O Baile dos Bichos
INÍCIO DA NOITE DE SÁBADO. Ao horizonte, o arrebol formava-se de todas as cores. O vermelho, porém, se destacava mais. Como que a anunciar a noite de amores e paixões que estavam por vir. Quase todos os animais da floresta foram convidados para o baile de gala em homenagem à nobreza Rei Leão, que estava completando meio século de domínio, sem que, em nenhum momento, alguém ousasse ameaçar seus domínios. Era temido.
Á beira da imensa lagoa "Mar da Floresta" – nome dado pelo senhor Sapo Cururu, que se dizia o rei da lagoa, inclusive é sua moradia – os servos do Rei Leão, às pressas, cuidavam do banquete; a recepção se atentava para que nenhum penetra entrasse no baile, porque só os nobres eram convidados. Senhor Rei Leão fazia de tudo para que nenhum plebeu se misturasse à nobreza. Para ele, qualquer proximidade poderia macular a classe.
O senhor Sapo Cururu era uma das principais figuras que não poderiam participar do baile sob hipótese alguma. Pois diz a lenda na floresta que ele é um bicho agourento, feio, nojento. Tanto que se alguma fêmea grávida olhar para ele, é certo que o filho nascerá com cara de sapo, pé de sapo, e o restante do corpo é mistura do pai e da mãe. Nasce um monstro. Por isso a preocupação do senhor Rei Leão.
Dizem as más línguas que o próprio Sapo Cururu é fruto desses erros genéticos. E tudo aconteceu na gestão do avô do Rei Leão. Na época foi um escândalo, que obrigou Rei Neão a entregar a liderança para seu concorrente mais astucioso: o sagui. Foi um vexame que manchou a moral da família Leão, cuja defesa da ética é a base do reino.
Neão foi acusado de incompetente, incapaz de proibir as relações ilícitas entre os bichos.
Segundo os que têm contato mais intimo com o senhor Cururu, sabem, dá própria boca dele, que essa história é uma invenção da família Leão, que tenta encobrir a vergonha de perder o reino para o sagui, figura mais frágil da floresta.
Só mesmo o rei Neão para cair nas lorotas dele. Diz o sapo, a todos que não se deixam levar por mitos e histórias para boi dormir.
Para muitos Sapo Cururu é um filósofo, entendedor da alma dos bichos. Basta apenas um minutinho de conversa com ele, para tornar-se amigos inseparáveis. Assim, aconteceu com a raposa que se deixou envolver por seus encantos. Hoje, além de nutrir certo sentimento de paixão por ele, é também sua mais fiel defensora. Ai de quem ouse espalhar mentiras a respeito do Cururu. Muitos já até perceberam que ela é caidinha por ele.
Ao alvorecer da noite, ela adiantou-se a convidá-lo para o baile. Apesar de não ser convido, Sapo Cururu se impõe a estar onde ele quer. Dizem que umas das suas maiores virtudes é a persistência. È uma pena que muitos se deixam levar pelos mitos que dizem sobre ele.
Muitos tentam imitá-lo, mas negam que são seguidores dele. Preferem dizer que são seguidores do sagui, da águia, e tantos outros considerados espertos. Poucos reconhecem que só o Cururu apresenta astúcia e persistência em demasia.
Nesta noite de baile estava lá em meio à nobreza, que apenas se militavam a olhá-lo com olhos tortos, porque nem adiantava expulsá-lo, que em minutos ele estaria de volta. Ainda mais que estava na companhia da raposa, que em matéria de esperteza não perdia pra ninguém.
Enquanto a nobreza se entalava de raiva da presença do Cururu, ele e a raposa desfilavam pelo salão como se fossem parte da nobreza. Na verdade era assim que se sentiam, porque podiam não ter sangue azul nas veias, mas esperteza e persistência, principalmente do Sapo Cururu, bem que poderiam servir de requisito para intitulá-los como tal.
Sempre que voltava inebriado de algum baile, Sapo Cururu devaneava a contar suas histórias. Dizia que Deus não faz acepção de bichos, eles são quem inventam meios para estabelecer, a diferença. È tudo falsidade.
__ O mundo é injusto e falso. Dizia Sapo Cururu, enquanto ia de um lado a outro da estrada. Saltitando. Emaranhando as pernas.
__ O mundo é injusto e falso. Gritava, como que a avisar que o mundo, os bichos precisam refletir sobre suas ações.