SHEKINAH "O outro mundo"
6. A porta
Adam e Richard se despediram de Maria sem que ela soubesse do achado, pois tiveram medo de que ela questionasse o conteúdo do baú e o levou escondido na mochila de Richard, pois de acordo com a carta de Jonathan, ninguém poderia saber de nada sobre a porta.
- Diga que tudo isso é apenas um sonho! Que o Jonathan não fez isso com a gente e que tudo não passa de uma brincadeira. –Disse Richard alterado.
- Não sei se acredito ou não! É a assinatura do Joham. Está muito confuso tudo isso, fora de realidade. –Disse Adam confuso com as informações prescritas na carta, depois de alguns minutos discutindo sobre o que fariam com os achados, Richard completamente alterado questiona.
- Estive pensando no que Merlim disse sobre a carta, era para queimar ela no fogo em frente á porta... Mas em que porta? Aonde a maldita porta esta? Estão brincando com a gente, tenho certeza. –Totalmente descontrolado, Richard retira o cartão das mãos de Adam e ameaça rasgá-lo.
- Não faça isso! Não sabemos o que pode estar escrito ainda. –Exclama Adam retirando o cartão das mãos de Richard.
- Não está escrito nada! Nada! Sabe... –Disse Richard chorando. – Isso esta acabando comigo... Eu não agüento mais... Quem fez isso, não tem respeito nenhum pelo meu amigo. –Adam abraçou Richard e emocionado o consolou.
- Não fica assim... Olhe pra mim. Você acha que o Jonathan iria inventar toda esta história? Não fazia parte da índole dele.
- Eu sei, mas não quero acreditar que ele foi levado por este Deus Loki. Eu tenho minha crença e sei que isso vai contra ela. –Disse Richard mais calmo.
- Vamos combinar o seguinte, vamos descobrir como encontrar esta porta... Somente esta porta, e depois a gente decide se vamos continuar a fundo disto; eu sei que é difícil... Também tenho saudade dele, e por isso não vou parar agora... Eu prometo que se você não quiser continuar depois de acharmos a porta à gente esquece essa história toda de Mitologia, de Shekinah e todas essas outras mentiras.
Adam abraçou o amigo por alguns instantes e acidentalmente deixou a folha do pergaminho escorregar de sua mão. Um vento forte e gélido jogou o pergaminho com sua pagina toda aberta sobre uma poça de água a frente dos dois; magicamente, às palavras começaram a sumir, restando somente algumas letras sobre o pedaço de papel encharcado.
- Richard olha! –Disse Adam espantado.
Richard olhou o pergaminho sobre a poça e viu as letras sumirem deixando espaços sobre outras em tom mais fortes, alí, para espanto dos dois formou-se um novo texto, que deixou Richard boquiaberto.
- Eu não acredito no que eu estou vendo! –Disse admirado.
- As palavras simplesmente sumiram... O papel do pergaminho também escondia uma frase! –Confirmou Adam encantado com o texto que se materializou diante de seus olhos.
- Veja! Ainda esta destinada a nós dois! Eu estou com um péssimo pressentimento.
- O que você tem Richard? –Interpelou Adam preocupado.
- Não sei, estou sentido um frio muito forte no corpo...
- Isso se chama medo? –Adam sorriu para o amigo e se abaixou para apanhar o papel. Ao tocar o pergaminho, um vento muito forte soprou tambores de lixo, folhas e muitos papéis pela rua inteira; em sua mão Adam sentiu um calor repentino e viu quando o pergaminho, á poucos instantes encharcado com a água suja da poça, se secou rapidamente deixando a mensagem clara sobre o pergaminho.
Ao terminar de ler o pergaminho, uma nuvem de poeira levantou Adam e Richard do chão, o céu tornou-se trevas, eles viram várias cenas de suas vidas passarem diante de seus olhos, Adam viu a última visita a Jonathan no hospital, Richard em lágrimas, ouviu a mesma voz da noite anterior chamar desesperadamente, viu também sua mãe, deitada a cama junto a seu pai na noite em que ele foi concebido.
