Mortinha por ontem ...
Tudo no sentido retrógrado, contrariando o tempo, o esquecimento. Ao som da musica, brindamos ao silencio, ao relento que é só nosso. O beijo e o abraço traduzidos num só.
E lá fora tudo continua igual... tudo reduzido à figura abstracta, como telhados semeados de pássaros esvoaçantes. E eu, tu e a nuvem negra que toldou a luz do dia.
Gotas d'água escorreram desse toldo, nem tu... nem eu ... só nós... e a chuva que não pára ... e a dança também não... a magia sim. Um rastro de realidade devolvido pelo vento define a linha ténue! Esvoaça a dança, aninham-se os pássaros. São beirais os telhados, semeia-se o querer!
Muito baixinho deslizo para uma imobilidade sem retorno;
aguardo ansiosa, não sei se o telefone ... quando souber digo!
E um carro parado, de cor azul, azul da cor do pó que a chuva lavou, continua parado … as janelas inertes, persianas corridas, meio abertas… meio fechadas, ou talvez não! Tem cor o pó? – É azul, azul da cor do pó… e o relento também. Digo eu num diálogo a duas sombras… eu e tu e nós também e o vizinho do lado que chora baixinho, porque ela não volta.
Que temos nós a ver com isso? Eu também não, mas apeteceu-me, simplesmente porque sei lá…
É no ontem que vamos colher os momentos semeados e continuamos a dizer até amanhã, até logo, até depois e nunca até ontem… porque um amo-te implica um eu também… porque sim, repito eu: porque sim…
E continuo por aí, desabitada de olhares vagos, recolhendo beijos deixados no tempo, prendendo abraços mesmo assim …
…na minha qualidade de imagem desenhada de irreal, que dedos tocam ao sabor da imaginação, é nesses afectos que me perco e encontro, para voltar a sumir diluída no fumo das palavras queimadas… que o pensamento queimou.
Transfiro-me definitivamente para o lado de acolá, sem nada a declarar. E em papel timbrado registo o abraço igual ao timbre, para que seja eterno enquanto dure … falo do abraço!