Sangue de Dragão - Cap. 40

--- O Selamento dos Quatro Pergaminhos ---

O frágil corpo de Orogi não suportaria uma descarga de energia tão forte. Se a alabarda atirada pelo centauro Kiron o atingisse, seria o fim para as pretensões do dragão Balgast. Para evitar a destruição do seu hospedeiro, direcionou boa parte de sua energia, concentrando-a em volta do corpo de Orogi, criando uma espécie de barreira cristalina.

A alabarda mortal se chocou contra a barreira, mas sua descarga elétrica não conseguiu atingir Orogi. Como conseqüência da transferência de energia, a forma de Balgast diminuiu de tamanho. Alguns metros à frente, o corpo do guerreiro centauro Kiron caía inerte no chão. Amparado pelos seus soldados, respirava com imensa dificuldade.

Enquanto isso, o restante das forças do reino do norte, composta pelos últimos soldados em campo, vinha correndo no intuito de ajudar os derradeiros magos sobreviventes. Farmenis perdera suas forças e estava caído no chão, mas acordado, enquanto que Tarlius e Azura, que tinham sido atingidos por uma parte da potente baforada de Balgast, estavam desacordados próximos a muralha do forte.

Por um momento, Balgast permaneceu imóvel, com a cabeça baixa, parecendo estar imerso numa espécie de concentração. O grande dragão ignorava completamente a tropa de soldados que se aproximava aos gritos, com suas espadas preparadas. Depois de alguns segundos, a armadura cristalina que protegia o corpo de Orogi se desfez. A energia concentrada se dispersou de volta pelo corpo e uma parte dela saiu pelas costas da criatura na forma de imensas e poderosas asas.

Os soldados pararam no meio do caminho e se amedrontaram. Nunca tinham visto tamanho. A tropa se posicionou numa formação em linha e ficaram ali com seus escudos e espadas, esperando o que ia acontecer.

“Ele vai embora. Não posso permitir” pensou o mago Fucalt. Olhando para a elfa Lantara, deu a ordem.

---- Lantara! Concentre um ataque maciço. Temos que impedir que ele alce vôo. Gunta, chegou a hora, prepare os pergaminhos --- Fucalt tirou de sua bolsa de couro um rolo de pergaminho preso por uma fita vermelha. Gunta e seus dois companheiros, Uubo e Taigra, também fizeram o mesmo.

A líder dos arqueiros esticou seu arco prateado. Seu rosto estava totalmente iluminado pela flecha concentrada com o elemento fogo. A maior arqueira de Greenmória não mexia um único músculo, tamanha era sua concentração. Tudo parecia silencioso a sua volta. O que importava era acertar o disparo.

Lantara mirou e disparou. A flecha saiu velozmente como um pequeno cometa brilhante.

Balgast começara a alçar vôo levantando as patas dianteiras, mas foi atingido no pescoço pela grande explosão da flecha de Lantara, que cobriu o ar de fogo e fumaça. O impacto fez o dragão vermelho cambalear para o lado e quase perder o equilíbrio.

---- Agora! Saltem! --- ordenou Fucalt. O mago e os três guerreiros licantropos pularam da muralha em direção ao solo. A altura não era problema para os ágeis guerreiros, que caíram de pé no chão. Fucalt contornou essa situação evocando um colchão de ar para amortecer sua queda. Fucalt era um mago manipulador do elemento ar.

Assim que atingiram o solo, os quatro avançaram rapidamente na direção de Balgast, que já recobrava o equilíbrio. A fúria do dragão estava voltada agora para Lantara e seus arqueiros no alto da muralha.

---- Vamos, rápido! Formem o perímetro! --- disse Gunta, apontando para seus companheiros. Os licantropos, juntamente com Fucalt, tomaram suas posições, formando um quadrado e mantendo Balgast no centro.

Mirando toda sua raiva contra seus agressores élficos, Balgast concentrou energia dentro da boca. Ele preparava uma nova baforada. Fucalt viu aquilo e se apressou.

---- Abram os pergaminhos! --- Fucalt e os três licantropos colocaram os pergaminhos no chão e retiraram os laços que os prendiam. Assim que foram desamarrados, os pergaminhos se abriram sozinhos e começaram a emitir uma luminescência vermelha.

