Sangue de Dragão - Cap. 49

--- Lutando Contra Si Mesmo ---

Farmenis ficou ligeiramente agitado, enquanto todos os presentes silenciavam diante das palavras de Lorde Borgus. Ele falava sobre a realização do Ato Supremo, o que gerou a controvérsia da maioria dos conselheiros. Logo após, os mesmos ficaram calados e já cogitavam a possibilidade de levar a cabo a idéia de Borgus.

O que teria gerado aquela mudança repentina de opinião. De um leve pensamento, veio então a resposta através da voz interior que dizia que ele estava sendo controlado. Mas como? Atormentado por uma confusão de pensamentos, que não sabia de onde vinham e porque, Farmenis saiu da sala apressado. Os presentes quase não notaram. Apenas Lorde Borgus ficou realmente surpreso.

---- Ainda não dei por encerrada a reunião Farmenis --- alertou Borgus contrariado.

---- Eu sei mestre, peço desculpas, mas não me sinto fisicamente bem, acho que ainda são os efeitos dos ferimentos que sofri. Peço sua permissão para me retirar e buscar um remédio --- disse Farmenis. Borgus acenou positivamente com a cabeça, autorizando sua saída da reunião.

“Isso nunca aconteceu antes” pensou Borgus “Ninguém até agora resistiu tão facilmente”

Farmenis vai para o pátio e senta-se num dos cantos do grande jardim. Precisava tomar um pouco de ar fresco, pois sentia-se desnorteado. O que estava acontecendo com ele? O que foi aquela voz que escutou? Os ferimentos de batalha lhe teriam afetado a cabeça? Pior, estaria ficando louco? Estas perguntas inquietavam o experiente mago de uma forma que ele nunca tinha vivido. Mas ainda não tinha acabado.

“Senti energia draconiana naquele velho desgraçado” disse a voz na cabeça de Farmenis “Parece que este lugar guarda alguns segredos”

---- Pelos deuses, o que está acontecendo comigo? --- se perguntou Farmenis ao ouvir aquela voz em sua cabeça.

“Há há há.... Não sabe Urami? Nunca sentiu a sensação não é?”

---- Do que está falando? --- perguntou Farmenis, que não acreditava naquela situação surreal. Estava falando consigo mesmo como se fosse com outra pessoa.

“A sensação de estar preso, sufocado, dentro de uma cela suja e podre. É assim que eu vejo essa sua raça. Durante séculos brincaram de deuses, utilizando suas mágicas para criar aberrações, nos aprisionando nestas carcaças imundas. Agora você sabe o que aquelas crianças a quem chamam de sangue de dragão sentem”

---- Não é possível --- Farmenis estava visivelmente abalado ---- A Ordem não faria jamais uma coisa dessas.

“Não se preocupe, não foi vítima daquele maldito encantamento. Eu adentrei seu corpo utilizando o meu próprio poder. Minha escolha aleatória e desesperada talvez nunca tivesse sido melhor. Encontrei um humano que, assim como eu, tem como único objetivo o poder”

---- Suma da minha mente maldito! --- gritou Farmenis ---- Você não é real!

“Não adianta negar Urami, sabe que estou aqui. Sente minha presença a cada instante, como uma sombra que lhe toma mais e mais”

---- Quem é você?

“Eu sou Balgast, e eu posso dar vazão aos seus maiores desejos, humano”

---- Você é apenas fruto da minha imaginação. Meu único desejo é que desapareça. Não tem poder sobre mim, pois os magos não são controláveis.

“Quer provas? Porque não falou antes?”

Neste momento algo macabro acorre. Como se ganhasse vida própria, uma das mãos de Farmenis o ataca, agarrando sua garganta e apertando com enorme força. Quase perdendo o fôlego, Farmenis lutava desesperadamente para se soltar de si mesmo. Quando estava quase perdendo a consciência, caindo de joelhos ao chão, a mão fantasma o larga, sendo mais uma vez sua. Ofegante, o mago se ergue devagar.

“Essa é uma mínima amostra do meu poder. Portanto, obedeça-me e nada lhe acontecerá”

---- Jamais! --- Farmenis lutava com todas as suas forças contra aquela vontade estranha. Sentia seu ódio, sua escuridão, sua sede de destruição. Se aquilo o tomasse, seria seu fim.

“Chega!” o som da voz de Balgast ecoou por todo o campo mental do mago, enfraquecendo suas barreiras “Obedeça agora. Vá até o líder a quem chamam de Borgus, pois preciso de comprovação”

---- Sim, mestre --- respondeu Farmenis.