A GOTINHA DE CHUVA
A G O T I N H A D E C H U V A
- Mikailnikova, o que é isso, menina?
Ela está correndo para onde? De quem? Por quê? Para que?
A velocidade é altíssima, principalmente para ela que não está acostumada. No começo a descida era na vertical, mas de repente o vento bate em sua bundinha mudando a direção para inclinada. Com o vento a velocidade de descida diminuiu um pouco, mas ainda continua alta.
Silvaninha, sua coleguinha da direita rodopia sobre si mesma, porém continua junto dela na desenfreada descida. Já a coleguinha da esquerda, Sonely, parece que nem se importa com o que está acontecendo, roda, vira de ponta cabeça e não está nem aí. Mas afinal nenhuma delas na realidade sabe como, quando, por que, e o que está acontecendo.
Muito vagamente ela se lembra de estar nadando num oceano verde, de ondas tranqüilas, que vão para lá e para cá, sem nunca chegar a lugar algum. Nadando juntamente com suas coleguinhas, não Silvaninha e nem Sonely, mas Jaquelline, com dois “éles”, Joaninha e outras que ela nem sabia o nome. E sem mais nem menos apareceu aquele sol abrasador, queimando, empurrando elas para os lados e para cima, e pluft...! Ela se soltou do oceano e precipitou-se para um céu imenso, todo azul, lindo de morrer.
Viu-se subindo, subindo sem mais parar, o que é pior sozinha, ninguém à frente ou atrás, nem à direita ou à esquerda. Nem sabe, parece que vagou pôr horas, dias, talvez semanas até que se juntou as outras gotinhas estranhas, magrinhas, fraquinhas e feiínhas; e pôr falar em magrinhas ela se olhou no reflexo do sol e se assustou, pois também estava magrinha e horrorozinha.
Ao se juntar as outras gotinhas foi engordando, ficando forte, bonitinha, tanto ela como suas vizinhas, visto que a união faz a força, e daí a pouco já era uma nuvenzinha meio capenga. Juntaram-se a elas também a Silvaninha, Sonely, Jaquelline, com dois “éles”, Joaninha e milhares de outras gotinhas, no se que tornaram aquela nuvenzona escura, carregada e desejada pelos homens lá da terra. Esta nuvenzona vagou e vagou, e vagou um pouco mais, debaixo daquele solão abrasador, e deu no que deu, teve que chover.
A razão daquela descida desenfreada foi este ato estranho de chover, mas vá lá, ela estava na chuva e quem está na chuva é para se molhar.
Pois bem, desceu tanto que bateu de encontro a uma pedra, rolou um pouco e caiu no barro, se perdeu de vez, daquelas amiguinhas conhecidas nem sombra, mas não faz mal, em cima, embaixo, e dos lados tem outras gotinhas, também coleguinhas, que como ela dão risadas; e continuam em direção ao seu destino.
(setembro/1984)