A Escolha - 002
“Ledo engano dos bruxos da atualidade que pensam que a Iniciação é apenas montar um ritual bem elaborado, invocar um ou dois espíritos auxiliares, os elementos, chamar os Deuses (que são sempre solícitos, quando não são orgulhosos) e pedir para ser iniciado na Arte.
Ledo engano dos que pensam que depois de iniciados farão tempestades e que trovões ecoarão a cada gargalhada que eles derem. Que dominarão os elementos como na ficção, que terão todo o amor daquela pessoa especial com um simples feitiço lunar. Isso é ilusão, não Iniciação.
A Iniciação é um processo de morte espiritual. Deixamos toda a carga de uma vida para trás e iniciamos um novo viver. Deixamos de ser meros seres humanos para nos tornar parte de algo muito maior. E o processo em si é doloroso, provamos a morte da pior maneira que você pode imaginar. Deixamos de ser as lagartas para virarmos as tais borboletas.
Alguns não resistem e desistem ao longo do caminho, enlouquecem e se perdem entre o limbo e o renascimento. Outros conseguem suportar, e nestes últimos, encontramos a centelha divina de uma ou mil divindades.”
2 – INICIAÇÃO – ÊXODO 20:12: HONRAI TEU PAI E TUA MÃE
PARTE I
Fui um garoto normal. Aprontei bastante. Por mais que, para os demais, eu fosse um exemplo de menino, mantive meus momentos de peraltices. Vivia estudando, adorava gibis, ler... Conhecer as coisas era meu fascínio. Isso me levou a ser nerd (‘tal pai, tal filho’, seu Jorge dizia). Sempre tive uma inteligência invejável dentre os garotos da minha idade, era culto e educado nas horas corretas. O filho que toda família perfeita sonha em ter.
Tinha uma coleção imensa de uma linha de brinquedos que me divertiam, livros e mais livros em estantes já lidos e vários instrumentos mágicos disfarçados de objetos aleatórios e sem sentidos soltos no meu quarto – um pequeno pedaço de jucá onde eu colei um cristal na ponta, para servir de varinha; um caldeirão de alumínio velho onde eu fazia minhas poções com lama e sobras de ervas numa brincadeira mágica; uma flauta de sopro para chamar o ar; uma drusa de ametista para a terra; algumas conchas para a água; um dragãozinho de metal, que um dia foi pingente, para o fogo.
Quando estudei a Inquisição no Ensino Fundamental me senti como as bruxas (e a grande porção de inocentes) que foram queimados nas fogueiras, porque tinham de esconder sua natureza mágica usando materiais usuais para fins sagrados.
Hoje vejo como minha infância foi divertida. Pela manhã, a escola; à tarde, a catequese; à noite, brincar de ser um mago super poderoso. E sinto muito, quando penso que aos pouco a minha ingenuidade e inocência foram sendo substituídas por uma maturidade precoce que me fez desperdiçar bastante tempo em reflexões filosóficas, antes de aproveitar um pouco mais o resquício da minha meninice.
É duro ver um filme passar na nossa mente. Flashs das brincadeiras lunáticas e desinibidas, que não faziam o menor sentido, mas que no nosso interior nos tornava plenos. Depois, desmascaram-se as descobertas do eu-físico, eu-sentimental, e o eu-mental. Junto à inclusão nos padrões sociais: o certo e o errado, o bem e o mal, a culpa e o perdão...
Percebi que nós humanos destas últimas gerações aprendemos a ser gente grande muito cedo, para quando crescermos querermos resgatar a nossa infância. Jeito peculiar de viver, não?
***
Passei por todas as fases extremas da infância, até as que mais envergonham hoje em dia. Como as descobertas sexuais com amigos e primos, para depois vir conhecer o sexo oposto.
Confesso hoje, sem medo, que gostava de me esfregar e me masturbar com os garotos naquela época. E eu não era gay! Àquela época não entrava na nossa mente as definições de heterossexual, bissexual, e homossexual. Não existiam arco-íris, rosa e azul ou o roxo colorindo bandeiras de cada opção sexual. Não existiam aqueles que tomavam qualquer partido que fosse. Tudo era regido pela curiosidade, o medo e a descoberta, sem rótulos ou estigmas.
