Zumbis de Areia

A Praia. Um lugar onde você pode relaxar e ver várias garotas andando seminuas; tomar uma cerveja com os amigos e jogar conversa fora. Porém, seria nesse recanto dos deuses que iria começar o apocalipse humano. Não é muito fácil explicar o que aconteceu durante aqueles dias, mesmo sendo um dos poucos sobreviventes desse holocausto. Tudo começou há algumas semanas atrás, quando encontraram alguns corpos sem cérebro nas praias de todo mundo. Explicações de menos e perguntas demais, esses corpos apareciam com mais freqüência no decorrer dos dias e ninguém sabia o porquê - o fato de todos eles estarem sem cérebro era a questão que mais intrigava; pessoas aparecerem flutuando mortas no mar não é nenhuma novidade, mesmo porque é assim que a máfia, traficantes, ou até mesmo os piratas se livram de seus cadáveres.

Mas, enfim, divagações sobre mortes marítimas a parte, a coisa foi ficando feia: conforme o tempo foi passando, mais corpos apareciam nas praias, e continuavam sem cérebro. O resultado disso foi que, com o tempo, as pessoas deixaram de ir às praias. A polícia, os bombeiros, até o exército interditaram tudo para proteger a vida das pessoas. Não que fosse preciso interditar; pessoas com bom senso não iriam para a praia sabendo que provavelmente havia algo de errado na água. Porém, o que não falta no mundo são pessoas sem noção que iriam mesmo assim. Vendo por esse lado, foi uma boa as autoridades fecharem a praia. Como podem ver, fico escrevendo as minhas ideias loucas e que ninguém dá o mínimo de valor, mas veja bem, eu sou um dos únicos que está vivo e com o cérebro no lugar agora, então não restaram muitas pessoas para conversar.

Uma semana depois de vários cientistas fazerem milhões de testes e o número de corpos ter baixado para zero, as praias foram novamente liberadas. Uns três dias depois disso, apareceram novamente. Analisando o fato, você deve ter percebido que os corpos reapareceram depois que os banhistas voltaram. Pois é! Óbvio! Mas as autoridades perceberam isso tarde demais.

Em uma noite, um garoto que estava com namorada conseguiu o primeiro vídeo da causa dos desaparecimentos.

Descrição do Vídeo - O garoto estava brincando com a namorada falando que eles seriam mortos e que seus corpos apareceriam na praia sem cérebro. A garota pede pra ele parar e ri, porém eles ouvem um grito. O cara vira a câmera no momento que um tipo de homem de areia arrasta uma pessoa para o mar. O casal, como em todos os vídeos de monstro na internet, corre para salvar as próprias vidas e não filma o resultado do rapto.

Esse foi o primeiro registro dos zumbis de areia, e como as pessoas só haviam visto um, chamaram-no de monstro do mar. Depois disso, muitos resolveram colocar câmeras vigiando o mar o tempo todo. E foi desse dia em diante que descobriram o motivo de todas essas mortes... Em vários vídeos pelo mundo, pessoas afundavam enquanto nadavam e não subiam mais e o número de mortes ficou alto novamente, tão alto que fecharam as praias mais uma vez. Mas agora já era tarde, a infestação estava prestes a começar...

