‡ Dias de Luz ‡

Despencou o arrebol, e com ele, a negrume escuridão avassalava a cidade! Becos penumbrosos tomavam conta de cada partezinha daquele lugar, dando vida à suntuosa mátria treva. Sussurros, gritos e odes à escuridão, notar-se-ava por todos os cantos. Não havia mais lume, o sol não mais brilhava, a negridão era eterna e maçante. A bruma pálida encobria soberba os nacos qu´ainda podia-se observar! As bestas noctâmbulas, d´um lado a outro, meneavam iconstantes na busca sem fim, por suas presas fáceis e inertes. No céu, notara-se a formação de um intempérie grandiosa, a qual limparia a cidade de todos os males ali concebidos. Arthur e Marília, confundiam-se à penumbra com suas negras vestes em uma das avenidas da cidade. As pessoas estavam afoitas, eufóricas, desesperadas à procura de um canto alumiado, pois sabiam que ao cair d´escuridão, o mal apossava-se daquele esquecido lugar. - Amor! - chamou Marília ao seu amado. - Sim, meu bem! - Precisamos nos esconder, a escuridão se faz presente e em breve tomará toda a cidade. - Tenho uma ideia, meu amor! - respondeu Arthur, preciso. - Siga-me!

Os raios começavam a pintar em argenticérulo aquele céu negrume, e aos poucos, estrelas cadentes despencavam da pintura escura, queimando partes da cidade nostálgica e diluindo a carne humana ao pó, dos que estavam ali presentes.

Arthur, ornado à sabedoria majestática de su´amada Marília, tratou de correr, de mãos dadas à sua linda namorada, a fim de reclusarem-se em um santo lugar, a Sistina central, datada do período barroco, ornamentada em arcos góticos, anjos e gárgulas em seu ápice.

Alguém os aguardava por entre os relicários daquela sistina. O velho e tenro padre Benctus! Ministro maioral do papado, era uma espécie de mestre em que Arthur confiou boa parte de sua existência.Marília, com sua fúlvida melena escorrida por suas espáduas, olhar expressivo em tons jade, corpo esguio, meiga e apaixonante, adentrava à alma de seu amado, pois, sabia que algo de muito estranho estaria acontecendo com ele.

- Arthur, Marília, como têm passado? - cumprimentou padre Benctus ao casal.

- Benção padre. - respondeream ambos respeitosamente.

- Como bem sabem, o fim dos tempos está caindo sobre nossas cabeças, e vocês, os escolhidos, precisam unir-se matrimonialmente, para assim, colocarem um novo início às peças deste quebra-cabeças.

Mas Arthur não sentia-se bem. Sua pele descamava, seus lábios empalideciam ,seu olhar enegrecia e de suas costas asas com gárgulas nasciam. Benctus tratou de tomar seus apetrechos para o exorcismo, e su´amada, ali, apoiando-o sempre, continuava de mãos dadas, resfolegante, mas sempre atenta.

Tratou então em dar início à cerimônia daquele matrimônio juntamente com o exorcismo.

O mal realmente almejaria aquele ataque surpresa, para, dessa maneira, vencer a força da luz.

Arthur, moreno, um metro e oitenta, olhos mel d´um fogo estridente, lábios finos e cabelos escuros, possuía tamanha força espiritual que relutava contra aquela alquimia malévola. Guarnecido ainda pelo amor de Marília e também por seu lume etéreo, protegido sob os cuidados de Miguel; sua força chegava a estremecer as paredes antigas daquela sistina.

- Em nome do altíssimo, eu ordeno, saia desse corpo!! - ordenou o padre pressionando uma cruz argêntea ornada ao seu centro com um rubi ovalado, sobre o chacra frontal do rapaz, tentando expulsar o demônio possuidor do corpo de Arthur.

Um fluxo energético tremendo fez com que Benctus caísse por cima da mesa de mármore, a qual realizava suas liturgias aos seus párocos e por ali desvanecesse.

Marília ainda segurando firmemente a mão direita do seu namorado, conhecedora das artes mágicas, e da sabedoria ascencionada, puxou um pentagrama dourado guarnecido por suas cinco pontas em turmalinas negras lapidadas (pedra essa capaz de banir qualquer energia negativa) e cravou veemente ao peito de Arthur; fazendo com que a besta gritasse, esvaísse, contorcesse e aos poucos transformara-se em fumaça, juntando-se assim ao infinito. Ela sabia que se o demônio ali mantivesse presente, o reino da luz na terra poderia por se findar em questão de segundos.

Arthur, em sinal de agradecimento, caiu prostrado aos pés de su´amada, plangendo lágrimas d´emoção e dor.

