Como é difícil julgar
Existem pessoas que não se enquadram muito bem naquilo que costumamos pensar que é a vida normal. Não chegam a ser excêntricos, nem muito menos loucos, mas têm aquela independência e segurança psicológica para se comportarem um pouquinho diferente de nós, os “normais”.
Em geral são pessoas boníssimas, que sabem enxergar o lado bom de todo mundo. São aqueles personagens inesquecíveis.
Penso que era o caso daquele Delegado de Polícia, que dirigia a Delegacia de Barra do Piraí, no Estado do Rio de Janeiro.
Cidade pacata, pouca população, índice pequeno de criminalidade, a cidade de Barra do Piraí é raramente citada pelos jornais, ávidos por anunciar tragédias.
Pois bem, o nosso Delegado Calazans, exímio pianista, boa praça, tranquilão, na parte da noite deixava a Delegacia entregue aos seus subordinados e jantava num restaurante, onde havia um belo piano de cauda.
O pessoal do local, já sabendo que ele tocava muito bem piano, insistia para ele dar uma “canja” e tocasse um pouco.
Agradou tanto, ficou tão querido pela população, que se viu obrigado a tocar quase todas as noites no restaurante onde jantava.
Como era agradável vê-lo tocar. Tocava qualquer coisa, desde os clássicos como Beethoven, Chopin, Mozart, Bach, como as músicas populares tão ao gosto do povão, encerrando sempre com dois ou três tangos, executados magistralmente.
Numa dessas noites, após o seu recital de costume, saiu do restaurante por volta das duas horas da madrugada, feliz da vida. Achava a música fundamental para o bem viver. Retornou à Delegacia, sempre calma, dando um cochilo no seu gabinete, quando foi acordado pelo Detetive Mendonça, por volta das 6,30h da manhã, que, muito assustado, entregou o jornal do dia para o Delegado ler.
Na primeira página, em letras garrafais, lia-se: “ Enquanto ocorrem vários assaltos em Barra do Piraí, o Delegado de Polícia toca piano durante a noite inteira em restaurante da cidade”.
Que maldade! Gente, sinceramente, não me atrevo a julgar o homem!
Ele bem merecia viver em outro mundo!