No mesmo instante todos ouviram um forte estrondo. Um forte deslocamento de ar arrastou tudo em seu caminho e derrubou Fucalt vários metros para trás. Gunta e os outros licantropos fincaram suas garras no chão com toda a força e conseguiram manter o equilíbrio.

Balgast acabara de disparar sua rajada energética.

A poderosa baforada saiu na forma de um leque devastador, cavando uma vala no chão com seu deslocamento de ar conforme se aproximava do seu alvo.

Ao ver a imensa manifestação de energia vindo em sua direção, Lantara arregalou os olhos, e seu instinto de sobrevivência falou mais alto.

---- Pulem! --- A elfa deu um salto visando o pátio central do forte. Seus soldados fizeram o mesmo. Largando seus arcos no caminho. Mas não foram rápidos o suficiente. A onda de energia alcançou a muralha entes que eles completassem a aterrissagem.

O impacto destruiu completamente a muralha do forte Ulsther. Pedaços de rocha voaram para todos os lados, esmagando os guerreiros que ainda estavam dentro da estrutura. Mas a destruição não tinha acabado, pois a baforada de Balgast continuou seu caminho e se chocou contra os fundos da fortaleza, causando uma nova explosão de blocos de pedra e poeira. Finalmente a energia se dispersou quando passou por cima do rio vermelho, já do lado de fora, e atingiu a floresta do outro lado da margem, abrindo uma cratera com uma grande explosão.

O imponente forte Ulsther, o primeiro posto avançado do reino do norte nestas terras, tinha sido literalmente cortado ao meio, e agora toda a sua orgulhosa estrutura vinha abaixo numa imensa nuvem de poeira e cascalhos.

O velho corpo de Fucalt lutou bastante para retomar sua posição ao lado do pergaminho, que mesmo diante da ventania não saiu do lugar, parecia grudado ao solo. O mago renegado fez sinal com a cabeça para os demais. Ao mesmo tempo todos os quatro bateram as palmas das mãos, liberando a energia contida nos pergaminhos.

O Selamento dos Quatro Pergaminhos tinha sido iniciado.

Subitamente Balgast percebeu o que se desenrolava logo abaixo dele. Quando olhou, o imenso dragão não acreditou no que viu.

“Isso é.....não....não posso ser atingido por esse encanto” Balgast posicionou suas asas e as agitou. O dragão começou a levantar vôo.

---- Arlam, ele está fugindo! --- gritou Uubo.

---- Continue se concentrando! --- respondeu o mago.

O balançar de asas de Balgast levantou uma nuvem de poeira e ele já estava a alguns metros do chão, inclinando-se para sair em direção à floresta. Mas teve seus planos frustrados.

A magia dos quatro pergaminhos foi liberada. Quatro feixes de energia saíram e se expandiram até se tocarem, criando um bloco que alcançou o Balgast, paralisando seu vôo. A cela energética não foi totalmente bem sucedida, prendendo apenas metade do corpo do dragão, que ficou se debatendo furiosamente na tentativa de se soltar. Mas os pergaminhos começaram a puxá-lo para baixo. Sua essência estava sendo tragada.

---- AAAARRGGGHHHHH! --- O grito do dragão reverberou por toda a área. Tomado pelo desespero, Balgast tomou uma decisão urgente. Rompendo seu corpo ao meio, ele dispersou sua energia. A metade da trás foi sugada pelos pergaminhos, derrubando o corpo inerte de Orogi no chão. Fucalt e seus companheiros caíram pelo esforço em manter o selamento ativo. Estavam exaustos.

A metade da frente do corpo de Balgast se transformou numa bola de luz vermelha e saiu rodopiando para todos os lados até encontrar um ponto de onde se fixar.

Farmenis já estava de pé quando foi atingido por uma bola de energia que o derrubou no chão mais uma vez. O mago ficou se debatendo como se estivesse lutando pela sua vida enquanto a energia vermelha percorria seu corpo. De repente ela parou e Farmenis ficou parado, respirando ofegante, até que desmaiou.

Vendo aquilo, a última tropa de soldados que ainda estava de pé se dividiu e socorreram Farmenis, Tarlius e Azura. Não perdendo tempo todos saíram correndo para a floresta. Estavam retornando para o acampamento.

O silêncio tomou conta do lugar. Na batalha pelo forte Ulsther não houve vencedores. Mas suas conseqüências afetarão ambos os lados.

MiloSantos
Enviado por MiloSantos em 27/02/2011
Código do texto: T2818288
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.