Marília gotejava lágrimas salgadas de sofreguidão e lamentação, pois sabia que sua atitude em livrar o seu amado do mal, causaria-lhe um dano: a morte física de Arthur, pois, aquele artefato de cinco pontas, além de ser um talismã poderosíssimo, era revestido em prata puríssima de gumes afiadíssimos, capazes de atravessar o coração guerreiro do rapaz.

Ela abaixou-se devota, gritando e abraçando-o com ardor e veemência. Arthur, lânguido, espasmódico, olhou-a profundamente em seus verdes olhos e disse-lhe em tom trêmulo e resfolegante:

- Amada, tomou a correta decisão, livrou-me não só do mal mas também libertou toda a vida deste parvo planeta. Perdoa-me por não ter vigiado as mias costas, eles apossaram-se de mim., mas tu, regaste a nossa planta maioral, regaste o nosso Amor com unhas e dentes, defloraste as pétalas da besta com sua fé e regozijo d´amante. Tua luz é a mia luz, mia luz é a nossa luz. A partir de agora, mia Rainha, acompanhar-te-ei por esse traçado de sua vida, por esse seu novo processo como sendo o teu santo anjo guardião. A luz me chama e eu, clamo-te! Clamo para que longe daqui, conceba à luz ao nosso primogênito, este o qual carregas há três meses em seu mátrio ventre.

Sim, Marília, grávida, abraçava-o carinhosamente. Padre Benctus, retomando à realidade, abençoou-os por aquele lânguido momento, cessando de uma vez por todas a maldição mundana. O matrimônio das almas fôra finalmente findado!

As lágrimas intermitentes da moça adentravam-se aos poros de Arthur, transparecendo assim, em luzidos raios doirados, um lume excessivamente cegante, o qual queimara todas as hidras que por ali ainda faziam-se presentes.

- Amor, Arthur! - clamou a amada - Por toda mia vida lhe amei e por toda a além vida haverei em lhe amar e respeitar-lhe pela pessoa e ser que és. Guarneço-te cá pelo poder do triângulo, pelo poder maioral das forças da mãe maior, pelas bençãos das ordens supremas do eterno; guarneço-te ao lume colossal de meu lume, imbuído em meu coração, lume este que se traduz tão somente em amor e devoção. Toma, pega esta rosácea rubra, leve-a consigo para seu caminho resplandescente, pois, faço parte dele, sou essa luz a qual o acompanhará e o olor perfumoso dessa planta a lhe emanar. Sei que mia jornada continua com nossa filha, e dela, partirei para contigo no momento exato de nossa suprema ascensão. Vá em paz meu Rei! - despediu-se tenramente beijando seus dois olhos num ato de amor, respeito e carinho.

Raios de matizes doiradas e violetas brotaram do âmago da capela onde os ascencionados, aos poucos, separavam o ser de luz de Arthur de seu corpo físico. Um dos mestres reverenciou Marília que nada mais era do que uma das mestras maiorais dos sete raios, encarnada na terra, a fim de trazer a ordem, a paz e o Amor maioral das alturas, ao todo!

Benctus prostrou-se diante da luz suprema e de Marília, acenou a Arthur e rezou para o seu deus, agradecendo àquele momento de dádivas alumiadas.

O negrume do céu finalmente dava brechas aos raios resplandecedores do astro-rei, alguns sobreviventes davam o ar da graça, animais deixavam suas tocas e a luz de Marília reberverava ao mundo.

Os seis meses passaram-se e finalmente ela concebera a - Raio de Sol - nome dado à sua iluminada filha a qual o espírito fora realmente concebido em seu útero no dia da passagem de Arthur às esferas superiores.

E assim, a terra gerou uma nova ordem, uma nova era onde a luz, paz, humanidade e o Amor, fizeram parte por centenas de anos.

O reencontro de ambos (Arthur e Marília) fora promovido após uma sucessão de mudanças emanadas ao planeta, tanto no campo físico quanto no astral. Seus orbes rútilos podiam ser vistos da terra - duas estrelas unidas, fundidas, as mais brilhantes de todo o negrume universo, as quais indicavam o caminho portentoso de Raio de Sol, a primogênita sucessora da grandiosa irmandade pela qual o casal fazia parte, à ascensão. Sua missão agora era unir ainda mais os humanos e pregar toda a honra amorosa a qual jorrava de seu coração bondoso e iluminado: os Corações fundidos entre Arthur e Marília!

Paz profunda a todos os seres...

‡Ånjo Sidéreo‡

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Tiago Tzepesch
Enviado por Tiago Tzepesch em 10/01/2011
Reeditado em 14/03/2012
Código do texto: T2720021
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