A PEDRA E A BORBOLETA
O quintal era e sempre foi o seu lar. Por vezes, deslocara-se do lugar de onde se encontrou pela primeira vez – pelo o que se lembrava. Atualmente, está próximo à uma pequena árvore de tronco fino e marrom claro e folhas verde escuras e quase sob ela, está já cerca de um mês. Seu nome é Pedra.
Pedra é um cara bacana, cheio de amor e atenção para dar, mas por ser uma pedra, não recebia muita atenção de outras coisas que o cercavam. Havia outras pedras por perto, mas nunca teve muita sorte, achava-as muito complicadas. Sentia-se muito sozinho e sorte dele que a pequena árvore conversava com ele por alguns minutos dos dias.
_ O que são essas coisas em você? - Pedra perguntou à jovem árvore, quando pela manhã, percebeu que ela não parecia estar bem.
_ São lagartas.
_ E não tem como você fazer alguma coisa para que elas caiam no chão e pare de te machucar?
_ Às vezes o vento faz isso. Mas é algo que faz parte da minha história. Não posso nada nesse caso.
_ E doí?
_ Muito.
_ Porque não conversa com essas lagartas e tenta entrar em um acordo?
A árvore riu e logo respondeu pacientemente:
_ Elas não me ouviriam. Precisam comer minhas folhas para se manterem vivas. E além do mais, são quase burras. Depois que estiverem completamente adultas são mais educadas, muito gentis e inteligentes.
_ E elas vão demorar em ficarem adultas?
_ Semanas. - Neste instante, Árvore gemeu demonstrando ter levado uma mordida mais dolorosa do que de costume.
Ficaram calados o resto do dia e à noite, Pedra parecia estar em profunda depressão. Olhava apenas para o chão, observava as poucas formigas retornando do trabalhado enquanto riam e conversavam entre elas. Ouviu pássaros e olhou para o alto e três deles voaram para qualquer direção. Viu a lua e viu as estrelas e pensou que nem a lua e nem as estrelas estavam sozinhas.
Pedra sonhava em encontrar alguém que fizesse companhia a ele sem nenhum interesse. Queria apenas sentir-se amado e querido. Ficava muito irritado quando escutava um humano dizer que pessoas más têm coração de pedra e não entendia porque os humanos caracterizavam as pedras como insensíveis já que le mesmo sabia que eram os humanos os ingratos, mentirosos e hipócritas.
Certa tarde, percebeu que uma das lagartas tinha escondido-se dentro de uma pequena bolsa estranha e Pedro observava, todos os dias, intrigado com tal fato. Quando em um dia, aproximadamente dez horas de uma manhã ensolarada, Pedro testemunhara algo que ele julgou ser a coisa mais fascinante que já vira.
Uma delicada borboleta caiu desajeitada bem encima dele.
_ Ops! Cuidado, você se machucou? - Perguntou educadamente à borboleta.
_ Desculpe-me. Estou bem. - Respondeu meio envergonhada.
Pedra ficou admirado com a voz daquela criatura belíssima. Sua voz era fina e delicada, seu corpo mais delicado ainda e não pesava absolutamente quase nada. Ficou muito feliz e como a borboleta precisava ficar parada por alguns minutos para se secar, Pedra aproveitou para conversar.
Pareciam que já se conheciam há tempos e a borboleta ficou encantada com Pedra.
Passaram a conversar todos os dias e Pedra ficava cada vez mais vislumbrado com as batidas de azas da borboleta. Essa por sua vez, admirava a força, convicção e sensibilidade dele.
Com muito medo, ele se declarou para ela. Não sabia muito sobre a vida das borboletas, mas foi avisado pela borboleta que sua vida era muito rápida na forma em que estava. A tristeza apontou-se no horizonte de Pedra, mas concedeu ao pedido da Borboleta para viverem três curtas semanas sem pensar no fim.
Todas as outras pedras invejaram o delicado e sólido amor de Pedra e Borboleta. Ele não podia voar e ela até tentou içá-lo alguns milímetros, mas não conseguiu. Tal fato não foi suficiente para deixá-los tristes, pelo contrário. Pedra nunca se sentira tão feliz e importante tendo uma nobre borboleta ao seu lado tentado levá-lo para um passeio.
A Borboleta acariciava-o com suas cumpridas, finas e delicadas pernas e o beijava levemente. Ele a aquecia nas primeiras horas da noite ainda com o calor do sol sobre suas costas.
Aprenderam muitas coisas juntos. Ela descrevera o quintal para ele. Passava agora pela mente de Pedra a imagem de um quintal bastante amplo. Logo à frente havia um jardim com lindas flores e uma parte delicadamente capinada. Borboleta disse que aquela parte de terra e pedras onde seu amado encontrava-se era apenas uma pequena parte do quintal e que se ela tivesse forças suficiente, levá-lo-ia para o meio do capim.
Ela aprendera bastante sobre história e como muitas coisas surgiram. Ela tinha agora uma grande e ampla visão de mundo.
Os dias passaram muito rápido. E em uma manhã, a borboleta voou para trás da pequena árvore. Pousou sobre o chão e esperou sua história chegar ao fim.
Pedra já estava muito aflito e preocupado. Esperou horas e esperou o dia todo. Não dormiu e esperou pela manhã e até a hora do meio dia. Seu desespero tomou conta do seu corpo maciço e seu peso quadruplicou. Sabia o que tinha acontecido.
A árvore tentou consolá-lo e disse poucas palavras. Disse porque a borboleta não se despedira dele – ela não queria sofrer mais do que já estava sofrendo e sofreria mais se o visse sofrer. A árvore não contou – devido a uma promessa à borboleta - que o quintal descrito não existia, que não passava de um terreno abandonado e que não tinha jardim com flores e nem terreno forrado por capim.
Pedra sofreu muito. Tanto que nenhum humano seria capaz de saber quanto. Chorou tanto que nenhum rio seria capaz de competir. Pedra já não via mais sentido e nem inspiração para continuar ali, imóvel por dias sob a luz do sol e da lua. Seu interior era repleto de lembranças e se alguém o abrisse no meio veria que sua saudade era dura e seca.
Hoje, Pedra está no mesmo lugar e já viu que há um novo casulo pendurado na sua companheira árvore. Ele implora para que alguém ou um animal passe por ali e desloque-o para longe... para onde não possa ver borboletas.