Mortinha por transgredir ...

Indiferente a quantas quadras, tercetos, sílabas métricas um soneto deve conter, cuidei em não ser um hiato e em rima interpolada, salvei um sorriso de morrer de morte lenta. Desarrumei o destino e para onde me dirigi, aguardava-me o som de um violino. A melodia em forma de choro, ameno, embriagou-me e elevou-me para além de aqui. Desentendida na identidade que adquiri, fiz dela o meu ponto de fuga e jurei que sendo outra viveria o máximo, antes de regressar a mim.

Parti por aí sem bagagem, despi-me do luto, ignorei mares navegados, fui a tela de um pintor, fui aluna e professor, esqueci os pudores, pisei o risco, sai da linha, delirei em contramão, amassei o pão que o diabo comeu. Fui louca muito louca, corri contra as horas, à meia-noite não sabia de mim. Mas confesso que vivi!

Só que um soneto tem regras fundamentais, não se compadece da competência de quem avalia. Não se afoga uma moeda, no bar da esquina para apagar a mágoa que o silêncio ditou.

Em pleno encontro comigo sinto-me dividida. Divago pela noite . Um dia volto, não sei

quando voltarei. Senti, sinto e sentirei... que para poder um dia voltar, não posso ser o espelho de mim e vou continuar por aqui.

Não quero tornar-me coisa nenhuma…

Como quem pede desculpa, por não estar aqui, não me afasto e vou para o lado oposto ao da desculpa que não pedi!

Paula de Eloy
Enviado por Paula de Eloy em 08/12/2010
Código do texto: T2660364