Todavia, depois do nosso primeiro amor da infância tudo se transforma. E as vontades de ir dormir na casa de um amigo para ver filmes pornôs, ou ir às férias na chácara dos avós onde todos os primos se reuniam para abusar de um meio afeminado foram aos poucos desaparecendo e ficando em lembranças guardadas num segredo vergonhoso que com o tempo foi sendo esquecido.
A descoberta do sexo feminino foi extremamente marcante. Ainda na infância, passando para a pré-adolescência, paramos de apenas falar em mulheres bonitas, admirá-las e ter por vezes ereções ao ver algumas calcinhas estendidas no varal. Passamos para a parte prática de “tirar casquinha” das meninas, nos aproveitar nas brincadeiras de pique esconde e tudo mais. Eu era o que mais fazia isso, no entanto, de maneira bem discreta. De modo que me tornei um garoto popular entre as meninas, eu era safado e elas gostavam disso.
Além de ser bonito, claro. Cabelos ondulados num corte curto, a pele tão branca quanto mulata, olhos castanhos, um corpo bastante musculoso para quem mal corria nas brincadeiras e uma altura proporcional à idade. Eu era um Deus grego propriamente dito! Da minha rua, escola e também da igreja que freqüentava, eu era um dos mais bonitos. O que causava disputas e desavenças femininas, e que sempre foi colocado como o favorito para tudo. Eu adorava minha fama e tirava todo o proveito da situação.
***
Aos doze conheci Marcela, minha primeira namorada oficial. Conhecemos-nos num encontro de Igrejas. Algum cantor gospel famoso iria fazer uma apresentação e todos da Paróquia de Santo Antonio foram ver. Ela freqüentava uma das tantas Assembléias de Deus. O show mais parecia uma convenção de Assembléias.
Enquanto o som rolava, as crianças aproveitavam um parque improvisado com poucos brinquedos, mas com bastante espaço. Todos os meninos e algumas meninas começaram a brincar de pega-pega. Algumas meninas, por sua vez, ficaram ao canto se achando as super-stars gospel. Cantavam e faziam performances uma a uma enquanto o resto ficava de platéia e aplaudia quando a apresentação tinha sido muito boa ou criticava friamente quando não.
Eu corria do atual “pega” quando parei pra vê-la. Seus olhos fechados, o corpo um pouco jogado para trás e a mão espalmada levantada acima do ombro, como fazem as divas. O cabelo negro caia-lhe sobre os ombros. Um vestido longo branco, deferente de todas as outras meninas, pois era um tanto colado ao seu corpo. Ela cantava alguma música de Aline Barros e caprichava no agudo. Eu simplesmente parei, fui tocado pelo “pega”, mas não dei a mínima. Estava hipnotizado por aquela menina. As outras perceberam e se cutucaram, meus olhos não piscavam e meu ouvido parecia ter apenas registrado a voz dela.
Por fim ela abriu os olhos e se perdeu na música ao me observar. Seus olhos se viram vergonhosos, mas não deixavam de encarar os meus. Até que depois de um instante leve, mas que pareceu muito tempo.
- O que foi? – ela falou vermelha.
- Nada, só achei... Bonito – senti uma coisa queimando as maçãs das minhas bochechas e não sei por que cerrei as mãos com tanta força a ponto de parar a circulação.
As meninas cochicharam alguma coisa umas com as outras e isso a dispersou do meu olhar. Marcela foi até as meninas que falaram mais alguma coisa em seu ouvido.
- Obrigado. Você quer brincar com a gente?
Hugo, um amigo meio obeso veio a mim com seus passos de urso e me agarrou todo suado.
- Ele não pode, está brincando com a gente.
- Mas... – falamos eu e ela ao mesmo tempo e ficamos rubros novamente.
- Cara, todo mundo ta quase “morgando” de brincar, vam’bora logo!
Eu assenti silencioso, fui até ela e as meninas abriram um espaço desnecessário para nós.
- Janus, mais conhecido como Jan. – estirei a mão.
Ela fitou a minha mão e finalmente depois de uns segundos a segurou.
- Marcela, é um prazer.
