Sangue de Dragão - Cap. 27

--- Inocência Perigosa ---

A noite caía em Menizaia e as tropas estavam todas preparadas para a ação. Hoje o exército do norte estava prestes a realizar uma manobra total, enviando todo seu contingente para atacar as forças inimigas. O ataque será realizado em três frentes, conforme plano estabelecido pelo General Aldus e seus principais oficiais. Seria a primeira investida noturna.

O dia não fora escolhido por acaso. A noite seria de total escuridão, devido a um eclipse lunar já esperado pelas tropas. A falta de luminosidade lunar daria uma vantagem a mais para os grupos de ataque e facilitaria sua aproximação.

O capitão Farmenis, líder dos pelotões de magos controladores, realizava sua última reunião antes de iniciar os ataques. Quatro pelotões foram criados, num total de vinte e oito magos e seus respectivos sangue de dragão, que seriam enviados para os quatro fortes tomados pelas forças inimigas.

---- Para que nossa missão tenha êxito é imprescindível que saibamos mesclar dois fatores: rapidez e defesa. Quando chegar a hora, ativem seus sangue de dragão e se preparem para defendê-los à distância usando seus respectivos elementos. Sem isso eles poderão ser facilmente abatidos, pois muitos de nós já sabemos das capacidades das bestas da floresta.

---- Mas teremos uma excelente vantagem comandante --- falou um dos magos ---- já que a escuridão gerada pelo eclipse nos deixará mais difíceis de ser percebidos. Alem domais, os sangue de dragão possuem boa visão noturna.

---- Nem tanto assim Liandhor --- disse Farmenis ---- No lado dos inimigos existem os malditos elfos, que também possuem boa visão, e as patrulhas de centauros estão acompanhadas por lobos que podem farejar presença inimiga ao longe.

---- Então a investida será mais difícil do que imaginamos. Enfrentaremos um exército que pode nos detectar facilmente e já estará preparado para nós --- falou outro mago.

---- Foi para isso que uma companhia de arqueiros foi chamada para cá. Eles darão o primeiro combate com uma carga de flechas explosivas. --- explicou Farmenis.

---- Mas comandante, os arqueiros não terão visão precisa para atirar as flechas.

---- Não importa. O objetivo será desbaratar as tropas inimigas e gerar confusão nos sentidos daqueles que podem nos detectar.

---- Entendi perfeitamente senhor. Um excelente plano.

---- Espero que todos tenham entendido as determinações. Na hora do combate procurem se concentrar ao máximo para controlar as ações dos seus sangue de dragão, ao mesmo tempo em que os protege com suas magias elementais. Será uma tarefa difícil, mas conto com vocês. Entenderam?

---- Sim senhor! --- responderam todos.

---- Ótimo. Agora retornem para suas barracas e se preparem. As tropas avançarão daqui a duas horas, quando a lua começar a ser encoberta. Dispensados.

Enquanto isso, Orogi se encontrava em sua barraca. Mais uma vez recebeu a proibição do mestre Farmenis de não sair até segunda ordem. Seus ferimentos, gerados no último confronto, já estavam totalmente curados. Os magos curadores trabalharam duro na recuperação do seu corpo e dos demais sangue de dragão.

Apesar de se verem no acampamento diariamente, os sangue de dragão eram proibidos de se falarem, de entrarem em contato. Orogi não ousou perguntar o porquê dessa proibição ao mestre Farmenis por medo de sofrer uma repreensão dura por questionar suas ordens. Assim, ele via vários garotos e garotas, todos com aproximadamente sua idade, com expressões tristes, cheias de confusão e medo. Era como se olhar num espelho, e isso aumentava ainda mais sua tristeza.

A teimosia também fazia parte da personalidade de Orogi. A primeira vez que tentou uma aproximação com os outros sangue de dragão, foi seriamente repreendido pelo mestre Farmenis. Foi desta forma que chegou a conhecer, pelo menos dizer um oi, a Ymara e Pulma. Depois desse dia só trocaram olhares e pequenos sorrisos.

Orogi não suportou mais está consigo mesmo. Seus pensamentos não paravam de trabalhar e, não agüentando mais a impaciência crescente, resolveu se esgueirar pelo lado de fora, no intuito de entrar na primeira barraca que encontrasse. A vontade de falar com alguém, de fugir daquela solidão, era maior do que o medo de ser pego por algum mago.

Procurando não ser visto, Orogi conseguiu alcançar uma barraca. Sabia que tinha alguém, pois estava iluminada e um única silhueta indicava que a pessoa lá dentro estava só. Seria outro garoto ou um dos soldados? Resolveu dar uma olhadinha antes, afastando a lona.

Era uma menina e estava de costas. Pela cor do cabelo, um loiro acentuado, sabia que era Ymara. Tivera sorte em entrar logo na barraca dela. Entrou silenciosamente.

---- Ymara.

A garota deu um salto e olhou para trás assustada. Seus olhos espantados. Pensou em gritar, mas desistiu quando reconheceu aquele intruso.

---- Orogi? O que está fazendo aqui? Você é louco? --- Ymara tinha razão em achar aquilo uma loucura por parte de Orogi. Se fossem pegos ali, conversando, seriam severamente punidos.

---- Eu sei que não devia estar aqui. É que lá na minha barraca estava uma solidão só --- Orogi deu um sorrisinho ---- Eu não agüento mais tanto silêncio. Preciso falar com alguém, sabe.

---- Eu também sinto falta de conversar --- disse Ymara ---- Espero que essa guerra termine logo para podermos retornar para casa. Tenho saudades do abrigo do senhor Albert. Deixei muitos amigos lá.

---- Abrigo? --- perguntou Orogi.

---- Sim. Eu fui criada num orfanato depois que meus pais me deixaram lá para realizarem uma viagem a serviço do Rei.

---- O seu mestre vai te deixar voltar pra lá? --- Para Orogi os sangue de dragão sempre serviriam à ordem.

---- Meu mestre disse que depois que eu ajudasse o nosso rei a ganhar essa guerra contra os monstros da floresta, eu poderei voltar para o abrigo do senhor Albert.

---- Você não tem medo da guerra? Ouvir dizer que os sangue de dragão, como nós, as vezes....é....morrem nessas batalhas.

---- Não acredito nisso --- disse Ymara com um sorriso ---- Os magos irão nos proteger. Eles nos amam.

Orogi gostaria muito de acreditar naquelas palavras. Mas algo dentro dele dizia o contrário.

MiloSantos
Enviado por MiloSantos em 01/02/2011
Código do texto: T2764633
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