Sangue de Dragão - Cap. 35
--- Um Salvamento de Última Hora ---
Azura só tinha uma fração de segundo para pensar numa alternativa. Em sua direção vinha um poderoso jato de fogo disparado por um golem de ferro controlado pelo anão Rajagul. O adolescente prodígio da centúria tinha rompido a corrente que prendia uma imensa bola de ferro, uma das armas do gigante metálico. Mas tinha ficado à mercê do ataque inimigo.
Resolveu utilizar o restante de sua reserva mágica para liberar mais uma vez sua técnica. Não sabia o quanto a mágica do oponente era forte, portanto viu no seu Punho Flamejante a única saída. Azura sabia que estava em desvantagem, já que o ataque inimigo era de longo alcance, enquanto que sua técnica só tinha efeito a curta distância.
Quando as mágicas se encontraram, o ar aquecido foi expelido em todas as direções num grande deslocamento. Em seguida veio o impacto do fogo contra fogo. O golpe de Azura conseguiu segurar a maior parte da potência do jato de fogo de Rajagul, mas uma pequena fração passou direto, queimando sua armadura de couro e um pouco da pele exposta do rosto e mãos. O corpo de Azura fumegava.
O garoto da centúria caiu de joelhos totalmente cansado depois do dispêndio de energia. Ele olhava para o golem de ferro com cara de dor, enquanto suas esperanças de sair vivo dali diminuíam drasticamente.
“Mais um golpe daqueles e estou morto” pensou Azura.
“Preciso me levantar...preciso resistir” procurava encontrar forças.
“A técnica desse garoto é poderosa. Conseguiu repelir quase totalmente meu jato de fogo. Mas agora o jogo acabou, já perdi tempo demais com esse mago” pensou Rajagul, enquanto preparava mais um dardo metálico na boca do golem.
Ao ver o arpão de ferro se preparar para ser disparado, Azura arregalou os olhos. Procurou sua espada no chão, mas não encontrou. Tinha chegado sua hora? O medo lhe tomou a mente.
O dardo foi disparado. Azura fechou os olhos. Que os deuses o recebessem dignamente.
Um ruído metálico abafado o despertou de sua entrega. Ao abrir os olhos, uma cena, como em câmera lenta, se desenrolou a sua frente.
A centímetros de alcançar seu objetivo, o dardo foi interceptado em pleno ar por um sangue de dragão. Era Orogi. Tanto Azura como Rajagul olhavam estupefatos o que acontecera diante dos seus olhos. O sangue de dragão estava com um olhar furioso e segurava o dardo de ferro em suas mandíbulas. Com dentes a mostra, Orogi cuspiu a barra de ferro no chão e se posicionou entre Azura e o seu oponente, numa clara declaração de intenções.
Agora era com ele.
“De onde surgiu esse sangue de dragão?” se perguntava Rajagul “Esses desgraçados são rápidos. Tenho que acabar logo com essa brincadeira”.
Rajagul posicionou seu Golem de Ferro numa base firme, acionando mais um dos seus dispositivos. Duas pequenas comportas se abriram em cada um dos ombros do golem. De lá saíram duas armas parecidas com as bestas que disparam flechas, só que mais robustas e com designe diferente. Não possuíam flechas, e a ponta de uma delas apresentava cinco orifícios, sendo que na outra apenas um único.
Sentindo o perigo, Orogi não perdeu tempo e disparou em direção ao gigante de ferro. A fúria do sangue de dragão impressionou Azura, que começava a se erguer. De relance olhou para o céu. O eclipse começava a se desfazer. Logo a lua poderia iluminar melhor o campo de batalha.
Do alto da muralha do forte, Fucalt encontrava-se com Lantara e seus arqueiros. Acompanhando o velho mago estava Gunta e outros licantropos.
---- Essa contenda acabará logo. Nossas tropas estão assumindo a vantagem a cada minuto --- Disse Lantara.
---- Parece que tudo realmente vai terminar bem --- respondeu Fucalt. Ele olhava para o eclipse que pouco a pouco se dissipava. Questionava-se se tinha interpretado corretamente a profecia. Afinal era apenas uma parte do antigo pergaminho da era dos dragões. Todo seu relato poderia não passar apenas de simbologia profunda, e seus acontecimentos poderiam ocorrer de outra forma. No fundo da alma, torcia para que tudo não passasse de alegorias.
---- Vejo que está bem acompanhado. Trouxe os melhores guerreiros de Gunta consigo --- observou sorridente a elfa. Realmente os melhores rastreadores licantropos de Greenmória pertenciam ao pelotão de Gunta.
---- Apenas precaução de um velho sem muitos recursos para se proteger --- disse Fucalt, olhando para o guerreiro-lobo.
---- Não se preocupe Arlam. A situação esta quase sob controle. Eles nos subestimaram mandando uma tropa reduzida e irão pagar o preço --- Lantara é uma líder poderosa e uma guerreira respeitada. Defenderia Greenmória com a própria vida se necessário.
---- Devemos ficar atentos --- falou Gunta com sua voz gutural ---- O eclipse ainda não acabou --- Lantara o encarou.
---- Eclipse? O que tem o eclipse? --- perguntou Lantara, olhando para a lua que já tinha um quarto de sua superfície iluminada.
---- Nem todos sabem, mas Arlam possui um antigo pergaminho que conta uma lenda a respeito de um evento importante --- respondeu Gunta.
---- Que evento? --- Lantara olhava para Fucalt.
---- A lenda diz que no décimo terceiro eclipse lunar depois da grande guerra, o mal retornaria ao mundo.
---- Somos amigos Arlam. Por favor, sem rodeios, seja direto --- disse Lantara. Fucalt olhou seriamente para a elfa.
---- A profecia diz que nesta data os Dragões retornariam.
Lantara foi acometida por uma crise de riso que chegou a constranger Fucalt. Aquela gargalhada parecia fechar com chave de ouro toda aquela loucura que pensava. Lantara enxugou as lágrimas dos olhos e voltou a encarar Fucalt.
---- Desculpe, não quis ofendê-lo Arlam. Mas essa história de dragões só pode ser mesmo uma lenda. Um conto de fadas. Todos sabemos que os dragões foram destruídos sob o poder da última aliança entre nós e os humanos há mais de quinhentos anos.
---- Sim, eu sei --- falou Fucalt.
---- Então pode ficar tranqüilo meu amigo, e aproveite a situação para assistir nossa vitór......!
As palavras da arqueira elfa foram interrompidas quando uma grande explosão foi ouvida, vindo do campo da batalha logo abaixo das muralhas do forte. O ruído foi tão intenso que abafou os gritos de combate.
Todos olhavam estupefatos para a origem daquela explosão.