Sangue de Dragão - Cap. 47

--- Tomado Pela Sombra ---

A terra e a grama machucavam suas costas. Não sabia por quanto tempo estava ali naquela posição. Seus olhos cerrados não te obedeciam, pareciam ter vontade própria. De alguma forma não queriam que seu portador visse o que estava a sua volta.

Durante muito tempo lutou para abri-los, mas não tinha forças. Temia que estivesse morto e que os deuses o tivessem punido com a cegueira para toda eternidade. Seu corpo também estava fraco, moído, como se algo cravasse mil dentes em todas as suas partes, e que mesmo agora estivesse se alimentando dele, sugando sua essência.

Pelo menos uma coisa ainda lhe restava, a consciência de si mesmo. Sabia seu nome, Farmenis, o mago da Ordem da Magia, e de onde vinha, Taram, capital do Reino do Norte. De nada mais se lembrava. Era angustiante a sensação de solidão.

De repente um cheiro invadiu suas narinas, um cheiro de sangue que quase o sufocou. O mago começou a reunir forças do âmago da sua alma, pois seu corpo ainda não queria obedecê-lo nem seus olhos se abrirem. Um calor imenso tomou conta do lugar, como se seu corpo tivesse para ser jogado dentro de uma imensa fogueira, e essa sensação foi acompanhada por gritos de horror e golpes de lâminas.

Subitamente seus olhos se abrem e seus braços e pernas se mexem. Olhando a sua volta, Farmenis não acredita no que vê. Tinha acordado no meio de uma batalha de proporções gigantescas entre homens, bestas da floresta e......Dragões.

Eles estavam por toda parte, nos céus, na água e na terra, e possuíam todos os tamanhos, indo do comprimento de um homem grande até a altura de uma torre. Sua fúria era absurda, como também era a das forças opositoras. Garras, dentes, fogo, magia e lâminas pareciam disputar a hegemonia do mundo. Farmenis acompanhava tudo com olhos congelados.

“Vire-se, Urami” disse uma poderosa voz.

Tomado por grande susto, Farmenis virou-se e encarou um imenso dragão parado a sua frente, com imensas asas e com presas e garras afiadas. Ele começou a se mover em sua direção, com suas passadas pesadas que faziam tremer o chão. Farmenis tentou usar sua magia, mas nada aconteceu, tentou fugir dali, mas seu corpo mais uma vez ficou estagnado.

“Como se sente nesta posição? Indefeso, pequeno, insignificante? Pois é isto que você significa para mim, verme”

“Q...quem é você criatura?” perguntou Farmenis

“Eu sou aquele que fará isto se tornar realidade” disse o dragão, levantando-se sobre as patas traseiras e apontando para a guerra a sua volta.

“Que lugar é este?” perguntou Farmenis.

“Este é o nosso sonho, dos dragões. A submissão de toda a vida. Um sonho que só não se tornou realidade por causa de uma repugnante traição” neste momento o dragão aponta para o céu, na direção de um imenso grupo de dragões alados, que voam para longe do conflito.

“Mas este mundo está destinado aos mais fortes não é?” indagou a criatura, encarando Farmenis friamente, como se o mago soubesse do que ele estava falando.

Farmenis ficou em silêncio. A criatura tinha tocado em um ponto profundo de sua alma.

“Eu sabia. Neste lugar, seus mais sórdidos pensamentos e vontades não me escapam. Para evitar que o maldito Povo Ancestral me capturasse, tive que abandonar meu antigo hospedeiro e buscar uma nova carcaça para ser meu veículo. Uma pena que não tive como escolher, e vim parar no corpo de um maldito Urami”

“Do que está falando?” Farmenis estava com os olhos arregalados de medo.

“Muitos dos meus irmãos morreram nas mãos dos urami. Arrastados de suas tocas, ainda enfraquecidos, para servirem aos seus desejos de poder. Vocês ainda não têm a mínima noção do que é o poder verdadeiro. Mas eu terei o imenso prazer em lhes mostrar”

Farmenis tenta se controlar diante do pavor e encara a fera seriamente.

“Se o que diz é realmente verdade, que tomou meu corpo, não serei uma presa fácil maldito” dizendo isso, Farmenis concentra toda sua força mental para sair daquele lugar. Precisava acordar daquele pesadelo.

De repente, como que obedecendo à força de vontade do mago, a realidade a sua volta começou a mudar. A paisagem de guerra foi dando lugar, pouco a pouco, a um céu límpido e uma planície verdejante com uma cidade ao longe, Taram.

Vendo aquilo, o dragão bradou:

“NÃO ADIANTA URAMI! EU SOU BALGAST, O PRIMEIRO GENERAL, E VOCÊ AGORA É MEU! HUUAAAAAAAAAAGGGGHHHHH!” o grito do dragão levantou uma ventania e quase estourou os ouvidos de Farmenis.

“NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOO!” o mago segurou os ouvidos com as mãos, agachou-se e fechou os olhos.

Um segundo depois, tudo mergulhou no mais profundo silêncio. Ao abrir os olhos, Farmenis se deparou com a planície próxima de Taram. A cidade resplandecia ao longe sob um belo sol. Sentindo-se imensamente aliviado, Farmenis começou a caminhar em sua direção. Tudo não passara de um terrível pesadelo. Puniria severamente todos que o deixaram para morrer.

Rapidamente nuvens pesadas escureceram o sol. Um frio mortal tomou conta do lugar e uma sensação iminente de morte se aproximava. Ao olhar para trás, Farmenis viu uma sombra profunda se apossar de tudo que ela tocava, sufocando e matando tudo pelo caminho. E essa sombra trazia uma vontade terrível, um ódio imenso.

“Não adianta fugir! Eu o acharei em qualquer lugar! Você é meu! Há, há, há, há ,há!”

O corpo de Farmenis é sugado pela sombra.

---- Aaaaaaaaaahhhhhhhhhhhh! --- O grito do mago enfermo foi terrível, e seus olhos se abriram no mundo real.

Há centenas de quilômetros dali, o mesmo acontecia com um pequeno garoto.

MiloSantos
Enviado por MiloSantos em 30/03/2011
Código do texto: T2880464
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