A tormenta de poeira durou por alguns instantes e repentinamente cessou lançando os ao chão, como se caíssem de uma altura muito elevada, o céu ainda continuava escuro e o chão sobre seus pés estava macio e úmido; Richard ajudou Adam a se levantar e com o coração angustiado de medo reparou que eles já não estavam mais sobre a pequena rua, e sim sobre um local muito assustador, cheios de arvores gigantescas, tumbas e pequenas capelas.
- Ai meu Deus... Que... Que lugar é este? –Perguntou Richard gaguejando de tanto frio e medo.
- Estamos em um cemitério! –Afirmou Adam.
Richard tremia muito, e agora já não aparentava mais ter cor no rosto, ele agarrou o braço de Adam com tanta força deixando marcados os dedos sobre a pele do amigo.
- Que ventania foi esta? O que está acontecendo? –Perguntou Richard apavorado, ciente de que já sabia a resposta. – Eu não gosto de cemitérios!
- Calma Richard! Mantenha a calma. –Adam estava assustado, mas manteve-se calmo, afinal tudo era totalmente fora do real e ele sabia que no fundo os acontecimentos teriam uma explicação. O cemitério tinha uma aparência milenar, todos os jazidos aparentavam ter sido construído há muitos anos, mas três em especifico a frente de Adam lhe tirou a atenção, os jazidos eram todos de mármore negro e trabalhados em ouro. Adam ficou aterrorizado ao ver a quem pertencia os jazidos, o do meio trazia o nome de Jonathan Roswaud Bocassa, os outros dois tinham como futuros moradores Richard Frattianini ao lado esquerdo e Adam Masterdary ao lado direito. Adam ao ver as covas ainda abertas empalideceu de tanta angustia ao ver o seu nome e de seus amigos na sepultura a sua frente. Richard meio atônito caminhou até a sepultura central e se apoiou a ela tentando manter-se em pé, pois suas pernas perderam toda a força diante da situação.
- Você esta bem Richard? –Perguntou Adam quase sem voz.
- Não! Não estou bem. Acordei com você gritando, faltei à aula, conheci um velho chamado Merlim que me disse ser guardião da chave dos portões das trevas, fui açoitado por uma cortina de fumaça, vim parar em um cemitério e agora estou diante da minha própria cova... Eu estou ótimo Adam! –Argumentou Richard em tom muito irônico e ao mesmo tempo muito assustado.
- Eu sei que tudo esta estranho, mas deve ter uma explicação.
- Explicação Adam! Vou te dar uma explicação... Isso aqui é o sinal do nosso fim... Ele está mostrando o fim daqueles que mexem com o que não conhecem... Isso tudo mostra aonde o Jonathan se enfiou, numa caixa de madeira a sete palmos abaixo da superfície... O pergaminho disse “... Enterrado em sua história pela eternidade...”, isso nada mais é do que morto pela eternidade! –Totalmente sem controle, Richard gritou com o amigo e com os olhos lacrimejados ajoelhou-se diante da sepultura.
- Jonathan, isso já passou dos limites, se isso for algum jogo, por favor, pare agora!
- Calma Richard! Não podemos perder o controle... Temos de nos acalmar... Eu sei que isso é estranho... Mas... –Adam é interrompido pelo amigo aos berros.
- Mas o que Adam? Mas o Quê? Você acha que tem lado bom em você ter seu nome gravado numa... –Richard fica mudo ao ver a claridade que emanou de dentro da sepultura. – O que é aquilo?
- Eu estou vendo! –Adam curioso aproxima-se da sepultura e olha mais a fundo a luz que mudava a cor de seu brilho lentamente; subitamente as palavras do pergaminho vieram a sua memória e ele entendeu o que o pergaminho tentava dizer. - Não adormeça na insanidade, contemple a sala proibida, a porta esta na frente ao escolhido a trilhar os caminhos desconhecidos de Shekinah, morto enterrado em sua história para as profundezas da loucura adormecida pela eternidade... A sala proibida é a sepultura... Esta na sepultura! Morto e enterrado em sua história... A porta esta dentro da cova! Disse convencendo a si mesmo.
- O que você quer dizer? Aquela luz lá em baixo é à entrada da cidade? –Questionou Richard.
- Estou com um pressentimento que sim... Veja no pergaminho... Contemple a sala proibida... Estamos de joelhos na frente da sala, a porta está na frente do escolhido a trilhar os caminhos de Shekinah... Morto e enterrado em sua história... Está aqui! Na sepultura! Estamos de frente à porta... De joelhos... Fomos escolhidos por Jonathan para aprisionar Loki... Agora tudo faz sentido.
