A Minhoca que queria ser uma Cobra

Era uma vez, uma minhoquinha que media cerca de dez centímetros. Ela morava perto de um rio, entre uma árvore e uma pedra que mais se parecia com um banquinho, logo abaixo da grama, na terra úmida e fria. Um bom lugar para se morar pensava ela.

Um dia ela estava andando próxima a sua casa, subindo e descendo seu pequeno corpo para ser impulsionada entre a grama e foi então que ela teve uma visão que mudou sua vida. Em principio a visão causou terror. De frente para ela, a alguns centímetros de distância, ela viu uma grande cabeça da cor da terra com olhos negros e uma enorme língua que saia da boca em intervalos rápidos. A minhoca ficou imóvel por alguns segundos achando que seria o seu fim, porém a cobra passou por ela sem lhe dar importância. E a visão do modo como a cobra andava, deslizando de um lado para o outro deixou a minhoca maravilhada. Ela ficou observando a cobra ir embora e se perguntou porque ela não andava daquele jeito, com toda aquela classe e estilo. Naquele momento a minhoca decidiu que aprenderia a deslizar como uma cobra.

No dia seguinte a minhoquinha levantou cedo, pois estava ansiosa para por em prática todos os planos que havia preparado na noite anterior.

Entre a terra e a grama já era possível ver os raios de sol que começavam a iluminar o mundo. Aquela manhã seria o inicio de um dia memorável, um marco no mundo das minhocas. O dia em que a primeira minhoca deixou de andar subindo e descendo o corpo para começar a andar deslizando de um lado para o outro.

A pequena minhoca saiu de sua toca e começou sua jornada para entrar para a história. Ela já havia se afastado um pouco da entrada quando de repente, tudo ficou escuro a sua volta. Parecia que o sol já tinha ido embora e que o dia havia terminado. A minhoca ficou parada tentando entender o que estava acontecendo quando sentiu uma enorme pressão sobre seu corpo e sentiu como se ela estivesse sendo prensada contra a terra. Alguns segundos depois sentiu que a pressão estava aliviando, mas agora estava faltando ar. Ela começou a se contorcer e se soltou da terra que a estava pressionando. Tentou se concentrar para entender onde estava e viu outras minhocas ao seu lado também sem entender o que estava acontecendo. Quando ela pensou em perguntar alguma coisa para alguém, sentiu novamente uma pressão em volta do corpo e alguns segundos depois ela sentiu uma dor muito forte. Alguma coisa fria e pontuda havia entrado em sua barriga e atravessado suas costas a deixando pendurada e se contorcendo de dor. Ela sentiu o mundo girar e o vento bater cada vez mais rápido em seu corpo. Pensou que estava morrendo, quando de repente sentiu seu corpo batendo em uma superfície dura, que logo depois se tornou liquida e mesmo ela sentindo muita dor, percebeu que alguma coisa havia mudado. Por alguns instantes ela não sentiu mais nenhuma dor. Seu corpo estava flutuando e ela estava maravilhada com aquilo.

O mundo estava em câmera lenta e tudo a sua volta tinha um tom azulado que ia ficando mais escuro conforme aumentava a distância que a vista alcançava.

A minhoca começou a se mexer mesmo sentindo um pouco de frio. Ela sentiu que seus movimentos eram leves e suaves, mesmo que tentasse ser mais rápida. Então ela se lembrou da cobra e de seus movimentos elegantes. Decidiu tentar deslizar como ela. Um sonho se tornando realidade. Seus pequenos olhos brilharam e parecia que seu peito iria explodir de emoção. Ela queria gritar, pular e fazer tudo que se pode fazer quando se esta feliz. A pequena minhoca estava deslizando como uma cobra. Esguia e elegante.

A alegria da minhoca era tanta que ela não viu que alguma coisa estava se aproximando dela com a boca enorme aberta e cheia de dentes pontudos. Quando ela percebeu já era tarde demais e não havia o que fazer.

O peixe viu sua comida se mexendo de um lado para o outro de uma maneira diferente do que já havia visto, porém não pensou duas vezes abrindo bem a boca e engolindo a pequena minhoca.

Do lado de fora, na beira do rio, sentado em uma pedra que mais se parecia com um banquinho, estava um homem segurando sua vara de pesca, quando sentiu que um peixe havia mordido sua isca. Em sua empolgação ele puxou a vara com muita força, perdendo o equilíbrio. O peixe voou para a grama e ficou se debatendo tentando voltar ao rio. O homem, para não cair de lado e bater com a cabeça na árvore que estava ali, jogou a perna de lado para dar apoio ao corpo. Porém ele não havia visto, que rastejando ao seu lado, estava a cobra marrom de olhos negros. Ele pisou na cobra e ela por reflexo mordeu sua perna liberando seu veneno. O homem gritou, soltou a vara de pesca e pegou um facão que estava ao seu lado dando um golpe certeiro que dividiu a cobra em duas.

O homem levantou cambaleante e começou a seguir por uma trilha tentando chegar ao carro para ir ao hospital. Contudo, ele foi perdendo os sentidos no meio da trilha e infelizmente não conseguiu chegar ao carro a tempo, vindo a falecer a alguns metros do carro.

FIM.