Um milagre sobre a lente (1° Capítulo)

“Só enquanto caminhamos, notamos o quão frágil podem vir a ser os nossos sonhos, onde em meio as nossas lutas, muitos acabam se perdendo no caminho, outros esquecidos e outros acabam não passando de sonhos e quando nos damos conta, já não existe caminho a nossa frente e mesmo assim, seguimos caminhamos, sem saber para onde ir… Mas basta um sinal, um algo trazido pelo acaso, para que o caminho volte a nossa frente, trazendo os nossos sonhos de volta e assim, nos permitindo seguir novamente”.

Caminhando com minha câmera de mão, busco na natureza, algo que me traga de volta a inspiração, algo que me traga novamente algum sentido nisso tudo. Fotografar sempre foi a minha vida e desde que o amor foi embora, parece que a minha vida foi junto, levando minhas imagens e lembranças com ele. É incrível como ao nos entregarmos a algo, nossa vida acaba se ligando a isso mais do que deveria sem que percebamos, como se apostássemos tudo o que temos e quando perdemos, percebemos que nada realmente tivemos em meio ao nada que nos restou e no meu caso, a lente foi o que me sobrou.

Sobre a lente, um senhor já idoso espalhando pedaços de pão sobre a praça, enquanto os pombos se aglomeram bicando cada migalha sobre o chão. Logo é possível ouvir o canto da andorinha, que levanta vôo buscando no horizonte a sua liberdade, enquanto um beija flor plana sobre o ar com suas pequenas asas, buscando de flor em flor uma brevidade de prazeres. Alguns sonhos tão distantes, outros tão perto e os meus assim, tão inconstantes.

Enquanto eu focava em cada momento, pude sentir um vulto passar por sobre a lente, me assustando e quebrando totalmente o meu foco. Me recompus, olhei de um lado para o outro, mas nada parecia ter passado a minha frente, por sorte, o susto me fez clicar e gravar a imagem e seja lá o que tenha sido, passou muito rápido, pois nem a minha câmera capaz de frisar o bater de asas de um beija flor, fora capaz de focá-lo, só o que ficou visível, foi uma espécie de asas brancas, o que indicava ser apenas um pássaro.

De repente, todos os pássaros ali presentes levantaram vôo, seguindo um só rumo, até pousarem sobre um chafariz no centro da praça, resultando numa linda imagem que eu não poderia deixar de gravar e ao focar a lente naquela direção, tive a maior das surpresas, onde através da lente, pude ver um rapaz de cabelos negros e pele clara sentado de costas para mim e o mais incrível, é que em suas costas, havia uma espécie de asas brancas… Achando aquilo uma loucura, voltei a olhar para ele sem a lente e ele desapareceu e ao focar novamente com a lente, lá estava ele… Um anjo.

Os pássaros pareciam gostar da sua presença, pois cantavam a sua volta e ninguém além deles e da minha lente pareciam poder enxergá-lo então, eu procurei me aproximar sem deixar que ele desconfiasse de algo. Usei a presença dos pássaros como o meu foco principal e enquanto focava minha lente sobre eles, eu podia vê-lo, tão lindo, até que parei e me sentei ao seu lado. Muitas coisas me vieram em mente, aquilo tudo parecia loucura e ao mesmo tempo tão real, um sonho eu diria, tão real quanto à luz do dia… Até que não agüentei mais e disse em tom baixo:

“Sei que está aqui entre nós”

(Versão para poste no recanto) - (Sujeito a mudanças)