E começou três dias depois daquele vídeo do casal - numa tarde de sábado, várias formas estranhas saíram da água. Como a maioria das praias era monitorada pelas forças armadas, não demorou muito para a primeira regra de sobrevivência aos zumbis de areia - não perca seu tempo atirando - regra de ouro, porque como se constatou nesse dia, eles não morrem. Os zumbis vieram lentamente vindos do mar, os militares gritavam que parassem e levantassem as mãos, se identificassem e todos os clichês de filmes de monstros, e como não poderia ser diferente, os zumbis não pararam e tomaram uma saraivada de tiros dos soldados, que descobriram da pior maneira que isso não funcionaria. Os monstros se aproximavam cada vez mais até que a primeira morte filmada aconteceu. Um zumbi encurralou um soldado no caminhão e com um soco desacordou o sujeito e o arrastou até a areia, onde, com vários chutes, abriu o crânio dele e retirou o cérebro. Realmente, foi uma cena bem chocante, mas serviu pra mostrar pra que os zumbis vieram. Mas o mais incrível aconteceu depois, o zumbi jogou o cérebro na areia e foi na direção de outro soldado; porém no lugar onde o cérebro havia caído, a areia começou a borbulhar e mexer, sendo engolido e no lugar um novo zumbi de areia surgiu. Ninguém entendia, mas era esse fenômeno: os zumbis matavam as pessoas, jogavam seus cérebros na areia e um novo zumbi surgia, simples assim! Não se sabia se era uma nova raça, alienígenas, fantasmas da Atlântida, mutações genéticas ou uma grande produção de Hollywood. Também não houve tempo pra ficar filosofando sobre a origem dos zumbis - que só ganharam esse nome porque como os zumbis do diretor George Romero, eles estavam somente atrás de cérebros.

Foi um ataque em massa, um holocausto, as praias que ainda tinham banhistas foram totalmente massacradas; nas que estavam soldados ou policiais ainda havia algum meio de defesa, que como disse no começo, não era muito eficiente. Em menos de duas horas, as praias deixaram de ser o recanto dos deuses e se tornaram a boca do inferno que regurgitava demônios de areia. Foi um pandemônio pior que uma micareta no carnaval. Os zumbis invadiram todos os litorais do mundo ao mesmo tempo. Pessoas morriam, zumbis surgiam. No começo foi até divertido, alguma coisa legal estava acontecendo no mundo - bombados burros, que andavam na praia só para se mostrar, morreram; farofeiros burros morreram também; gente pobre que suja as praias também foi pro saco. Porém, deixe-me explicar, quando digo pobres e burros, não estou falando de classes sociais nem de nível de ensino, pobres e burros de cultura, CULTURA, porque isso independe de classe ou ensino. Mas, continuando a ideia, essas pessoas bateram as botas - alguns inocentes também morreram, mas esse é o preço que a humanidade paga para se livrar desse tipo de gente.

Não teria sido tão ruim, se os zumbis não começassem a sair das praias e fossem atrás das pessoas cada vez mais longe dos litorais. Aí você deve estar pensando: eles são zumbis de areia, é só molhá-los ou bater neles com uma pá, atirar logo na cabeça ou cortá-la de uma vez como diz o manual de luta contra os zumbis. Porém tudo se mostrou ineficiente nos dias que se seguiram. Atirar nas cabeças não surtia efeito - descobriu-se que seus cérebros são protegidos por uma carapaça extremamente resistente e cortá-las também se mostrou sem resultados satisfatórios. No começo achou-se que isso seria suficiente, pois quando cortadas as cabeças, os corpos dos monstros de areia se desfaziam - porém após alguns segundos, eles se recompunham e retornavam à sua missão de recolher cérebros. O mundo entrou em alerta, os zumbis iam cada vez mais longe das praias atrás de gente, mas com o tempo não havia mais ninguém nos litorais, foram todas evacuadas, e os monstros chegaram a um impasse. A matança parecia ter terminado quando isso aconteceu, mesmo porque ainda havia as serras que separavam o mar do resto do continente.

Então os Zumbis começaram a atacar as embarcações que ainda estavam tripuladas. Os exércitos, nesse meio tempo, começaram a desenvolver planos para literalmente explodir os litorais para se livrar de uma vez por todas dos monstros de areia. Mas os zumbis tinham um plano: ao contrário do que se achava, eles eram altamente capacitados. E no quarto dia depois do primeiro ataque, todos sumiram. Os militares acharam que os monstros tinham desistido ou estavam esperando algo. Ficaram sumidos por uma semana mais ou menos, e então recomeçaram o ataque, agora com gigantes de areia.