Puxei-a para lhe dar dois beijos na bochecha e ela se afastou assustada. Eu entendi e não larguei sua mão. Abaixei-me como um cavalheiro e beijei-lhe a mão. As outras meninas ficaram boquiabertas. Eu olhei pra ela e pisquei com charme. Fui correr com os meninos olhando vez ou outra pra ela que estava sendo parte da platéia agora, mas por algum motivo, não batia palmas nos momentos certos.
Não demorou a nos encontrarmos de novo. Morávamos no mesmo bairro, um pouco distantes de uma casa para a outra, mas ainda assim quando nos vimos ficamos surpresos e com o coração acelerado. Daí foi uma questão de tempo para que eu passasse a freqüentar a igreja dela. Havia ainda o seu pai no meu pé, me observando, fiscalizando e me tornando o evangélico perfeito (tudo na mais pura ilusão alimentada por sua idiotice). Porém, logo estávamos namorando, sem muitos beijos e contatos físicos, o velho não deixava nada passar por sua vista grossa.
Eu confesso que era difícil. Por conta do tamanho dos seus seios, eu me via sempre imaginando pornografias com ela. Eles eram enormes e a pendiam para frente de modo que deixavam sua bunda empinada. À minha vista, e a dos meus amigos, aquilo era extremamente sexy. E eu não me agüentava de tão ereto quando nossos amassos aos poucos progrediam.
Foi uma questão de tempo para que a fizesse acreditar que Deus havia nos unido e que não haveria mal algum em “esquentar nossa relação”. Tive assim as minhas primeiras experiências sexuais com ela. Tudo dos doze aos treze anos.
Esse meu namoro abalou um pouco minha relação com o meu pai. Deixei de ir vê-lo vários finais de semanas, para ir com Marcela à igreja. O Seu Jorge, irritado chegou várias vezes a dizer que se era pra viver no meio de fanáticos, que fossem fanáticos católicos. Pois, eles pelo menos não faziam da Igreja uma instituição financeira que vendia mentiras e charlatanismo. E me ameaçou. Disse que na primeira vez que eu o reprimisse por ser bruxo, depois da lavagem cerebral que eles normalmente faziam nas pessoas, ele me deserdava e nunca mais olharia para minha cara.
Minha mãe, por outro lado, achou Marcela a benção em minha vida, exigia que eu fosse pra igreja com ela. E quando eu pensava que iria me ver livre da catequese e das missas chatas do Padre Lemos, minha mãe me surpreendeu dizendo que quanto mais eu direcionasse meu caminho à Deus, mais eu me afortunava.
Isso fez com que meu tempo livre ficasse reduzido, e as “palavras de deus” aos poucos se tornassem cansativas. Sem falar que mamãe sempre ficava em opinião oposta a do meu pai em tudo o que dizia respeito a mim. Dizia para ele que não era problema dela se eu preferia estar na igreja a estar vendo as magias que ele fazia, ou se divertia mais indo para a igreja com ela do que passando o final de semana com ele. Isso foi me sufocando, e irritando meu pai, pouco a pouco.
***
PARTE II
Nas religiões celtas, e de outras culturas, era comum o uso do calendário lunar para marcar a passagem do tempo. A diferença para o calendário que utilizamos é pouca, mas abrange muitas outras coisas. Por exemplo, um ano equivale (mais ou menos, por questões de dias) ao período de treze luas.
Nas antigas religiões a preparação para ritos iniciáticos era no espaço de um ano, ou seja, treze luas. Os meus treze anos de idade foi o grande divisor de águas na minha vida. Segundo meu pai, isso se devia ao fato de que eu completara “treze ‘treze luas’”. O que na visão de um bruxo marcava o momento em que eu fechara uma roda completa de ciclos e iniciara outra.
E foi aí que comecei a entender os processos iniciáticos da magia, e mais, entendi do que se tratava de verdade trabalhar a magia em nossa vida e dedicar nossa vida aos Deuses.
Perto dos meus treze anos foi quando minha mãe se casou novamente. Para não perder a tradição eu me rebelei contra meu padrasto. Mas não foi por pura pirraça... Não mesmo. Algo ali estava errado, eu sabia que algo era errado e ao mesmo tempo não sabia por em palavras o quê ou o porquê.
