Um milagre sobre a lente (2° Capítulo)

Minhas palavras, mesmo em tom baixo pareceram ecoar sobre a praça, espantando todos os pássaros ali presentes, que passaram a voar de forma desordenada em volta do chafariz e logo como se fossem me atacar, passaram a voar todos a minha volta, até que a minha câmera disparou o flash, fazendo-os se refugiarem sobre as árvores e quando o meu campo de visão novamente se abriu, eu o busquei com a minha lente e foi aí o meu desapontamento, ele já não estava mais ali ao meu lado então, desesperadamente eu o busquei em cada canto, mas não o encontrei.

Em meio a isso, olhei de um lado para o outro e vi todas as pessoas seguindo com suas vidas, andando pela praça; sorridentes, apaixonados e dispostos, como se nada pudesse afetá-los… Eu queria ser assim, ou pelo menos ter um momento assim, sem ter que pensar em nada, apenas seguir, confesso que isso me fez sentir um pouco tola. O acaso então mais uma vez se fez presente e por um breve momento, me fez acreditar em algo que talvez nunca tivesse existido e mais uma vez o impossível me fugiu, levando embora a minha inspiração e quase a minha sanidade… Essa ansiedade de superar o passado, acaba sempre fazendo eu me apegar demais aos momentos que o acaso me oferece… acho que é hora de eu seguir realmente, me deixar levar pelo tempo, sem medo de para onde ele possa me levar, desde que me leve adiante, pois eu sozinha não consigo mais. Levei as mãos até ás águas claras do chafariz para molhar o rosto, até que uma pena branca caiu flutuante até tocar os meus dedos… Não era uma pena comum, seu branco brilhava junto à luz e ela emanava um perfume de flores, quase que como um jardim inteiro numa única pena que parecia atrair os pássaros, onde logo pude ouvir o canto de um bem-te-vi sobre o meu ombro… Até que ao olhar por sobre a lente, fui guiado por um raio de sol, que me trouxe novamente a sua imagem, com um sorriso sereno a minha frente. Ele então estendeu as mãos, pegou a minha câmera e a deixou a beira do chafariz e assim, eu o perdi de vista novamente, até que uma voz doce sussurrou leve em meus ouvidos:

“Acredite”

Sua voz me calou fundo, envolveu minh’alma e eu então fechei os olhos, respirei fundo até poder ouvir o som da brisa balançar as folhas das árvores e beijar minha face. Logo o perfume de jardim se espalhou a minha volta, até se focar a minha frente, foi quando notei que era ele, eu podia notá-lo, senti-lo mesmo não o vendo, até que abri os meus olhos e lá estava ele, como uma luz que aos poucos foi ganhando forma, até eu poder novamente enxergar os seus traços.

“Um momento às vezes dura mais que um simples momento... Como se o tempo parasse e em meio ao êxtase, não quisesse passar e esse fora com certeza um desses momentos”.

Ele então me devolveu a câmera e ao olhar nos meus olhos, me trouxe respostas, ainda limitadas, mas respostas, onde me fez perceber que toda a minha fé, toda a minha vida, toda a minha essência estava escondida sobre a minha lente, que passou a ser o meu refúgio, isso por os meus olhos terem perdido a fé em meio a experiências frustradas e a câmera de alguma forma passou a ser o meu placebo ou a minha desculpa para seguir e agora, o meu caminho está de volta, eu já posso vê-lo a minha frente, um anjo me trouxe ele.

Existem tantas coisas que pairam sobre o ar e não sabemos explicar… Muitas delas passam despercebidas, muitas delas ignoramos e cada uma delas se encontra em cada momento de nossas vidas. Elas nos trazem sensações, que guiam nossos olhares a infinitos horizontes, nos fazendo sentir perdidos e dessa forma, acabamos tendo de nos focar em algum ponto qualquer para podermos seguir e foi num breve momento desses que eu o vi e finalmente eu me senti acompanhando a vida, que evolui e temos que evoluir junto a ela senão, viveremos vidas novas em meio aos mesmos erros, em meio às mesmas frustrações, em meio aos mesmos momentos que parecem não evoluir, assim como um relógio de ponteiro, que gira e gira sem parar se mantendo sempre no mesmo lugar.

Um anjo em minha vida, um milagre sobre a lente!

(sujeito a mudanças) - (Versão de poste para o recanto)