Rupturas

São como curvas matemáticas que se mostram num gráfico cartesiano. Podem iniciar-se próximo ao vértice, equidistante dos eixos x e y, e em sentido nordeste se lançam avante, procurando acompanhar a bissetriz que se forma entre os eixos, num ângulo exato de 45 graus, e enrolando-se nela como se fora os pendões que ocorrem nos chuchuzeiros pendurados nas cercas que separavam quintais, dão a sustentação necessária que precisam para crescer, florir e dar novos frutos. Assim atingem o cume e lá permanecem por mais alguns pontos, são instantes sublimes da vida, segundo as referências inscritas por nós, x e y, do referido gráfico.

Em certo momento, porém, a curva não mais se sustenta somente sob a bissetriz imaginária e começa a verter para baixo sem que explicações matemáticas, tão somente, sejam suficientes para justificar tal queda. Voltam a aparecer então as “ciências” para explicar a súbita situação. Com uma visão holística, vão a nós contando e revelando coisas que nós não podemos enxergar muito bem.

Como profissionais graduados que julgam ser, depositam sobre as nossas costas e frisam bem em nossos ouvidos agora, não mais aquelas palavras de força, coragem, e fé, que ouvimos em nossa partida, lá no vértice do gráfico, em busca da felicidade e de uma vida melhor, elas, as palavras, perderam a doçura e o encanto, pois, o tempo, ainda mostra-se insuficiente para absorvermos todo o aprendizado, e não somos bem compreendidos por isso. Acredito que elas chegam mais amargas e escassas exigindo de nós uma velocidade de compreensão incompreensível, fazendo a cobrança de nossos erros e falhas uma maneira muito dura, tocando fundo em nossos sentimentos sem nenhum pudor ou consideração que antes houvera deliciosamente em demasia.

Assim, percebo o distanciamento que gradativamente vai ocorrendo nestes tempos, afastando-nos uns dos outros sem que motivos claros justifiquem esta espécie de abandono, um lavar de mãos poderia dizer assim.

A noção de família fica a esta altura um pouco confusa em minha cabeça, meio turva, talvez por que ao ouvir a expressão de que a “família iria aumentar”, eu não tenha entendido muito bem o significado daquelas palavras quando foram então pronunciadas, e de modo arrogante, prepotente, e intempestivo, me coloquei dentro daquele contexto, fazendo parte dela, mas vejo que não é bem assim. Sei que verdadeiramente não faço parte daquilo que a princípio entendi como certo, um devaneio meu...

Assim, novas feridas aparecem, porém não mais umidecem nossos olhos, o tempo se encarregou de esvaziar a caixa reservatória existente, porém a dor tornou-se talvez mais intensa..., não sei bem ao certo, mas agora com uma vantagem, permaneço firmemente calado e esperando do tempo respostas mais claras e certas, e os caminhos que deverei seguir de agora para adiante.

Entretanto, ainda hoje, levo o sorriso comigo e mantenho meus braços abertos e dispostos a dar novos ou velhos abraços, afinal já tenho muitas marcas do tempo tatuadas em meu coração, em meu espírito e nos cabelos brancos que se misturam aos “castanhos escuros teimosos” que cobrem minha cabeça, pois apesar de tudo que carrego, sinto-me mais leve, meio contraditório até, mas é assim que vejo e sinto as coisas acontecerem.

Percebo também que tudo isso é muito pequeno, vazio, solitário, sem valor, especialmente quando qualquer um de nós se vai..., assim..., de repente, e para sempre, pois, nessas terríveis situações não há mais voltas, ficam apenas lembranças e silêncios de uma época em que as coisas poderiam ter sido mais fáceis, leves, simples.

É o que aprendi com a minha vida... São situações difíceis de explicar, duras de sentir, ainda assim..., lembro-me muito disso!

Vitor Mailart
Enviado por Vitor Mailart em 16/04/2011
Código do texto: T2912432
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