Sangue de Dragão - Cap. 54

--- O Primeiro Contato ---

Durante todo o dia Arlam Fucalt acompanhou Orogi por um belo passeio por Grennmória. O pequeno garoto ficou fascinado com a arquitetura das construções, embora não entendesse nada disso, bem diferentes de Taram e Ardas. Aqui o verde de belíssimas árvores estava presente em praticamente tudo. Pátios, prédios, praças, casas, em todo lugar tinha uma árvore perfeitamente alinhada com as construções, num ar de grande harmonia com a natureza. Uma inexplicável sensação de paz tomava o coração de Orogi como nunca sentira antes.

Grennmória realmente era um lugar diferente. Além de sua estrutura, seus habitantes, apesar de ainda parecerem estranhos e causarem um pouco de medo em Orogi, são cordiais e receptivos, sorridentes e, algumas vezes, sérios e contemplativos. Orogi nunca entendeu muito bem a magia, mas se existia um lugar que pudesse transmitir um conceito sobre isso, esse lugar era Grennmória.

Arlam fez com que Orogi tivesse contato com os habitantes do lugar, ainda que esse contato fosse apenas por gestos e breves palavras. Mesmo assim, Fucalt não deixava de tentar explicar um pouco a respeito de cada uma das diferentes raças que viviam em Grennmória. Orogi ouviu um pouco sobre a dureza e inteligência dos Anões, a grande força dos Gigantes, cuja visão quase fez Orogi cair de costas, a disciplina dos Centauros, a harmonia dos Licantropos e a beleza e sabedoria dos Elfos. Todos esses seres tinham características fascinantes. Orogi se perguntava por que nunca o mestre Farmenis tinha lhe falado sobre eles.

O passeio continuou quando Arlam apresentou a Orogi algumas estruturas importantes em Grennmória, como a grande muralha, que protegeu a cidade num passado distante contra forças inimigas e que ainda hoje persiste vigorosa, o magnífico Templo da Mãe Terra, o centro religioso erguido pelos elfos, o impressionante Centro de Treinamento dos Centauros, a Academia de Filosofia Marcial dos licantropos e, principalmente, O Domo, o centro administrativo e de liderança do refúgio verde. É daqui que o nobre Gai-Khan, o líder nomeado de Grennmória, comanda todo o lugar.

---- Gai-Khan? --- Orogi ficou curioso a respeito desse nome exótico.

---- Gai-Khan significa um título, não um nome em si --- explicou Fucalt ---- Ele é dado a um escolhido de Gaia, a Mãe Terra, e significa exatamente o Escolhido de Gaia. É um título de grande renome e responsabilidade.

---- E onde ele está?

---- O aposento do Gai-Khan fica no Domo. Por falar nisso, ele mesmo me disse que tem interesse em conhecê-lo.

---- E..eu? --- Orogi não esperava que alguém tão importante tivesse algum interesse em vê-lo.

---- Sim. Aqui todos são tratados com respeito. Ninguém é tão pequeno que não deva ser conhecido. Esse é um estilo de vida que todos os grennmorianos seguem.

---- Quando vai ser isso? --- perguntou Orogi, não disfarçando seu nervosismo.

---- Pra ser sincero, já estamos atrasados. Vamos? --- disse Fucalt caminhando em direção ao Domo.

Orogi engoliu seco.

Nada em Grennmória ostenta grandiosidade desnecessária. Tudo aqui é construído para ser prático e eficiente. Com o próprio Domo isso não poderia ser diferente. A estrutura não é tão grande, mas é majestosa em sua simplicidade. Orogi ficou deslumbrado com os desenhos nas paredes, retratando o que parecia ser momentos rotineiros na vida dos habitantes. Subindo uma escadaria que dava acesso ao segundo andar, Orogi e Fucalt se depararam com uma porta dupla de madeira trabalhada.

---- Bem, é aqui a sala do Gai-Khan --- disse Fucalt ---- Está preparado?

---- Não.

---- Gosto da sua sinceridade --- falou Fucalt, sorridente. O velho mago deu duas batidas na porta e a abriu.

A sala do líder de Grennmória era simples, com alguns quadros pendurados nas paredes, um belo tapete decorado no chão e o mais impressionante, uma pintura que cobria todo o teto na forma de uma figura feminina grandiosa vestida com uma roupa feita de terra, plantas, água e vento. Orogi demorou um pouco para tirar os olhos dela.

---- A atração é inexplicável não é? --- foi o Gai-Khan que interrompeu a observação de Orogi com a pergunta. O garoto o encarou nervoso. O imponente anão saiu detrás de uma bela mesa de madeira e caminhou na direção de Fucalt e Orogi. Ao seu lado estavam duas figuras de semblante sério, um elfo e um licantropo.

---- Como vai Fucalt? Então esse é nosso novo visitante? --- o líder estendeu os braços na direção de Orogi e pegou suas pequenas mãos.

---- Sim nobre Gai-Khan --- Fucalt fez uma leve reverência, inclinando um pouco a cabeça.

---- Ora, não seja tão formal. Afinal, somos amigos de longa data.

---- O que é uma grande honra para mim --- disse Fucalt.

---- Seja bem vinda à Grennmória, criança. Como se chama? --- o Gai-Khan segurava as mãos de Orogi, que não conseguia segurar o nervosismo.

---- Orogi.

---- Muito bem Orogi --- o velho anão encarava o garoto nos olhos ---- Vejo em seus olhos que tem bom coração, e essa é a força que move o mundo, nunca deixe que ninguém tire isso de você --- neste momento o Gai-Khan toca o peito de Orogi, que fica mais envergonhado, baixando a cabeça ---- Mas não deixe que sua timidez se transforme em covardia.

Nessa hora Orogi levantou a cabeça e o encarou.

---- Sinto muito, mas tenho algumas tarefas importantes para realizar --- disse o Gai-Khan, sorridente ---- Espero que esteja gostando da estadia em nossa humilde cidade. Fucalt, depois conversamos.

---- Com certeza.

Fucalt saiu da sala levando Orogi com ele. Os dois caminharam até chegarem a uma pequena casa.

---- Onde estamos? --- perguntou Orogi.

---- Esse é meu adorado recanto, e você é meu convidado --- Fucalt abriu a porta, revelando um lugar simples, mas bem aconchegante.

---- Posso fazer uma pergunta? --- disse Orogi.

---- Sim, por favor.

---- Por que o senhor acha esse lugar tão especial?

Fucalt achou uma pergunta bem interessante. Olhando nos olhos de Orogi, ele respondeu:

---- Porque aqui eu aprendi a lutar pelo que se acredita.

MiloSantos
Enviado por MiloSantos em 23/04/2011
Código do texto: T2926828
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