A LENDA
A casa no alto do morro se mantém em pé. O telhado vermelho se sobressaia na paisagem triste.
A árvore do lado direito secou e o jardim se acabou.
Dos dois apaixonados ninguém mais soube. As portas e janelas se cerraram.
O tempo dos risos se foi.
Eram lindos sim. Eram.
Depois de tantos anos ainda me lembro a estória. Dizem que era uma lenda. Não posso afirmar. Nada posso afirmar.
Recordar tudo isso enche o meu coração de alegria. Criei em cima de tudo tanta fantasia.
Os dois viveram um sonho de amor naquela casa. Era um ninho.
O homem alto e magro; cabelos escuros; olhos negros. A mulher de pele clara; cabelos loiros e olhos verdes.
Sei que formavam um belo par.
E corriam pelas encostas de mãos dadas. Viviam abraçados. A dar risadas.
Aos domingos se vestiam lindamente e iam à igreja. Ficavam no último banco e mal a missa terminava corriam pra pracinha. Abraçadinhos visitavam o chafariz e sempre o cavalheiro colhia uma rosa pra enfeitar os cabelos de sua amada.
Pensar nisso me faz dar risada. Não um riso de deboche.
Um riso de contentamento pelo que foram.
Deixaram a casa vazia, mas estará mesmo vazia?
Fechada está. Completamente lacrada.
Mas, existe um mistério todo envolvendo aquele lugar.
Ninguém lá quis ir morar.
O vento da casa parece judiar, mas em pé ela conseguiu ficar.
Guardo no coração a casa, os dois apaixonados. Tudo eu guardo. Até o tempo que pertence a um tempo morto.
Mas estará mesmo morto?
A lenda é viva em mim, latente. Latejante de vida. Ainda que os personagens tenham morrido.
Mas a morte também não é um mistério, como esta lenda?