- Ah! Mas claro... Por que não pensei nisso antes? –Richard ainda não aceitava tudo que estava acontecendo. – Somos os escolhidos! Vamos enfrentar um semidemônio, que não fomos convidados a soltar, arriscar nossas vidas num mundo que não aparece no mapa! Está tudo perfeito, Adam!
Uma voz em meio ao aglomerado de jazidos ecoou forte em alto tom chamando a atenção de Adam e Richard.
“- Corram meninos! Entrem na sepultura!” Ao longe uma senhora corria em sua direção e em sua mão ela trazia um cajado elevado ao céu envolto em uma luz azul como se transparecesse magia. Atrás da senhora, uma nuvem negra de poeira a seguia. Relâmpagos rasgavam o ar e os olhos da senhora, pareciam sair fora de órbita, ao ouvir o rugido ensurdecedor que ecoou por todo o cemitério, as sepulturas e as capelas ao redor de Adam e Richard se trincaram com o grande tremor causado por um relâmpago que acertou o cajado da velha fazendo com que todo o cemitério começasse a se desmoronar; com o raio, a senhora foi lançada ao ar caindo por cima dos meninos, os empurrando para dentro da sepultura, que teve sua entrada bloqueada com os escombros das sepulturas vizinhas, que vieram a baixo com o tremor.
Os sons dos relâmpagos ainda ecoavam dentro da sepultura, a única luz vista, era a de um cálice prata com uma chama negra em frente a uma enorme porta traçada por duas cobras esculpidas em aço; uma acima em cor vermelha tinha nos olhos o brilho de duas safiras e a outra logo abaixo era negra como a noite; as cobras simultaneamente representavam um tipo de trava para a porta; Richard e Adam ficaram curiosos ao ver que a senhora atingida por um raio há poucos minutos, ainda respirava, e que se tratava de sua professora de história Rebeca Lewes.
- O que faz aqui professora? –Perguntou Richard surpreso.
A senhora ainda se levantando meio tonta com a queda, limpou suas vestes e com um olhar frio e assustador respondeu.
“- O portal foi aberto”.
7. Armageddon
-... Nesta manhã fatos inexplicáveis assolaram o mundo inteiro; o terremoto sentido na maior parte da esfera do planeta destruiu muitos monumentos, nas encostas do oceano pacifico, países como Chile, Peru, Equador e Bolívia, ainda não conseguiram estabilizar a contagem dos prejuízos sofridos; o céu sobre a Dinamarca sem explicação, esta coberto por uma nuvem negra, que bloqueia a luz do sol na região da Bahia de Baffin e em toda Groenlândia; enchentes alagaram a França, Alemanha, Itália, Espanha, Canadá e Nova York. Los Angeles, Austrália, México, Texas, Venezuela, Amazônia, Acre e Bolívia foram engolidos, por furacões de grandes escalas; tivemos baixas de mais de dois milhões de mortos até o momento... Os cientistas buscam alguma explicação para o fenômeno que destruiu boa parte do planeta, mas até o momento não obtiveram resultados; líderes religiosos, falaram em praça pública para multidões, eles alegaram estarmos diante do Armageddon apontado na Bíblia como o Juízo Final... Estamos em uma contagem de mais de sete bilhões de pessoas agredindo a natureza intensamente, será que hoje ela achou um meio de nos punir por nossos atos? Quantos anos mais será preciso para reformularmos nosso estilo de vida...
* * *
Naquela manhã de sábado, as estações de rádio e televisão do planeta não paravam de noticiar os acontecimentos estranhos, tudo estava um caos e ninguém conseguia entender o porquê. Uma pessoa sabia, mas estava muito longe de poder explicar a sete bilhões de pessoas, que aquilo que acontecera em todo o planeta, era o resultado de uma maldição de deuses antigos da mitologia, no momento esta pessoa, Rebeca Lewes, tinha somente a intenção de descobrir como retirar a trava da porta, pois agora não havia mais como retornar. A porta da sepultura estava desmoronada, o mundo lá fora já não era mais de confiança, a única esperança, era atravessar a porta e impedir que Loki fosse solto.
...