O vilarejo chinês

Conta-se que, em certa época da China feudal, existia um próspero vilarejo nas cercanias do Himalaia, região muito fria no inverno, porém ideal para a agricultura nas outras estações do ano. Os habitantes dessa região eram dotados de grande alegria e força para trabalhar, possuindo, em sua maioria, boas condições de vida, graças à renda proporcionada pela venda de chás. Contudo, nem sempre era época de fartura, sendo necessário estocar ervas e alimentos para passar o rigoroso inverno.

Devido a este fato, foi criada uma curiosa festa denominada “Festa das Luzes”, tendo o objetivo de aquecer as casas e corações dos habitantes durante o período das nevascas e de desejar uma boa colheita na primavera que logo viria. Existia também uma tradição, que era a de, supostamente, premiar a pessoa mais bondosa e honesta do vilarejo com uma grande lanterna azul, que pendurada em sua casa, irradiaria luz a todas as casas do vilarejo, protegendo seus habitantes do frio intenso e da maldade dos homens.

Durante certa festividade, algo inusitado ocorreu. Tudo estava pronto para começar, as casas estavam decoradas com lanternas brancas, que seriam acesas após a entrega da grande lanterna azul ao senhor feudal, como de praxe. Todos estavam reunidos ao redor do palácio, esperando a volta do senhor, que havia partido em uma caçada pelos arredores do vilarejo. No entanto, o mesmo havia ficado preso na grande nevasca, estando quase inconsciente, porém clamando por socorro com todas as suas forças. Por sorte, um homem bem idoso e de semblante sereno que por ali passava o viu, e o retirou da neve. Quando acordou, o senhor feudal contou ao velho o que se passara, e este o levou até o vilarejo. O senhor ofereceu-lhe incontáveis riquezas como recompensa, porém este não aceitou, dizendo que queria apenas que a lanterna azul fosse entregue ao mendigo dali, fazendo jus à tradição.

De volta à cidade, o senhor foi recebido com muita alegria, porém aquelas palavras do velho ainda permaneciam em sua cabeça. Inconformado e com raiva, porém obediente a sua promessa, resolveu entregar a grande lanterna ao mendigo. O vilarejo inteiro se assustou diante do pronunciamento, e uma enorme multidão se aglomerou em torno do mendigo. Este, muito gentil e humilde, ao ver o senhor carregando a lanterna em sua direção o elogiou, dizendo que a mesma era muito bonita e que, só um coração bom como o do senhor a merecia. O senhor, com ainda mais ciúmes, entregou a lanterna nos braços do mendigo, sem dizer uma palavra, somente olhando-o profundamente dentro dos olhos. Percebeu então, um enorme brilho azul que se irradiava de dentro deles. Assustado, recuou, e o mendigo, percebendo a raiva contida naquele conturbado coração, o devolveu a lanterna, agradecendo-o com solene respeito e dizendo que aquela lanterna seria mais útil a ele, pois toda a luz e o calor que precisava já obtivera do coração do próprio senhor e das pessoas bondosas daquela vila.

Lucp
Enviado por Lucp em 15/12/2010
Reeditado em 15/12/2010
Código do texto: T2673738
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