O Décimo Terceiro Ancião - Parte I: A Profecia - Prólogo

1

Chovia e trovejava muito. A lua cheia, imponente, era a única luz no céu. Não havia estrelas naquela noite. As tochas das torres da fortaleza de Cronemyn permaneciam acesas. Algo importante estava acontecendo. Um homem barbado de cabelos curtos e grisalhos, montado num cavalo, deixou fortaleza, veloz como o vento, com um bebê nos braços. Ao se afastar do castelo, em seu encalço, três espíritos negros surgiram. Tentando impedir a viagem do cavaleiro, voavam em sua direção e machucavam seu cavalo, que, mesmo ferido, manteve seu percurso.

Irritado, o cavaleiro puxou um chicote de fogo, e começou a desferir golpes contra os espíritos, que desistiram de persegui-lo.

2

Dezessete anos mais tarde. Era a noite mais sombria do século. Parecia que as estrelas tinham se esquecido de brilhar. Uma frente fria poderosa assolava a terra de Srymon, de norte a sul. No Sudoeste Negro, as Terras Devastadas recebiam uma inesperada visita.

Das Colinas Âmbares surgiu um homem envolto em vestes escuras que ocultavam seu rosto. Montado num cavalo de pêlos tão negros quanto o céu naquela noite, cruzou aqueles campos inférteis até parar em frente a um imenso castelo rochoso: o Pico do Sangue. Após descer do cavalo, abriu uma imensa porta de rocha negra do Pico e entrou, fechando-a em seguida.

A quietude das Terras Devastadas permaneceu intacta. Não havia mais nenhum movimento, nem o sopro do vento era ouvido. Até que, das rochas, surgiu uma luz bruxuleante, seguida por um barulho colossal. Minutos depois, o homem encapuzado saiu do castelo e, montado novamente em seu cavalo, seguiu para o leste.

3

Na Cordilheira de Barryak, a poucos quilômetros do Pico do Sangue, onde funcionava uma escola de magia, os alunos já dormiam. Porém, um deles acordou após o barulho vindo do Pico do Sangue. Assustado, o jovem Éker correu para a janela natural da cordilheira e observou as Terras Devastadas. Da fortaleza rochosa, saiu uma silhueta. Carregava consigo uma espécie de livro.

Desesperado, o jovem mago correu até os aposentos do mestre da escola de magia da cordilheira.

- Acorde, mestre Burz! Acorde!

O velho mago levantou-se atônito e, ainda sonolento, bradou:

- O que houve, Éker! Por que tanto desespero, garoto?

- Ele escapou! Ele escapou!

- Quem?

- Eu vi! Eu vi!

Éker suava frio, até que Burz segurou seus ombros e sacudiu-o. Nervoso, gritou:

- Acalme-se! E diga de uma vez por todas quem escapou?

- Solrac, mestre. Solrac.

4

Amanheceu. No Lago Sagrado, localizado no aconchegante Bosque de Griatham, o jovem Teran, príncipe da província de Cronemyn, banhava-se. Seus cabelos e olhos claros reluziam a luz vespertina do sol. Junto dele estava sua noiva, Jel, princesa da província de Laginhantom. Os dois haviam se casado algumas semanas antes, e estavam muito apaixonados um pelo outro. Divertiam-se nas águas do lago, sem perceber a presença de um misterioso observador: o cavaleiro encapuzado que visitara o Pico do Sangue na noite anterior.

- Teran, já está na hora do desjejum. Acho melhor sairmos um pouco da água.

- Vá até a margem e prepare a comida. Vou dar meu último mergulho.

O príncipe mergulhou profundamente, enquanto sua noiva colocava frutas e pães sobre uma toalha branca. Ao voltar à superfície, Teran deparou-se com Jel presa a uma árvore pelo braço, gritando.

- Jel! O que houve? Estou indo! - Quando estava pondo o primeiro pé em terra firme, o cavaleiro encapuzado surgiu do meio das árvores e começou a enforcá-lo.

- Você me incomodou demais, Teran de Cronemyn. Não há mais como escapar. Você não irá me destronar! Desta vez conseguirei o que sempre quis!

- Quem... Quem... Quem é vo... Quem é você? - Teran indagou com dificuldade.

- Alguém que se incomoda com o seu respirar! - O cavaleiro afogou o jovem príncipe e desapareceu.

Jel gritava enlouquecida pelo amado, até que rompeu a corda que prendia sua mão à árvore e foi em direção ao cadáver. A castidade do Lago Sagrado fora manchada com sangue inocente, por motivos até então desconhecidos.

Gabriel Léccas
Enviado por Gabriel Léccas em 28/12/2010
Código do texto: T2695266
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