A LENDA

A casa no alto do morro se mantém em pé. O telhado vermelho se sobressaia na paisagem triste.

A árvore do lado direito secou e o jardim se acabou.

Dos dois apaixonados ninguém mais soube. As portas e janelas se cerraram.

O tempo dos risos se foi.

Eram lindos sim. Eram.

Depois de tantos anos ainda me lembro a estória. Dizem que era uma lenda. Não posso afirmar. Nada posso afirmar.

Recordar tudo isso enche o meu coração de alegria. Criei em cima de tudo tanta fantasia.

Os dois viveram um sonho de amor naquela casa. Era um ninho.

O homem alto e magro; cabelos escuros; olhos negros. A mulher de pele clara; cabelos loiros e olhos verdes.

Sei que formavam um belo par.

E corriam pelas encostas de mãos dadas. Viviam abraçados. A dar risadas.

Aos domingos se vestiam lindamente e iam à igreja. Ficavam no último banco e mal a missa terminava corriam pra pracinha. Abraçadinhos visitavam o chafariz e sempre o cavalheiro colhia uma rosa pra enfeitar os cabelos de sua amada.

Pensar nisso me faz dar risada. Não um riso de deboche.

Um riso de contentamento pelo que foram.

Deixaram a casa vazia, mas estará mesmo vazia?

Fechada está. Completamente lacrada.

Mas, existe um mistério todo envolvendo aquele lugar.

Ninguém lá quis ir morar.

O vento da casa parece judiar, mas em pé ela conseguiu ficar.

Guardo no coração a casa, os dois apaixonados. Tudo eu guardo. Até o tempo que pertence a um tempo morto.

Mas estará mesmo morto?

A lenda é viva em mim, latente. Latejante de vida. Ainda que os personagens tenham morrido.

Mas a morte também não é um mistério, como esta lenda?

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 05/11/2006
Reeditado em 24/03/2011
Código do texto: T282628
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.