Os gigantes tinham seis metros de altura e eram extremamente fortes, como tanques de guerra com pernas. As barricadas que defendiam as serras foram todas dizimadas e começou assim o segundo ataque. Milhões de gigantes de areia levantaram ao mesmo tempo e começaram a sua jornada para as cidades além das serras. Os exércitos do mundo todo utilizaram todos os meios que conheciam para tentar impedí-los, mas nada funcionava. As cidades foram evacuadas para os centros dos continentes. Logo não havia mais espaço. Os países com maior população foram os mais afetados, porque eram muitas pessoas para bem pouco espaço. Quando chegavam nas cidades, os gigantes se desfaziam em lugares estratégicos, montando grandes bancos de areia nos centros das cidades. E era nesses lugares onde os zumbis jogavam os novos cérebros, aumentando cada vez mais o exército deles.

Cada vez mais gigantes saiam do oceano e penetravam ainda mais nos continentes. O exército já não sabia o que fazer, os monstros pareciam indestrutíveis: explosões, granadas, armas de grosso calibre, nada funcionava. Começou, então, a se espalhar a notícia que se a cabeça dos zumbis fosse destruída, ou seja, o cérebro, eles não levantavam mais. E novamente a esperança da humanidade pareceu ressurgir. Bilhões de pessoas já haviam morrido e o exército estava pegando jovens que tivessem experiência com armas para começar esse novo ataque. Foi onde eu entrei na guerra contra os zumbis.

Eu morava na capital de São Paulo, uma cidade costeira e umas das primeiras a ser evacuada. Todos fomos transferidos para o Matogrosso, o estado mais no centro do nosso continente, onde seria o centro de comando. O continente deixou de ser divido por países e se tornou um grande e único país gigante: os países vizinhos Uruguai, Paraguai, Argentina, Bolívia foram transferidos para o Brasil, não havia mais uma pátria para cada um, agora só havia uma pátria para todos. Os líderes desses países se juntaram e formaram as Forças Armadas da América do Sul que defendia todos os territórios sul-americanos. Após a descoberta do modo de matar zumbis, os exércitos se equiparam com o que tinham de melhor no mais alto calibre e começaram a resistência às forças zumbis. Eu era um soldado e tinha uma espingarda calibre doze, que tinha acabado de aprender a usar. Fui com um pelotão para tomar a cidade de São Paulo, onde tinha nascido. No meu grupo havia bolivianos, argentinos, uruguaios, baianos, cariocas e muitos outros de vários estados brasileiros e países sul-americanos. A resistência começou bem, o pelotão principal era protegido por Snipers com as armas potentes de precisão alta. Íamos avançando contra uma orda de zumbis que vinha em nossa direção, loucos pelo nosso cérebro. Eu não tinha medo daqueles ladrões de cérebro, eles não têm medo de mim, porque eu teria deles? Com um grito de guerra e armas empunhadas partimos para guerra como os antigos espartanos.

