Poeira Vermelha -Crônica do Sol-

PRINCÍPIO?

Não queria estar ali, não sabia onde era ali, simplesmente estava.

O céu havia girado sobre sua cabeça, tomando uma cor, assim, de roxo para rosa, de rosa para salmão, daí para branco mas lá no fim, no horizonte, havia um brilho azul, escuro, macabro...

CAMINHO?

A estrada que seguia a pé voltando da escola, que relutantemente frequentava, passou de paralelepípedos cinzas marcados de terra, para um chão de poeira vermelha, por cima do gramado verde, que parecia deslizar como areias em uma duna, sopradas pelo vento.

Não era aquela estrada, seu caminho para casa.

Deveria voltar para casa antes do almoço, mas a surra por se atrasar não o preoucupava naquele momento, na verdade nem pensara em seu pai.

Afinal, onde estava? Lembra de ter ouvido uma voz, uma doce voz, e uma pergunta, ao qual respondeu sim. Lembra do céu girando, da fita que amarrava seus livros e cadernos que, tão sofridamente seu pai havia comprado, desamarrar e espalhar folhas rabiscadas ao vento...

LUGAR?

Sentia a poeira escorrer por baixo da botinha surrada e de segunda mão, uma alça de seu suspensório pendia pro lado, rompida á esquerda, onde havia uma tentativa de remendo em sua camisa. Seu pai nunca fora grande costureiro.

Olhou em volta.Sentia como se tivesse acabado de descer de um trem, na estação errada.

Era tudo muito estranho, estava em um campo aberto, ao longe algumas colinas, tudo muito verde, cortado ao meio por uma estrada feita de poeira vermelha, que corria como um rio.Poucas árvores do tamanho de arbustos com folhas que alternavam cores entre verde claro, bege e marrom, muitas folhas ao chão.

Talvez fosse outono.

MOLDADOR?

Até então não havia sentido a falta de seu chapéu marrom, que protegia sua cabeça do Sol, durante a dura caminhada voltando da escola.Olhou em volta de novo, nada de chapéu, nada de nada.

Abaixou-se e pegou, até mesmo de forma involuntária e receiosa, um pouco da poeira vermelha que escorria pela grama verde e fresca.

Olhou para o céu, e percebeu que mesmo estando à luz do dia, não havia Sol naquele céu, as poucas nuvens não eram capazes de cobri-lo, não havia Sol ali. Então ele desejou, em pensamento e sem nenhuma palavra, um Sol. Sim o Sol, desejou um motivo para usar o chapéu que não se encontrava mais com ele.

Nesse momento a poeira ferveu em sua mão, mas ele não sentiu queimar. E a poeira escorreu entre seus, e se pareceu com a névoa das manhas frias.

E se juntou com a outra poeira que corria. Começou a tomar forma.

E menino, que observava aquilo deslumbrado, de repente voltou sua atenção para uma ave enorme voando baixo e gritando:"O moldador, ele voltou!"