Sangue de Dragão - Cap. 36
--- O Início da Vingança ---
Dez metros era a distância entre Orogi e o Golem de Ferro do anão Rajagul. Quando partiu em disparada, Orogi percorreu facilmente os primeiros cinco metros, mas foi forçado a mudar de posição quando o golem disparou, de uma das armas posicionadas em seus ombros, cinco projéteis pontiagudos, semelhantes a pontas de flecha, só que maiores. As lâminas saíram guiadas por cabos metálicos flexíveis e se espalharam em pleno ar, aumentando a área de acerto.
Orogi pulou para a direita, esquivando do primeiro projétil, que fincou no solo, depois o sangue de dragão pulou para a esquerda, esquivando da segunda lâmina. O terceiro já estava em cima dele, dando apenas, com muito esforço, para saltar verticalmente. Conseguiu por muito pouco, mas o objeto era muito rápido e cortou dolorosamente o abdômen de Orogi. A dor o fez perder a atenção. O suficiente para que o quarto dardo o atingisse.
---- Aaaaagghhhhh! --- Orogi grita de dor quando um dos projéteis atinge seu ombro direito, perfurando pela frente e saindo por trás. Sua raiva se acende ainda mais e ele tenta desesperadamente romper o cabo guia, mas não obtém sucesso. É muito resistente.
Mau a dor lancinante toma conta de Orogi, o último projétil vem em sua direção como uma flecha. O sangue de dragão consegue vê-lo a tempo apenas de tentar impedir que ele perfure seu outro ombro.
Pela segunda vez Rajagul se surpreende com o seu oponente. Orogi conseguiu parar o avanço da lâmina a centímetros de perfurar seu corpo, agarrando a parte do cabo logo após a peça de ferro, que parece vibrar querendo atingir seu alvo. Ao tocar o projétil, Orogi sente que é carregado de força mágica.
“Ainda não acabou sangue de dragão” pensa Rajagul.
Com um comando, Rajagul chama de volta o dardo que tinha perfurado o ombro de Orogi. Ao retornar, o cabo metálico começa a arranhar a carne e os ossos, gerando uma dor imensa. Antes de alcançar o corpo do sangue de dragão, o dardo se divide em dois e crava-se por trás do ombro de Orogi.
O golem de ferro começa a puxar sua vítima para si. Desesperado, Orogi tenta inutilmente se desvencilhar da arma. Debate-se de um lado para o outro, mas sem sucesso. Mesmo diante de grande dor, o sangue de dragão continua a se debater. No meio do caminho ele larga o projétil que estava segurando.
Enquanto isso, Azura, que olhava a cena com os olhos arregalados, encontrava sua espada. Precisava fazer alguma coisa para libertar Orogi das garras daquele monstro. Mesmo sem energias, saiu aos tropeços na direção do golem. Definitivamente não gostava dos sangue de dragão, continuava achando que eram aberrações, mas ali, no campo de batalha, Azura sabia que uma de suas tarefas, determinada pelo capitão Farmenis, era a proteção dessas armas humanas. Como membro da centúria, cumpria suas ordens à risca.
“Isso mesmo mago, se aproxime. O que fará? Morrerão os dois” Observando o avanço de Azura, Rajagul preparava seu golpe final.
O controlador do golem de ferro esperou o momento certo. Queria que mago e sangue de dragão estivessem no campo de ação de sua arma. Assim, seria mais fácil atingi-los.
Quando Azura chegou às costas de Orogi, fez o impensável.
---- Você pode até me matar maldito! Mas não terá este sangue de dragão! --- gritou Azura, que um golpe voraz cortou o braço de Orogi pelo ombro, gerando uma explosão de sangue. Neste mesmo instante, Rajagul, impressionado com o ato do pequeno mago, dispara, pelo outro mecanismo em seu ombro, uma esfera metálica repleta de pequenos orifícios.
Neste momento uma série de acontecimentos se desenrola na batalha como um todo: do grupo de magos controladores, liderados por Farmenis, restam apenas três, que lutam ferozmente contra os outros golens de ferro; do conflito entre as tropas do norte e os centauros, muitos já caíram, onde os poucos que restaram lutam bravamente num conflito equilibrado; enquanto isso os elfos arqueiros liderados por Lantara não encontra resistência e continua dando baixa as tropas inimigas.
Tudo parece caminhar para uma derrota custosa das forças do reino do norte. Era apenas uma questão de tempo.
Para Orogi, o tempo parou de correr. Na iminência da morte, ele adentra os confins de sua alma e se depara com uma caverna sombria. Uma voz vinda lá de dentro o saúda.
VOCÊ NÃO TEM MAIS TEMPO CRIANÇA! ACABOU DE VER O QUE REPRESENTA PARA AQUELES A QUEM CHAMA DE PROTETORES E MESTRES!
“Eu quero que a dor pare” Orogi respondeu em pensamento
ELA NUNCA VAI PARAR ENQUANTO PERMITIR QUE OS URAMI PISEM EM VOCÊ. É FRACO, SÓ EU POSSO FAZÊ-LOS PAGAR. DESCANCE E DEIXE QUE A VINGANÇA SEJA MINHA. ME LIBERTE E PODERÁ TAMBÉM SE LIBERTAR PARA FICAR COM AS PESSOAS QUE AMA.
Pela mente de Orogi passou uma enxurrada de imagens. Todos os momentos que ele viveu com o mestre Farmenis, tentando ver nele um pai de verdade, mas nunca observando um comportamento equivalente por parte do mago. Pensou na educação severa, nos castigos sem causa, na indiferença e no desprezo. Em seguida sentiu a mágoa de ser transformado em algo que nunca quis ser. Transformado em sangue de dragão, conheceu o preconceito e o ódio alheio. Viu como os sangue de dragão, crianças como ele, eram tratados. Vistos como meros objetos descartáveis.
Aquele mundo não era o dele. Desejou nunca ter saído do orfanato onde fora encontrado pelo mestre Farmenis. Mestre Farmenis? Um mestre deveria ser como um pai. Ele é e sempre foi igual aos outros. Tão culpado quanto os outros. Os magos não eram aquilo que ouvia quando menor. Eram egoístas e cruéis. Estava farto daquilo.
Os magos iriam pagar pelo mal que lhe fizeram. Todos eles.
Caminhando para dentro da escuridão, Orogi se deparou com a fera a sua frente. O dragão era imenso, poderoso, altivo. Seu olhar brilhante e reptiliano encarava o de Orogi. Um olhar que exalava frieza, e um mau antigo. Para Orogi isso não mais importava.
“Balgast é seu nome” disse Orogi.
SIM. ESSE É O NOME QUE NASCEU COMIGO. O QUE DESEJA MESTRE? O dragão sorria, mostrando seus enormes dentes.
“Vingança”
Orogi começou a soltar as amarras que prendiam as patas e calda de Balgast. Eufórico, o grande dragão não se continha de excitação. Assim que suas patas dianteiras foram libertadas, ele agarrou Orogi e o suspendeu bem alto até encará-lo. Orogi não possuía expressão alguma. Parecia estar gostando daquela sensação. Do poder que começava a percorrer todo seu corpo, por cada célula. Era imenso, poderoso, ancestral.
Balgast deu a mais sombria das gargalhadas. O corpo de Orogi brilhou com uma energia vermelha.
Balgast, o Primeiro General do Lorde Zagaroth, finalmente estava livre.