Matamos muitos zumbis no começo da resistência, mas contra os gigantes de areia não tínhamos nenhuma chance. Os tanques arrancavam braços e pernas dos gigantes, mas eles se recompunham rapidamente e voltavam à sua marcha. O que tinha começado bem foi por água abaixo com os gigantes de areia. E eles tinham uma nova arma. Nosso grupo já tinha sido dispersado por eles e recebemos ordens para subir nos prédios a nossa volta e defender nossos postos de lá, enquanto os tanques e os bombardeiros tentavam dar conta dos gigantes de areia. Subimos e recomeçamos a atirar. Daquela posição nosso grupo tinha muito mais visão da orda e por conseqüência, abrimos uma vantagem grande contra eles. Quando os zumbis pararam de avançar e começaram a recuar, os soldados animados rugiram de felicidade e desceram de seus postos. Alguns, porém, mantiveram e ficaram à espera. De repente, do meio dos zumbis surgiu uma cobra gigantesca. Ela se arrastou até a rua que estávamos defendendo e parou... Então começou a se dissolver e dela surgiram vários gigantes de areia, que se aproveitavam da areia dos zumbis mortos para crescer. E assim recomeçaram a destruição: primeiro se livraram dos tanques e depois se viraram para os soldados. Foi um massacre. Isso ocorreu em todos os lugares onde a resistência tinha se instalado. Mais e mais cobras saiam dos oceanos e iam em direção a população que estava no centro do continente. Essas cobras se dissolviam e aumentavam consideravelmente os exércitos. Ou simplesmente vinham trazendo mais areia para formar mais soldados. Não importava o quanto deles morriam, eles matavam bem mais, e ao contrario de nós - um soldado morto era um a menos - pra eles um soldado morto era mais um deles. Bombas eram usadas, vários deles morriam, mas parecia só aumentar o número de zumbis. E eles se adaptavam, isso era o pior - começou com os gigantes, depois as cobras de areia. Vieram os polvos, depois vieram as armas, catapultas que laçavam polvos nos jatos. Desenvolveram um grupo especial que no lugar de mãos, tinham armas brancas, das mais variadas. Foram avançando cada vez mais para o centro dos continentes, de todos eles - a Ásia tinha sido totalmente tomada, o número de pessoas fez o diferencial, pois a quantidade de monstros aumentou exponencialmente e eles exterminaram todo mundo por lá.

As únicas resistências eram as nossas e dos norte americanos. Porém não era o suficiente para lutar contra os zumbis que tinha dominado praticamente todo o território que tínhamos. Os gigantes de areia e os polvos eram os piores, pelo tamanho, eram armas prontas, então vieram os assassinos com suas facas de vidro temperado - esses matavam mais rapidamente. E sempre que os zumbis sofriam uma baixa muito grande as cobras vinham e repunham praticamente todos os zumbis mortos. A resistência era inútil àquela altura, não havia mais soldados, o centro da resistência deixou de ser Matogrosso e de dissolveu para vários lugares diferentes, sempre na esperança de retomar o poder do planeta.

Eu, bom, eu nunca voltei para o centro de comando, permaneci escondido nos prédio durante todo o resto da invasão. Ouvindo pelo rádio, ficamos sabemos que a resistência foi para o vinagre e que os poucos sobreviventes se refugiaram em células.

A movimentação era grande por parte dos zumbis, eles pareciam não ter objetivo nenhum, somente exterminar a raça humana e usar nossos cérebros. Não tínhamos muitas chances, a única esperança eram as armas, que falharam gravemente. Eles não tinham interesse em reféns, todos que se rendiam eram mortos sem dó nem piedade. Se eles tinham um plano, esse não incluía nenhum ser humano. E foi assim que os zumbis de areia dominaram o mundo.

Fui um dos poucos sobreviventes que se esconderam e conseguiram escapar - por algum motivo eles não entravam em prédios pra procurar, só matavam os que resolviam lutar ou estavam em lugares óbvios. Aos poucos, essa peculiaridade foi ficando fácil de entender e após eliminarem todos os focos de resistência, começaram a derrubar os prédios, as pontes, túneis, casas e tudo mais que foi construído pelos seres humanos. Mas eu tinha um plano: iria roubar um barco que ainda funcionasse e tentaria chegar a alguma ilha pouco habitada e esperar a poeira baixar.

