Duas irmães

Era uma vez, de uma longíncua Região da África, vivia uma linda, bondosa e forte princesa, muito querida e amada por sua família e pelo

seu povo. Mas, como dessas coisas que não se pode esperar nem prever, foi violentamente sequestrada por exploradores portugueses que iram levar aquele povo para um País distante do seu Lar.

Se povo bravo lutou até a última gota de sangue; foi praticamente dizimado.

No percurso adoeceu, foi abusada de todas as formas possíveis, viu o resto dos seus companheiros morrerem aos poucos, de doenças, de desgosto, de maltratos.

Sobreviveu, apesar de tudo. Algo nela queria morrer...mas, algo nela contraditoriamente sabia que tinha que viver por alguma razão.

Foi trabalhar em uma fazenda no interior de Minas. Foi babá de uma Sinhazinha. De início, eram muito desconfiadas uma da outra.

Mas, aos poucos, foram se afeiçoando uma à outra. Aprendeu a lingua portuguesa com a Sinhazinha. E a Sinhazinha, aprendia a sabedoria da vida, ouvia as fábulosas estórias daquela terra longe, mágica, feliz.

Um dia, a Sinhazinha casou com o marido que a família arranjara. Conseguiu, por conta das suas súplicas, levar consigo aquela que a havia cuidado com muito carinho e amor ao longo da sua vida.

Eram amigas, mas, o marido da Sinhazinha olhava sua cuidadora de um jeito estranho...ela se esquivava como podia, até que um dia, não teve jeito, ele a forçou fazer coisas que arruinou sua alma, quebrou seu coração. Não conseguia olhar nos olhos da Sinhazinha de tanta vergonha, dor e culpa.

Os dias se passaram, e o marido sempre em sua espreita. Até que tentou de novo; nesse dia, a Princesa que se encontrava com um facão para sua própria proteção, não suportou e antes que ele pudesse tentar algo, enfiou a faca em seu próprio pescoço.

A Sinhazinha ficou muito triste e desconsolada. Sim, desconfiava de seu marido. Ele não era flor que se cheirasse, mas ela, em sua vulnerável situação, sentia-se impotente. Foi forte o quanto pode.

No nascimento do seu primeiro filho, não aguentou as dores do parto, e como são os milagres da vida, seu filho nasceu.

E dessa família, nasceram os filhos dos filhos dos filhos, e em uma das gerações, nasceram duas irmães: Maria e Júlia.

Uma era saudável e a outra tinha uma sindrome que lhe limitava em diversas capacidades. Maria sabia que tinha que cuidar de sua irmã para sempre, mesmo que sempre procurasse fugir dessa realidade.

E Júlia amava aquela rebelde irmã, mesmo sabendo que esta vivia sua vida de uma forma egocentrica e alheia.

Um dia, Maria caiu em si e viu que Júlia era sua querida irmã e a quem deveria proteger e cuidar a vida toda, principalmente, na ida dos queridos pais.

Se deveria abdicar da sua vida pessoal, social e até quiçá da profissional, era um risco que deveria de correr, porque era uma das missões que Deus havia lhe reservado.

E uma coisa, ela não sabia e que iria mudar toda sua vida: ela era a Sinhazinha e sua irmã era a Princesa que tanto se amavam.

E outro fato desconhecia e que era muito significante em sua vida: não era ela que ensinava à sua irmã, mas, sim esta, na sua simplicidade, bondade, sabedoria e fé.