O CEMITÉRIO DE LINZABAWN - PARTE I
"Diz-se que muitas histórias se perderam pelo tempo ou por mãos de pessoas que desejavam que elas não fossem contadas. Histórias sobre lugares que a olho nu não podem ser vistos, que não podem ser tocados, a menos que você saiba como chegar até lá..."
Em uma terra chamada Linzabawn, aonde não havia noite nem o dia e o céu possuía tons de vermelho e rosa que se misturavam, não havia presença da natureza por ali, a terra era cinza e poucas árvores secas com seus galhos retorcidos eram a única prova de que havia existido vida por ali.
Havia um cemitério muito estranho que ninguém mais entrava. Era cercado por uma alta cerca morta com espinhos pontiagudos e por ser abandonado há anos todas as terras habitadas ao redor espalhavam coisas horrorosas sobre este lugar. Seus sepulcros já praticamente haviam se tornado ruínas, castigados pelo tempo, onde o chão de pedras cinzas era coberto por folhas escuras e secas. Havia uma árvore imensa e morta bem no centro do cemitério que lembrava uma paineira e haviam apenas três sementes da cor laranja restantes em um de seus galhos que também eram assustadores. Segundo a lenda, um espírito zombeteiro guardava a entrada deste, com suas armações e armadilhas atrapalhava em larga escala a concentração de quem por ali passava e quem ousasse entrar no cemitério era acometido por doenças, ferimentos inexplicáveis e até mesmo a morte. Muitos que tentaram não chegaram do outro lado.
O problema é que para ir até o próximo vilarejo, a única entrada era por este cemitério. E claro, todos preferiam viver eternamente em Linzabawm do que morrer tentando. A cada dia que passava mais histórias apareciam sobre este lugar amaldiçoado. Porém, uma vez uma curandeira muito estranha que passava por ali naqueles dias, desafiou com o poder de suas ervas este espírito, dizendo que conseguiria atravessar o cemitério sem que ele a prejudicasse. O espírito gargalhou muito antes de aceitar a oferta com muita dúvida, e quis saber o por que do desafio. A curandeira muito gentil respondeu que tinha interesse em morar em Torunvitch o vilarejo que existia depois de passar pelo cemitério. O imundo sentiu um imenso prazer e aceitou a proposta, porém a sábia e esperta senhora tinha mais um desejo. Queria as últimas três sementes daquela árvore e pediu ao espírito que caso ela passasse pelo cemitério ilesa, ele se materializasse e pegaria as sementes pra ela. Mais uma vez o espírito aceitou.
A curandeira montou ali mesmo na frente do cemitério uma pequena tenda e dentro dela arrumou ervas e começou a preparar várias misturas, algumas fervidas num recipiente de barro, outras apenas amassadas em um pequeno pilão feito de ossos. Enquanto isso o espírito que observava tudo ria e fazia piadas acerca dos apetrechos daquela velha, que segundo ele não serviriam para nada e ela morreria sendo levada de corpo e alma para o inferno. Ela estava prestando atenção em seu trabalho e era muito concentrada não ligando para as insinuações do tal. Quando terminou tudo que precisava, separou e guardou suas ervas em saquinhos com o fecho amarrado com cipós e enterrou as sobras ali mesmo. Virou-se para o espírito acenando que estava pronta. Neste momento passavam vários habitantes do vilarejo e diziam àquela mulher que ela era louca e que se perderia para sempre no cemitério, ela então entregou a eles pequenos pedaços de tecidos onde estavam escritos coisas sobre ela e virando-se para o seu desejo, entrou.
Enquanto andava o vento espalhava as folhas que cobriam ossos e ela olhava atentamente para todos os lados. Nenhum sinal do desafiado. Ele provavelmente a atacaria primeiro usando pequenas artimanhas que depois ficariam mais pesadas. Ela então virou-se para a esquerda afim de olhar a ávore mais de perto e percebeu que muitos esqueletos que estavam pelo chão eram de pessoas que haviam tentado passar por ali, eram muitas, centenas. Dentre estes avistou um que lhe chamou a atenção porque possuía uma medalha que foi reconhecida. Se tratava de um amigo que também era curandeiro e tinha o desejo de morar em Torunvitch. Ela abaixou-se e recolheu a medalha e quando virou-se novamente o espírito a olhava com um sorriso estonteante.
Ele apontou o esqueleto e contou que aquele quase conseguira passar pelo cemitério, mas seu desejo pelas três sementes o fizera perder a chance, e que ela repetiria o erro. A curandeira tirou do bolso de sua capa preta um vidro com ervas em pó e jogou no esqueleto, e o tempo se modificou e ela conseguiu ver os últimos momentos de seu amigo. Ela viu no que ele errou e tratou de cuidar disso rapidamente. Percebendo que deveria manter o espírito ocupado pediu para que ele se materializasse para ficarem de igual para igual no desafio. Ele estava muito acessível aquele momento e aceitou o pedido, se materializando como um homem moreno muito charmoso, alto e com os olhos cor de mel. Ele se virou para ela e depois sentou numa tumba que havia por ali e ficou parado. Quando ela voltou a andar, cipós vieram rastejando a seu encontro e se enrolaram em suas pernas derrubando-a, ela mordeu o cipó e guardou um pedaço em seu bolso. O espírito gargalhava muito e nem percebeu esta façanha. Ela pegou uma adaga e cortou os cipós e disse a ele que aquele truque era velho e ela esperava mais dele, suas gargalhadas cessaram e ele desapareceu.
A senhora chegou até a árvore e olhou atentamente para ela, dali via o cemitério por igual e resolveu subir na árvore, com uma agilidade tremenda isso foi feito em poucos segundos e a visão que tinha melhorou, então percebeu algo nos esqueletos. Sempre foram para o mesmo lado pois o caminho que eles traçavam eram idênticos. Quando o espírito reapareceu e viu que ela anotava os caminhos que ninguem havia feito ficou furioso e assoprou nas tumbas acordando os esqueletos que ainda estavam inteiros. Eles se levantaram e foram até a árvore cercando-a.