Estava a poucos quilômetros do litoral, onde tudo tinha começado. Talvez se fosse andando pela serra, evitando as estradas, eu pudesse ter uma chance. Logo não haveria mais prédios ou casas para me esconder, ser rápido era a prioridade. Consegui o máximo de munição que podia carregar, alimento e água ainda dava pra arrumar no caminho. O prédio em que eu me escondia não estava cercado por nenhum dos lados, havia poucos zumbis rondando por ali, vez por outra passava um gigante ou uma cobra de areia, mas esses não representavam perigo caso você não mexesse com eles. Sair do meu esconderijo era o primeiro desafio: havia dois zumbis indo em direção ao centro. Eu podia esperar eles irem embora e ficar tudo bem, mas não, esperar era péssima ideia, manter-se em movimento era a prioridade. Esperei alguns segundos, respirei fundo, olhei onde eles estavam, respirei de novo e corri; os zumbis não esperavam o súbito ataque - corri na direção de um e pulei, derrubando-o. Antes que esboçasse qualquer reação, encostei a arma no crânio e apertei o gatilho - foi prático e rápido, a arma de calibre alto explodiu os miolos em mil pedaços a milanesa. Use a cabeça, exploda as deles! Logo que seu corpo dissolveu me virei e atirei na cabeça do que estava em pé, foi tudo bem rápido, não durou mais do que 10 segundos. Levantei-me e corri pelas ruas adjacentes procurando uma moto, que era bem mais prática que um carro, porque todas as vias estavam congestionadas por carros quebrados. Consegui uma que ainda tinha combustível e fui em direção a serra. Meu plano parecia uma loucura, mas os primeiros locais que eles invadiram foram as ilhas, então, por que voltariam lá? Não era perfeito, mas era o que eu tinha.

Quanto mais longe ia, mais dava para perceber o tamanho do estrago que os zumbis estavam fazendo. Se aquilo era um plano, estava correndo às mil maravilhas, pois quase não havia prédios no centro e enquanto eu me distanciava, mais construções caiam.

Chegar a serra foi fácil! Os zumbis não davam muita atenção para mim, eles deviam me ver como um louco ou retardado sem muitas chances de sobreviver, o que não fugia muito da minha realidade. No decorrer do caminho, passei por uma loja de artigos para pesca, precisava de uma faca e lá achei uma como aquela que o Rambo usa - 35 centímetros de lâmina, um lado liso e afiado, o outro serrilhado. Perfeita! Consegui avançar alguns quilômetros pela estrada que cortava a serra, gigantes e cobras de areia passavam constantemente por mim. Devia haver alguma resistência nos estados centrais para os zumbis continuarem mandando reforços. Bastava sair da estrada e esperar eles passarem, que não havia problema - os poucos zumbis que apareciam no caminho, eu matei. Continuei por alguns quilômetros até chegar à primeira barreira: havia gigantes de areia e zumbis fechando a pista. Ao invés de ficar triste e desistir aquilo somente me mostrou que o plano era uma boa escolha.

Desci da moto e me enfiei na mata, resolvi andar o resto do caminho até lá, - a floresta não era vigiada por dois motivos, que a meu ver eram os únicos: ninguém que pensasse um pouco iria para as praias àquela altura, e segundo: se alguém resolvesse se meter lá, iria pela estrada e não por uma floresta que era uma reserva natural, o que significava cobras e outros animais muito perigosos. Não sou um sobrevivente da selva, porém aprendi bastante coisa em muitos seriados de sobrevivência. Podia não ser o melhor, mas pelo menos sabia alguma coisa, e saber já é metade da guerra.