O cara que minha mãe escolhera para ser novo “homem da casa” – coisa que ela dizia sempre ser essencial para a base de uma família – não era ninguém menos que o Padre Lemos. O mesmo padre que fizera minha Primeira Comunhão e que todo o domingo me abençoava na igreja.
Ninguém soube à época, mas no momento certo descobriu-se que ele fora excomungado por abusar sexualmente de alguns coroinhas da paróquia. Eu fora coroinha! E lembrava bem do dia que aquele nojento tentou tirar proveito de mim. Na hora me fingi de besta e ele se aproveitou até onde podia, mesmo com minha recusa. Contudo, uma das famílias o denunciou à Igreja que o tirou da posição de padre, o excomungou e tratou de esconder o real motivo do ato. A Igreja, para variar, tratou de tudo por baixo dos panos, como faz com muitos outros casos. Ninguém ficou sabendo o que tinha acontecido, houve alguns comentários, mas até estes foram abafados.
Ele passou uns três meses fora da cidade, mas depois voltou e foi logo se aproximando da minha família, que era a mais fiel à Igreja, e por conseqüência tinha uma grande admiração por ele. Enamorou-se da minha mãe e em menos tempo que o normal foi celebrada a cerimônia de casamento.
Eu nunca entendi estes amores, ou paixões à primeira vista, ou os que surgem e se tornam eternos em tão pouco tempo. Poderia ter sido apenas cisma, mas este não foi diferente.
***
Com ele já em minha casa, eu passei a fazer caso com tudo. Se ele ficava sozinho com meus irmãos, principalmente a Damiana, eu estava lá de olhos em tudo que acontecia. Se ele tentava se aproximar de mim, eu o repudiava de maneira curta e grossa. Arrumei problemas, fiz tempestades em copos de água e usei e abusei do drama. Todavia, deixei claro sempre minha opinião sobre ele, o que chocou minha mãe. O que a levou, por pura cisma, a associar minhas ações a influência do meu pai.
Cheio de problemas em casa, irritado com tudo que estava acontecendo e querendo que o mundo se explodisse, foram os grandes marcos da minha chegada à adolescência. Ter um ex-padre pedófilo em casa, uma mãe fanática e que era cismada com meu pai (meu ídolo), avós tradicionalistas e duas vezes mais fanáticos e beatos que minha mãe, e, por fim, uma namorada evangélica – que não aceitava nem que eu freqüentasse duas igrejas porque “isso poderia me prejudicar nas verdadeiras obras que o Senhor queria fazer em minha vida” – era demais para minha cabeça.
Comecei a tomar raiva da Igreja, a freqüentava porque realmente amava a Deus, de maneira estranha, que até hoje não compreendo, e porque ficar lá me garantia um pouco de paz longe do meu inferno diário. Contudo, aquela vida em função do cristianismo foi me cansando, e eu comecei a me desapegar dela. A por um fim prático em tudo que me ligava a ela.
***
PARTE III
Mesmo naquela época, para mim a Igreja (e entendam este termo como o cristianismo em si) era algo de forma quadrada, sólida e ao mesmo tempo antiquada, restrita e enclausuradora. Ela e seus alicerces tinham sempre a mesma forma falsamente concreta. É estranho fazer esta analogia agora, mas é incrível como esta noção diz muito sobre minha visão real sobre a Igreja, mesmo nos tempos em que eu não tinha muito conhecimento sobre as coisas da vida.
Ela era algo quadrado e limitado, mas que dava uma segurança incrível; antiquado e enclausurador, mas que mantinha uma ordem e tradição que nos dava conforto.
Não é difícil ver porque preferi as visões esféricas da vida pagã, onde tudo é cíclico, onde a perfeição é circular, onde a harmonia gira em espiral.
E foi usando a visão quadrada e de alicerces que pus um fim nas minhas aparentes ligações com a Igreja.
O primeiro alicerce foi Marcela.
Na ida a um parque de diversões, onde eu fiquei fascinado com uma cartomante e não resisti ao ato de puxar minha sorte. Por mais que meu pai sempre fizera isso por mim e dissera várias vezes pra averiguar bem quem lia as energias do meu possível futuro.
