Lisly, a deusa do arco-íris
Lisly, a deusa do arco-íris
Quem ainda não ouviu falar que no fim do arco-íris existe um pote de ouro?
Embora nunca alguém tenha posto a mão no tal pote de ouro, a estória nunca foi desmentida, ou confirmada. Também alguém jamais imaginaria o que Levi iria encontrar um dia, no fim de um arco-íris.
Naquela segunda- feira do mês de junho, Levi subia a escadaria da escola Imaculada Conceição às pressas sob o som da última chamada da sirene que anunciava a entrada para o início daquele dia letivo, quando ouviu aquele apelo:
- Moço, por favor...!
Virando-se instantaneamente, deslumbrou-se ao ver aquela bela moça, de cabelos castanhos escuros, olhos também castanhos, uma pele branca e semelhante a de um bebê em sua maciez, rosto pequenino e afilado com traços perfeitamente definidos, sentada em um dos degraus da escada com as pernas dobradas e massageando o tornozelo direito. Embora fosse visivelmente perceptível a sensação de dor que sentia, seus lábios expressavam um simpático e deslumbrante esboço de sorriso. Levi rapidamente desceu os degraus que os separavam, sentou a seu lado e perguntou-lhe:
- Você está bem?
- Acho que sim, mas não consigo andar. Respondeu com sutil mordida nos lábios.
Levi pôs-se de pé, tomou-a pela mão e juntos seguiram para a diretoria da escola. Logo foi feita uma compressa de gelo e aplicado uma pomada balsâmica apropriada para a situação..
Posteriormente Levi ficou sabendo que ela chamava-se Lisly. Coincidentemente ela dirigiu-se para a sala do terceiro ano do curso de contabilidade, a sala de Levi. Ele evidentemente providenciou para que sentasse a seu lado. No intervalo conversaram um pouco, ela explicou que era recém chegada na cidade e havia sido transferida de escola. Levi ofereceu-se para levá-la em casa ao final da aula. Ela discretamente recusou-se afirmando que seu pai viria apanhá-la.
No dia seguinte, Levi já ficou sentado na escadaria a espera de Lisly. Olhava simultaneamente para a rua e para a praça, na expectativa de descobrir de que lado da cidade ela viria. Como que seus olhos lhe pregassem uma peça, sem que ele percebesse Lisly surgiu do nada. Ele tomou um susto terrível, e ficou entre a dúvida de não ter visto de onde ela veio e a certeza de tê-la visto surgir do nada. Inusitadamente desceu os degraus e na calçada encontrou Lisly. Meio desconsertado, com um sorriso amarelo, perguntou:
- De onde você veio?
- Meu pai me deixou do outro lado da praça. Respondeu também meio desconsertada.
Subitamente ouviu-se o toque da sirene da escola e os dois entraram cismados um com o outro. Durante a aula trocavam olhares cheios de cismas. Levi perguntava-se em sussurros:
- Será que me distraí, e não vi de onde ela veio, ou ela realmente surgiu do nada?
E Lisly também se auto indagava:
- Será que ele percebeu de onde surgi, ou estava distraído?
E decorreu a aula com os dois cismados entre si. Quando tocou a sirene para o término das atividades escolares daquele dia, os dois despediram-se normalmente e saíram, cada um para sua casa.
Evidentemente, Levi completamente desconfiado a respeito de Lisly, que por mais que ele tivesse insistido, não havia lhe falado nada a respeito de onde morava, ou sobre seus familiares, procurou seguí-la sem que ela percebesse.
Lisly desconfiada, procurou esquivar-se entre os outros alunos a fim de não ser percebida em fuga por Levi. Andou cada vez mais rápido e cautelosa, sem perceber que Levi não a perdia de vista.
Levi não desviava o olhar nem por um segundo dos passos de Lisly, porém, por uma fração de tempo foi interrompido por sua colega Marly, que queria devolver-lhe sua calculadora, que ele havia emprestado durante a aula. Nesse momento Lisly sumiu completamente do seu campo visual. E ele disse em tom de brincadeira:
- Marly, eu vou te matar!
Marly, sem entender nada sorriu e foi embora.
Lisly certificou-se de que não havia ninguém à sua volta e seguiu em direção ao pequeno lago localizado em um bosque recuado da cidade. A margem do lago, Lisly olhou para o infinito, ergueu os braços e sussurrou algumas palavras... Em seguida surgiu um enorme e multicor arco-íris, iniciando-se no infinito e rompendo-se aos pés de Lisly. Ela de braços abertos, levitou sobre o arco-íris e sumiu no infinito...
Em um universo paralelo registrou-se um encontro. A deusa do arco-íris em profundo diálogo com seu superior implorava para tornar-se mortal.
- Lisly, Lisly... Filha minha, já te pedi para desistir desse desejo tolo. Tornar-se mortal? Isto é tolice.
- Mas meu pai, eu não sou feliz. E o senhor sabe que amo a um mortal!
- Tolice filha minha. Para que tornar-se mortal, se tens a imortalidade... Além disso, quantos mortais já amaste, e eles passaram?
