Carinho

Dia desses estava sozinho e muito pensativo, fiquei imaginando uma forma de ganhar dinheiro para comprar uma bola de futebol que estava a mostra na vitrine de uma loja de brinquedos, lá no centro da cidade.

Pensei..., pensei..., e aí me veio uma grande idéia!

Claro! Como eu não havia pensado nisso antes! Eu arrumaria algumas coisas que não usava mais e as venderia a quem se interessasse por elas. Fui procurar primeiro no quintal, olhei cantinho por cantinho e não achei nada para vender, fui então para o quarto e comecei a olhar primeiro dentro do guarda roupa, depois em cima dele, em baixo da cama, e nada encontrei que pudesse dispor, então sentei na beirada da minha cama e comecei a conversar com Deus, para Ele me ajudar, pois queria demais a bola lá da loja de brinquedos, e nessa minha conversa, em tom de ajuda e de meio lamentação, foi me dando um sono, mais um sono que de tão profundo acabei dormindo. Sono esse que logo foi recheado com um belo sonho.

Sonhei que eu era um vendedor de verdade, desses que a gente via por aí, elegantes e falando bem, como aqueles vendedores de enciclopédia que batiam na casa da gente e convenciam nossos pais a comprarem seus livros com inúmeros assuntos de interesse escolar.

Mas no meu sonho eu vendia carinho. Isso mesmo! “Carinho!” E quem não gosta de carinho? Até os animais e as flores do jardim da vovó adoram, porque as pessoas não comprariam esse meu produto.

Claro que, para eu me encontrar nessa posição de vendedor “top team” eu ralei muito, pois no começo as pessoas não sabiam o que era isso, carinho!

Elas eram tão ocupadas, tão apressadas, tão agitadas, que quando eu abordei o meu primeiro cliente ele levantou as mãos pensando que fosse um assalto. Foi duro..., muito duro convencer as pessoas, primeiro a me escutar, segundo para elas se lembrarem do que era carinho, e terceiro como usariam esse carinho, estavam tão materializadas que o carinho era como se fosse uma coisa que já haviam escutado, mas não sabiam exatamente onde, para que serviria, e pior! Como usar! Realmente fui um herói explicando a elas todas essas questões envolvendo o carinho, afinal era o meu trabalho!

Na realidade esse produto é muito antigo, e como há muito vinha caindo de moda e desuso, procurei oferecer as pessoas o mesmo produto porem com uma roupagem diferente, e foi justamente aí que o meu negócio decolou de vez. Passei então a vender flores com o “carinho”, pois percebi que o carinho era uma coisa tão rara e tão especial que não haveria dinheiro no mundo que o comprasse, embora percebesse que havia muito interesse, mas acompanhando outro produto com certeza faria a grande diferença no meu negócio e na vida das pessoas.

E assim..., vendia as flores e o carinho ia junto, dia e noite sem parar, era uma loucura, todo mundo queria as flores com carinho, e com isso eu fui inventando outras maneiras de oferecer o carinho que elas queriam e redescobriam.

A sensação que me dava era de que as pessoas começaram a perceber que as flores sem o carinho eram foscas, sem brilhos, sem cores, e sem perfumes, e nada dava certo, no trabalho, em casa, com os amigos, na rua, no parque, enfim..., elas começaram a sentir a falta do carinho, pois através das flores que vendia percebiam o carinho que as acompanhavam. Em todos os lugares as flores com carinho eram sucesso garantido!

Isso foi muito bom, até que a uma certa hora do meu sono, senti uma mãozinha me balançar e me tirar daquele sonho maravilhoso... Ao abrir meus olhos vi meu pai e minha mãe que me olhavam e disseram que tinham uma surpresa, perguntei o que era e meu pai tirou suas mãos das costa e me mostrou a bola que eu tanto queria.

Abracei-os tão fortemente que até hoje guardo carinhosamente aquele momento feliz da minha vida!

Fui carinhosamente atendido!

Vitor Mailart
Enviado por Vitor Mailart em 14/04/2011
Código do texto: T2909276
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