Carlina ao espelho
Ela pegou uns batons que estavam na gaveta, assim como uns panos da Índia que Aurélia deixara pendurados no cabideiro quando foi embora. Fiquei por uns instantes ali, olhando sua falicidade. Um tanto desajeitada ela tentava achar uma composição. Eu não percebi que estava ainda só de toalha quando o sorriso maldoso de Carlina me despiu. Neste momento, se ainda havia em mim alguma intensão de dá-la ao Abrigo, esta se escorreu completamente. Hesitei num pensamento que insistia em querer saber mais, pois havia uma convicção em mim de que se eu tentasse alguma conversa com ela tudo isto se desmoronaria e seria como se eu estivesse acordando de um sonho. Mas, o que fazer? O que desejar? Esperar somente o desenrolar dos fatos? Sempre fui um homem de atitude. Mesmo quando isto não redundava em vitória preferia arriscar do que esperar as coisas acontecerem. Mas nunca me achei diante de situação tão inusitada. E o ar fantástico que aquilo tudo suscitava não diminuía em nada a expectativa que crescia em mim; como geralmente ocorre quando saio com alguma garota que ainda não tenho muita intimidade.
No dia seguinte, logo pela manhã, tive a impressão de que tudo não passava de um sonho. Quando cheguei a cozinha e encontrei o café pronto, pão comprado, leite e um pedaço de queijo branco sobre a mesa. Carlina estava tentando retocar a maquilagem. Mudara a sombra verde para uma cor rosada. Baton suavemente lilás. Nas bochechas passara um pouco do mesmo baton. Delineou de preto os olhos e soltou os cabelos ruivos. Vestida numa camisolinha de cetim azul claro, tão sex, parecia mesmo uma linda mulher, aquela boneca...