Velho pensador ( O cérebro que cria, os cérebros que transformam)
Perguntaram ao escrevedor de sonhos, se todas aquelas personagens existiam mesmo. Ele levantou um pouco os olhos, largou o carvão com que escrevia na folha de papel de pão e, com as mãos escuras, pela fuligem daquele pedaço de tora queimada, tocou a pele daquela criatura, que nunca na vida ocupara seu cérebro, com alguma leitura adequadamente lírica.
- Está vendo, isso?
As digitais dos dedos escurecidos, pela textura fóssil daquele carvão, impregnaram a pele daquele ser incrédulo.
O perguntador arregalou os olhos, apavorado com uma possível manobra insana daquele pobre escrevedor dos delírios humanos.
- Não tenha medo meu jovem, aí está a prova de que mesmo não existindo mais, a madeira está na essência da ausência. É a lei da natureza, criação e transformação.
- Acho que entendi...
Voltando aos escritos, acomodando os papéis quase em desordem, com a interrupção de algumas lógicas, ele numa ternura incrível, balbuciou:
- Mais marcantes, serão os pensamentos que darão formas às minhas mais simples contemplações ilusionistas.
Em tempo:
Texto feito, após o recebimento de um e-mail, que questiona a origem de todos os meus propósitos literários. Não tenho o que dizer, afinal, o cérebro fica martelando tudo e, como eu não uso carvão, tenho que digitar e dividir com meus amigos, que delicadamente, num processo de criação coletiva, animam histórias e questionamentos em suas 'cacholas' maravilhosas. Obrigada, a cada um de vocês, por mover minhas personagens, num teatro fantástico por dentro da imaginação.
Cristina Jordano