Caminhei durante quatro dias, comendo alimento desidratado que peguei na loja de pesca, tomava água de pequenos afluentes que encontrava no caminho. Quando finalmente cheguei ao litoral, o que era pra ser felicidade se transformou em tristeza: não havia mais nada de pé entre o pé da serra até o mar, estava tudo destruído! Havia milhares de zumbis ali, alguns eram de areia negra, que nunca tinha visto antes. Esses pareciam ser os líderes, pois andavam de um lado para o outro e somente apontavam, tinham algas nos queixos que parecia barba, eram levemente mais altos e mais fortes que os zumbis comuns. Fiquei distraído por um tempo, e por isso não vi quando um zumbi se formou atrás de mim e me agarrou. Não era pra menos, vários gigantes de areia puxavam do mar o que parecia ser um monstro de uns 80 metros de altura, ele estava imóvel, mas dava pra perceber os ombros e a cabeça saindo do mar. O que aquilo significava era uma incógnita. O meu captor tinha prendido minhas mãos e me levou até o zumbi preto com barbas de alga - o monstro era realmente grande, devia ter uns 2 metros ou mais - não sou um cara baixo, 1,90 de altura, mas o monstro era ainda mais alto que eu. Ele me estudou durante alguns minutos e ordenou algo ao zumbi que me prendia e este saiu de perto de nós. O grandalhão ficou parado durante mais alguns segundos, talvez decidindo o que faria comigo. Então ele falou:

- Não queremos exterminar a sua raça, porém vocês estavam indo em direção ao fim de qualquer forma.

- O que?

- Sua raça ia terminar de uma maneira ou de outra, nós apenas aceleramos o processo.

- Quem são vocês?

- Uma raça que aprendeu da pior maneira que destruir o planeta é o pior caminho.

- Não entendo... – disse, pensando em milhões de coisas

- Vocês mataram a vida do planeta, aos poucos. São egoístas malditos! A minha família está morta por causa desse egoísmo... Nós viemos de uma raça que há muito tempo foi exterminada... Mestres da ciência e da alquimia...

“Começamos experimentos cada vez mais pretensiosos, queríamos mais poder, dominaríamos o mundo! Todos iriam servir somente a um Deus e a um único líder. Porém, perdemos o controle disso. Os nossos cientistas e alquimistas trabalhavam dia e noite para criar armas mais poderosas. Isso foi nossa ruína... Tocando em um vulcão há muito adormecido, abrimos os portões para o nosso próprio apocalipse. Foi um massacre. Poucos de nós sobreviveram; alguns se refugiaram onde vocês chamam de Egito e começaram outra nação que cresceria muito nos anos vindouros. E somente um homem conseguiu fazer algo para que todo nosso conhecimento fosse salvo. Ele conseguiu, através da alquimia, aprisionar a alma em um corpo feito completamente de areia. Com isso poderia não só se adaptar facilmente em qualquer tipo de ambiente, mas também se multiplicar se multiplicar sem nenhum problema. A única falha foi que precisaríamos de cérebros para fazê-los reviver. Esse homem salvou mais seis cientistas, mas não conseguiu salvar a própria família... E assim nossa raça foi apagada da face da terra, o nosso continente coberto de gelo e nossas vidas foram esquecidas. Mas dessa vez as coisas seria diferentes, tudo iria mudar! Recebemos uma nova chance a partir desse corpo composto de areia... Pagamos nosso preço pelo egoísmo... E agora vocês pagaram o seu...”

- Ergueremos um novo império no vácuo que seus mortos deixaram. Boa sorte, humano terrestre.

E assim terminou nossa breve conversa.

Fui transportado para uma ilha junto com várias pessoas. Eles não pretendiam matar a todos, como disse em nossa conversa. Pois apesar de ser um psicopata assassino, o zumbi acreditava que tínhamos aprendido alguma coisa com isso tudo e não iríamos matar nem nos rebelar.

A ilha escolhida foi a Groelândia, pois os fracos que não conseguissem sobreviver seria eliminados... Só sobreviveriam os mais fortes! E assim foi... muitos morreram de frio, mas vários sobreviveram e seriam eles que recomeçariam a ascensão da raça humana.

E aqui estou escrevendo o que talvez seja o primeiro de muitos relatos da nova ordem mundial.

A ordem dos Zumbis de Areia.

Gabriel Dechain
Enviado por Gabriel Dechain em 15/02/2011
Reeditado em 28/02/2011
Código do texto: T2793526
Classificação de conteúdo: seguro
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