes saem como se surgissem da lâmina da espada do magistrado, envolvendo sua arma com uma chama contínua. Todos os soldados ficam surpresos com este feito, e recebem ânimo para servir ao seu superior como se uma força os fizesse crer que seriam capazes de vencer qualquer perigo ao lado deste homem. Seguiriam-no até o fim se preciso.

“--Estão comigo?!!!” - gritava o magistrado.

“--Sim!!!!” - Respondiam os exércitos.

“--Estão comigo?!!!!” - gritava novamente o magistrado.

“--Sim!!!!” - Respondiam os exércitos, novamente.

“--Estão comigo?!!!!!!” - gritava mais uma vez o magistrado.

“--Sim!!!!” - e, por mais uma vez, respondiam os exércitos.

“--Homens! Pela nossa terra... ataquem!!!!” - após a ordem, o magistrado baixa repentinamente sua espada envolta em chamas, direcionando-a na direção das criaturas. Uma corrente de chamas emerge da espada e forma uma esfera de pelo menos 80 centininos, seguindo numa impressionante velocidade na direção do exército inimigo.

As criaturas, por sua vez, não esperavam de forma alguma serem recebidas com aquele poder ofensivo e tentam, em vão, sair da trajetória da poderosa e impressionante bola de fogo, a fim de evitarem o impacto. Em um instante, a esfera chega ao alcance das criaturas e passa em algumas turvas pela ala de frente do exército inimigo, explodindo no centro do alvoroço de criaturas. Uma explosão impressionante tem efeito. A esfera se multiplica em diversas centelhas de fogo que explodem ao tocar nos inimigos. Centenas de criaturas são jogadas para o alto e caem violentamente no chão devido às explosões.

Os soldados e cavaleiros anchariontes vibram com o poderoso e fulminante ataque disparado pelo seu superior e entram no campo de batalha duelando com as criaturas sobreviventes. O resultado não poderia ser diferente. Não foi por acaso que nomearam Filister de Pontrio o magistrado de Ancharion. Ele fora eleito pelo próprio rei Henriko IX, no Castelo de Cristal, sobre o Lago das Divindades Maiores.

“--Agora, meus amigos, estamos de igual para igual. Vamos mostrar a Khor que Ancharion não está e nem nunca esteve desprotegida!” - diz em voz alta e poderosa, o magistrado Filister, partindo juntamente com o seu exército contra as criaturas.

“--Iaaaaah!!!” - gritavam os exércitos anchariontes em uma só voz, partindo para o ataque com toda força.

A luta se dava por vencida. Era só questão de tempo para eliminar o exército inimigo. Graças ao grandioso poder do magistrado Filister, mais do que a metade do exército inimigo estava vencido. Agora, era com os exércitos de Ancharion.

“--Foi mais do que impressionante, magistrado! Foi divino.” - elogia Donovan.

O magistrado Filister se mantém calado e muda repentinamente sua fisionomia vitoriosa e orgulhosa para assustada e desesperada...

“--Vencemos, magistrado!” - afirma mais uma vez Donovan.

“--Não. Perdemos!...” - responde Filister.

Uma imensa criatura alada surge por detrás das colinas do norte e segue em um mergulhão na direção do exército ancharionte. Revelando-se um grandioso dragão, solta um poderoso, feroz e estremecedor rosnado, seguido de uma imensa baforada que libera uma cortina de ácido de sua imensa boca. Com isso, ele varre todos os soldados anchariontes do campo de batalha. Sem ter para onde correr, o magistrado pára e olha para o imenso dragão e parte em sua direção, recitando aquelas mesmas palavras que antecederam a esfera de fogo que atingira, momentos antes, o exército de criaturas. “--Suna Poderes el mi. Perast le Conduct fuego delas nurtre. PORTY LOS FUGES ASTORTE!!!!”

Novamente, a poderosa esfera se forma e é lançada na direção da criatura alada, tomando altitude rapidamente. Houve um impacto. A mesma explosão de antes. Um momento de aflição se seguiu, tomado pelo medo ao perceber a criatura infame surgindo por detrás das chamas sem sequer ter sofrido um pequeno arranhão. A luz das chamas refletia nas escamas da criatura como se estas fossem de puro metal. E, novamente em um mergulhão, ela segue em direção ao Magistrado e da última companhia de soldados que restara.

Mas um rosnado feroz e estrondoso.

Mais um sopro.

Novamente, a cortina de ácido e nenhuma chance de escapar...

-- Continua ... --

Derley G Hassen
Enviado por Derley G Hassen em 28/05/2011
Reeditado em 28/05/2011
Código do texto: T3000037
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