Sangue de Dragão - Cap. 43

--- A Dúvida Que Gera Esperança ---

---- Você vai acabar engasgando se não parar de comer tão rápido --- disse Tilla.

---- É verdade --- concordou Alissa.

---- Desculpe. É que as coisas lá na ala médica estão a mil por hora depois que as tropas chegaram --- respondeu Sarina ---- Depois destas três semanas, ainda tem feridos em estado delicado que requerem mais cuidados.

---- Não vejo a hora de terminar meu aprendizado e me somar às tropas da ordem nos campos de batalha --- falou corajosamente Somara, batendo com a mão no peito.

---- Não esqueça de mim, estou logo atrás de você --- falou Tilla cumprimentando a amiga.

---- Depois de receberem o primeiro ferimento de batalha, quero ver se acharão a guerra uma coisa legal --- disse Sarina.

---- Diante da honra em defender nossa ordem, a dor é secundária --- disse Tilla ---- E você vem se formando em magia de cura Sarina. Portanto, cuide bem dos nossos ferimentos.

Todas as quatro amigas riram juntas diante dos comentários de Tilla. A conversa continuou alegre no refeitório repleto de alunos. Sarina, consciente dos seus compromissos, acabou rapidamente sua refeição e saiu correndo para a ala médica.

Sarina sabia que seu comportamento ultimamente podia estar despertando por parte de suas amigas uma certa curiosidade. E não era por menos, pois realmente estava se empenhando bastante em aprender as técnicas da magia de cura. Principalmente depois que passou a fazer parte da equipe que cuidava dos casos mais graves, no D.C.I (Departamento de Cuidados Intensivos), sob as orientações diretas de sua mestra, a maga Elísia.

Sendo sempre uma boa aprendiz, Sarina costuma se destacar nos estudos arcanos. Mas o motivo mais profundo de toda sua recente dedicação, surpreendendo até sua mestra, é uma inquietante sensação que não deixa sua mente e coração.

Sempre que as tarefas permitiam, Sarina dava um jeito de visitar o mestre Farmenis em seu leito, sempre acompanhada por um mago e nunca chegando tão perto. A cada dia renovava a esperança de vê-lo reanimado, mas o mestre não reagia aos medicamentos mais potentes. Ficava ali, deitado e com os olhos fechados, respirando suavemente. Estava neste estado há quase um mês, sem esboçar nenhuma reação.

Pelo que aprendeu com a mestra Elísia, Sarina sabia que todos os magos controladores possuíam uma forte ligação com seus Sangue de Dragão. Essa ligação mística era ativada por duas marcas desenhadas em seus corpos. Uma na mão do mago e outra na nuca do sangue de dragão, chamada de Marca do Dragão. O mais importante é que se essa ligação fosse rompida, com a morte de um ou de outro, a marca do dragão desapareceria.

Aproveitando uma oportunidade única, Sarina se deslocou até a ala onde o mestre Farmenis estava. Mesmo correndo o risco de ser punida, precisava saber uma verdade. Como conhecia bem os horários dos magos curadores, entrou na ala do D.C.I no momento em que a maioria estava almoçando. Teve pouca dificuldade em se esgueirar até a sala onde estava o mestre.

Ao se aproximar dele seu coração começou a bater mais forte, estava ansiosa. Olhou para os lados e retirou de sua bolsa um pequeno canivete. Afastando o lençol que cobria o corpo de Farmenis, Sarina olhou para sua mão. Ela estava toda enfaixada, ainda em processo de recuperação depois de alguns procedimentos cirúrgicos. Queimaduras mágicas demoravam para cicatrizar, ainda mais com o metabolismo enfraquecido do mestre.

“É a segunda vez que cometo um ato tão estúpido” pensou Sarina “Desculpe mestre, mas preciso tirar uma dúvida que está me atormentando”.

Passando a lâmina do canivete com cuidado, Sarina foi retirando as ataduras da mão de Farmenis. Ele não esboçava nenhuma reação, completamente mergulhado num sono profundo. Sarina suava bastante quando terminou de cortar o curativo. Assim que viu a mão do mago, seu coração disparou e seus olhos arregalaram.

“Pelos deuses.......”

---- O que pensa que está fazendo garota? --- uma voz repentina congelou o sangue de Sarina.

Sarina olhou para trás.

---- Mestra Elísia.