Tudo acabou numa briga feia, sem que ela quisesse mais olhar pra minha cara e saber que eu também sabia ler tarô, runas e outros oráculos. Assim como tinha vários costumes pagãos e mágicos. Ela ficou desnecessariamente horrorizada e se afastou de mim como o diabo se afasta da cruz.
Não, eu não sofri, não tive tempo pra isso. Ainda que a amasse por muitas e muitas razões, eu não sofri. Me libertei.
Os dois outros alicerces foram os meus avós.
Eles descobriram um baú onde eu guardava minha instrumentária mágica – que já havia deixado de ser tão infantil. E depois de um baita sermão, com direito a um tapa na cara que nunca vou me esquecer, eles ameaçaram queimar os objetos que além de serem sagrados para mim, tinham um valor sentimental insuperável.
Eu corri na cozinha puxei uma cadeira e a pus ao lado do altar cheio de imagens caríssimas dos mais variados santos ao redor de um enorme Jesus Cristo atrás de uma grande e antiga bíblia ao centro.
- Se ousarem destruir qualquer coisa minha, eu quebro todas essas imagens e ainda queimo a porcaria dessa bíblia!
- Você está louco? Possuído pelo demônio? Estes são objetos sagrados, menino!
- Pois então, do mesmo jeito que esses objetos são sagrados pra vocês, estes aí são para mim. E bem mais sagrados do que esses para vocês, eu tenho certeza disso!
Um lampejo de medo e compreensão faiscou nos olhos do casal de idosos. E como se estivesse com uma arma apontada para suas cabeças, lentamente colocaram o baú de volta onde haviam encontrado, ainda intacto.
E daí vamos ao ultimo alicerce que foi em dose dupla.
No decorrer da discussão, minha mãe descobriu que eu praticava bruxaria. Isso causou mais uma confusão entre ela e meu pai. Desta vez uma confusão terrível que terminou na briga corporal entre meu pai e o Padre Lemos. Ele se meteu na confusão e foi agredir o meu pai, que o recauchutou de sua casa e ainda lhe enviou umas sete maldições.
Minha mãe deu sumiço nos meus objetos mágicos. Em reação, eu destruí tudo o que fosse cristão dentro de casa. Fui posto de castigo. Só ia para a escola, já que desde aí me recusei a por os pés numa igreja novamente.
O Padre Lemos ainda me agrediu, quando eu discutia mais uma vez com a minha mãe. Fiquei possesso de raiva por não ter forças para combater o homem que me esmurrava e ver minha mãe na porta com uma cara de “você merece isso, seu infeliz”.
E foi finalmente, depois desse dia que meu pai tomou todas as medidas cabíveis para conseguir minha guarda e a dos meus irmãos.
Só que daí aflorou toda a verdade sobre minha família.
Primeiro as verdades sobre o Padre Lemos, que foi preso por agressão a menor e pedofilia. Meu testemunho, os de mais duas famílias que tiveram filhos vítimas dele e mais algumas fotos encontradas no seu celular foram provas suficientes para pô-lo na cadeia.
Lembro de ver meu pai sorrir e vibrar dizendo que uma de suas maldições dera certo.
Em seguida, minha mãe abre o jogo e afirma que Damiana e Cosme são na verdade filhos de Lemos. Pois eles tiveram um caso quando ele ainda era padre. Com o teste de DNA comprovando o que ela disse, a guarda dos meus irmãos foi para os meus avós e eu fiquei sobre os cuidados do meu pai. Se a escolha da justiça fosse minha mãe – que foi considerada negligente e incapaz de criar um filho – as coisas dariam no mesmo.
O mais chocante para mim, na história toda foram as ultimas palavras que minha mãe me dirigiu.
“Você nunca vai ser feliz. Em nome de Deus, eu sei que a felicidade nunca vai estar no teu caminho, filho ingrato.”
Foi o que ela disse...
Dizem que Praga de Mãe pega, e que é a pior que existe. Isto porque poucas mães costumam ter filhos bruxos que moldam seu destino independente de qualquer coisa.