- Mas meu pai, o senhor sabe que dessa vez é completamente diferente. Esse mortal é muito especial e tenho certeza que irá provar o que digo.
- Filha minha, até hoje não houve um mortal que pudesse cumprir com nossas regras. Tu sabes que para tornar-te mortal não depende de ti e nem do teu pai. O mortal que escolheres é quem tem que descobrir o meio de transportar-te para o mundo dele.
- Meu pai, dê-me então mais um dia!
- Filha minha, são as regras. Tens três dias do mundo mortal a contar do dia em que o encontraste pela primeira vez. Resta-te apenas um dia para que ele descubra por si próprio que és uma deusa, e proclame em alto e bom tom, para que ouças, e então tornarte-a uma simples mortal, e não terás lembrança alguma deste nosso universo.
- Então meu pai devo voltar, pois já é dia no mundo dele.
- Lembre-se de que as cinco horas da tarde deves retornar, e só terás outra oportunidade quando decorrerem dez anos no nosso universo, e duzentos e cinqüenta no mundo mortal. Vá então, filha minha.
E na quarta-feira, mais uma vez Levi aguardava ansiosamente a vinda de Lisly. Quando observou alguém surgindo no início da rua, era Lisly. Dessa vez sem surpresa alguma. Levi a recebeu na calçada da escola e disse-lhe que precisava falar-lhe antes da aula. Em conversa revelou-lhe que estava apaixonado por ela. Lisly completamente apreensiva, quase não conseguiu conter-se em dizer-lhe a mesma coisa e em citar-lhe as regras que ele deveria cumprir. Mas, apenas sorriu e esperou o decorrer dos fatos.
Interrompidos pelo toque da sirene da escola, os dois concordaram em continuar a conversa após a aula. Lisly porém sabia que isso não seria possível, pois temia que Levi insistisse em acompanhá-la a sua casa, ou que insistisse em levá-la para almoçar com ele, e seria complicado pois ela não seguia o mesmo sistema nutricional dos mortais.
Ao término da aula, Lisly sentiu cada vez mais distante a possibilidade de tornar-se mortal, e viver o amor que desejava compartilhar com Levi, pois achava impossível que ele descobrisse seu segredo antes do entardecer.
Levi ainda cismado com o que viu no dia anterior, resolveu mais uma vez segui-la a caminho de casa. Despediu-se de Lisly e fingiu que ia para sua casa. Deixou que ela se afastasse uns cem metros, só então começou a segui-la.
Lisly já quase convencida de que não se tornaria mortal, seguiu a passos lentos em direção ao lago do bosque. Naquela tarde nublada ela sentou à margem do lago, ainda na expectativa da presença de Levi. Restando apenas alguns minutos para sua partida resolveu desfrutar de sua presença no mundo mortal...
Após uma discreta perseguição, Levi chegou ao bosque onde Lisly preparava-se para desfrutar pela última vez da água fria do lago. Sem deixar-se perceber apreensivamente apreciava a cena que observava encantado... Lisly pensativa decidiu entrar naquele lago... Lentamente retirou a fivela que prendia seus lindos cabelos castanhos... Sentou na relva e retirou as sandálias, recordando a encenação que fez para aproximar-se de Levi... Com suas delicadas mãos segurou a bainha da blusa de malha transpondo-a acima dos ombros, depois da cabeça... Até que aquela blusa não vestia mais seu corpo... E um sutil e indiscreto raio de sol, que conseguiu transpor as nuvens daquela tarde nublada, permitiu que se destacasse a beleza de seus belíssimos seios... Levantou-se lentamente, desabotoou a fivela prateada do cinto de couro... Soltou o botão da saia jeans e desprendeu o zíper deixando-a cair sobre a relva.
Levi encantado com tanta beleza, estático não conseguiu perceber nada além do que via. Lisly caminhou em direção ao lago... Com o nível da água a altura dos joelhos, mergulhou as mãos no lago e molhou o rosto, em seguida desprendeu-se em um sublime mergulho de corpo inteiro. Retornou a margem aquela deusa, com perfeita harmonia em suas formas, e os tímidos raios de sol refletiam o tom prateado daquele corpo semi nu. Mas seu tempo chegou ao fim, e erguendo os braços sussurrou algumas palavras... Subitamente o nevoeiro se dispersou e surgiu o arco-íris, Lisly olhou em volta a procura de Levi, mas não o encontrou... Lágrimas umedeceram seus olhos... Um suspiro... E levitando seguiu o arco-íris...
Vendo aquela cena, Levi saiu de onde estava... Correu em direção ao lago intencionando interromper o que via... Tarde demais... Lisly já havia partido.
- Lisly... Volte...
- Lisly... Lisly...
Insistentemente e em vão sussurrou Levi com enorme pezar travando-lhe a voz, e por alguns instantes permaneceu inerte e contemplativo com o olhar úmido e fixo no arco-íris que aos poucos se desfazia.
Levi caminhou até a margem do lago, apanhou a fivela, a blusa e a saia de Lisly pensando em tê-las como recordação, mas ao tocá-las converteram-se em luzes cintilantes e seguiram para o infinito.
(continua)